“Simppetra está entre os melhores simpósios do mundo mas falta-lhe divulgação”

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Escultura
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O Simpósio Internacional de Escultura em Pedra terminou, na semana passada, a 30 de Julho, com os seis escultores a apresentar ao público as obras que vão deixar para colocar no concelho.

Este ano os artistas da Alemanha, Letónia, Bulgária, Japão, França e Portugal trabalharam 36 toneladas de pedra nesta que foi a 13ª edição deste evento. Todos consideram a iniciativa entre as melhores do mundo não só pela organização como pelo ambiente que proporcionam, apesar de ter passado despercebido a nível da comunicação social nacional.

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Este ano surgiu a possibilidade de realizar um intercâmbio cultural entre o Centro de Artes e um Parque de Esculturas de Ar Livre da Letónia, que é gerido por um dos participantes.

Estou maravilhado com esta realização”. São palavras do governador civil, Paiva de Carvalho surpreendido com esta iniciativa do Centro de Artes que decorre há 24 anos e que ainda não tinha oportunidade de conhecer. O representante do governo no distrito é médico e ficou admirado com a capacidade de trabalho dos artistas que foram este ano seleccionados para fazer as obras que serão posteriormente colocadas na cidade e concelho das Caldas.

Ao todo, escultores de todo o mundo já trabalharam cerca de mil toneladas, transformadas em obras de arte e que estão colocadas na cidade e no concelho, bem como noutras regiões. O facto deste simpósio oferecer aos participantes seleccionados a possibilidade de trabalharem em mármore, granito e calcário “faz dele um simpósio de referência e considerado entre os melhores do mundo”, disse José Antunes, director do Centro de Artes.  Destacou igualmente o facto de ser dado aos autores vários locais disponíveis onde estes podem colocar as peças a criar.

O granito, a pedra mais dura e difícil de trabalhar foi a escolhida por dois autores, Filomena Almeida e pelo alemão Rainer Fest. O calcário veio da Serra de Aire e Candeeiros e houve três mármores que foram trabalhados e que são oriundos do Alentejo.

Este ano foi o ano mais concorrido de sempre”, explicou a vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira responsável pela organização relembrando que receberam 200 candidaturas de autores.

A autarca referiu-se com agrado ao grupo de escultores seleccionados e às propostas que estes apresentaram a concurso. “O grupo revelou grande maturidade profissional, funcionou bem e vão deixar-nos trabalhos de grande qualidade”, disse a vereadora acrescentando que as Caldas ficará enriquecida com as novas propostas, algumas delas equacionadas para locais como junto ao edifício do Badmington, nas imediações do  CCC e na Foz do Arelho.

O Simpósio de 2010 teve um orçamento de 40 mil euros e tal como é habitual a pedra que foi trabalhado foi  oferecida. “Contamos com patrocinadores que já são nossos amigos na Serra de Aire e Candeeiros e no Alentejo que nos oferecem a matéria prima”, contou a autarca.

Nesta 13ª edição surgiu ainda a hipótese “de se constituir, no próximo ano,  um intercâmbio cultural entre o Centro de Artes e o Parque de Escultura ao Ar livre que é gerido por Ojárs Feldbergs, o escultor da Letónia”, rematou Maria da Conceição Pereira.

“Escultores participantes são cidadãos das Caldas”

Presentes nesta cerimónia de encerramento estiveram muitos dos escultores que participaram nas anteriores edições do simpósio. Fernando Costa fez questão de salientar as suas presenças e de referir que os considera, sejam artistas portugueses ou estrangeiros, como “cidadãos caldenses”. Fá-lo de uma forma simbólica, não só aos que passados 20 anos regressam para conhecer as obras que agora se concretizam, sejam aqueles que agora partem e dão a conhecer o que se faz nas Caldas.

A grande vantagem deste simpósio é que ao fim de 24 anos ainda cá está, conseguiu continuar, apesar de já ter tido com altos e baixos”, disseram João Honório e Carlos Marques, dois dos escultores que integraram o primeiro grupo do Simpósio, há 24 anos.

Na opinião destes autores o Simppetra é “dos poucos eventos com continuidade neste pais que é tão carente ao nível da escultura”, afirmaram. Os autores aproveitaram a ocasião para relembrar a Bienal das Caldas – dedicado ao Desenho e à Escultura e como era uma realização aberta a todos os candidatos. “Depois passou a ser exclusivista, criaram-se barreiras entre as pessoas e o que é certo é que acabou e é uma pena”, comentaram os autores sobre um evento que alternava com a realização do simpósio e que se internacionalizou nos ano 90.

João Honório e Carlos Marques ainda referiram que a ideia que surgiu nas Caldas há alguns anos de se criar um parque de escultura ao ar livre não deveria cair pois a Simppetra está de vento em popa e esta era uma feliz ideia que poderia ser interessante para esta forma de expressão e para a própria cidade. “Mantemos uma forte ligação a este espaço pois trabalhámos com António Duarte e com João Fragoso e é sempre um prazer regressar às Caldas”, disseram. Os dois artistas salientaram o facto da autarquia caldense ter sido sempre receptiva aos projectos relacionados com a escultura.

No encerramento do Simpósio estiveram reunidos no Centro de Artes vários artistas contemporâneos portugueses, sobretudo escultores, muitos docentes das Belas Artes de Lisboa do Porto. Entre os convidados contou-se com Carlos Barreira, Carlos Marques, João Antero, Mário Moutinho, João Honório, José Esteves, Luís de Matos, Rui Matos e ainda Cristina Ataíde.

Estes artistas foram convidados por Antonino Mendes, autor ligado ao simpósio desde que este foi criado.

 

Intercâmbio cultural com a Letónia no próximo ano

“Participar em simpósios é para mim como umas férias. Trabalho arduamente mas deixo de lado os problemas do meu Parque de Esculturas ao Ar Livre na Letónia e posso assim dedicar-me apenas ao meu trabalho artístico. Na Letónia não tenho tempo para tal, passo a vida a organizar festivais, intercâmbios e simpósios.

Foi a primeira vez que estive em Portugal e nas Caldas e gostei muito. Neste Simppetra criei uma árvore em pedra pois é necessário chamar a atenção para a ecologia. Aqui iniciei uma nova série do meu trabalho, gostaria de continuar a esculpir árvores de pedra noutros países.

Além do meu trabalho como escultor também deixei uma “semente” (pedra) oriunda da Letónia que fui colocar no Cabo da Roca na companhia dos meus colegas escultores. Pretendo fazê-lo em mais países.

Sobre o Simpósio das Caldas gostei muito da organização e da inter-ajuda que se criou entre os escultores.

No meu parque de escultura, onde tenho 200 obras, gostaria de realizar exposições de autores de outros países.  A Letónia tornou-se independente em 1999 e não se conhece o trabalho dos escultores de outros países.

Já contactei com o Ministério da Cultura do meu pais e com as embaixadas e há  hipótese de estabelecer um acordo para o próximo ano para a realização de um Intercâmbio Cultural  entre o Centro de Artes e o meu parque de Escultura. Poderá ser uma iniciativa que abranja também outras formas de expressão para além da escultura. Poderá ser o início de um interessante intercâmbio entre autores dos dois países.

Quero viver até aos 100 anos e só me restam 37 para produzir trabalhos e a cada ano que passa, sinto-me mais novo!  Tenho a certeza que regressarei a Portugal”.

Ojárs Feldbergs – Letónia

Escultora búlgara participa em simpósios pelo mundo há 10 anos

“No ano passado já tinha atravessado Portugal  mas com esta participação no simpósio sinto como se fosse a primeira vez.

A ideia da minha obra prende-se com a ideia que eu fazia de Portugal. Quis abordar na minha peça  o oceano, o pôr do sol e o reflexo da luz na água. É este o meu projecto que apresenta ao visitante diferentes perspectivas quando este circunda a obra.

Gostei muito de cá estar, este é um simpósio bem organizado na minha perspectiva que já conto com várias participações no meu curriculum nos EUA, Suíça. Itália, Dinamarca, França Bulgária, Rússia Letónia, Alemanha  Suécia e Áustria, entre outros. Para isso tenho viajado imenso na última década.

Nas Caldas encontrei um simpósio bem organizado e com gente boa a tomar conta de nós. Creio que o Simppetra está entre os melhores simpósios do mundo.

Tenho a certeza que venho visitar para o ano, nem que seja apenas em férias”.

Liliya Pobornikova – Bulgária

Escultor alemão quer que a sua obra seja um local de encontro

“Já tinha visitado Portugal há cerca de uma década, em busca de grandes pedras que precisava para um projecto e que adquiri no Norte do país. Dedico-me apenas à escultura e vou por todo o mundo realizando o meu trabalho.

Este simpósio agradou-me pela  organização e por ter  gente disposta a ajudar no que precisámos.

A minha obra era apenas uma pedra de granito que transformei em duas. A de cima é a positiva onde há escadas num sentido ascendente. A segunda peça ficará enterrada no solo e tem um sentido negativo.

Para mim o mais importante é a forma e a reflexão sobre elas no espaço que são colocadas.

Tenho uma relação muito pessoal com a matéria. Quando estava a trabalhar no último degrau, já “debaixo” da terra –  como o meu colega japonês me dizia: “Estás a trabalhar no inferno”  – perdi um anel como se tivesse que dar algo em troca, como se eu tivesse que fazer um sacrifício em troca do resultado final. As peças exigiram um trabalho árduo da minha parte e agora espero que possam ficar num lugar onde as pessoas marquem para se encontrar.

Na verdade creio que quando há uma escultura por perto, ninguém se sente só”.

Rainer Fest -Alemanha

Simpósio é dos melhores mas falta-lhe promoção e divulgação

“A minha obra representa o símbolo do infinito e eu gostaria que esta ficasse

na área do Centro de Artes, num local onde as pessoas e as crianças lhe pudessem tocar e interagir com ela. Seria muito bom.

A peça que fiz para este simpósio marca uma nova série e uma viragem no meu trabalho.

Esta experiência em Portugal tem sido muito boa, visitámos Alcobaça e Batalha e deixei-me encantar pelos mosteiros. Muito bonitos de facto sobretudo o da Batalha, que tem uma dimensão humana e não como muito dos seus congéneres que simplesmente nos esmagam.

Viajei de França até Portugal de automóvel e estou a gostar.  Sou professor, o que nem sempre é fácil de coadunar com o meu trabalho artístico por isso nas férias do Verão dedico-me à realização das minhas próprias obras

Já participei em mais de 30 simpósios e também já organizei alguns e acho que este tem um óptimo nível. A organização é precisa e directa e mesmo sem assistentes, o que  prometeram, cumpriram. Fiquei bem impressionado com as condições de trabalho, as ferramentas e a atmosfera criada. Já fui a outros no sul da Europa em que o ambiente é fantástico mas as condições de trabalho nem por isso ou em contraponto no Sul da Coreia havia muito boa organização mas a atmosfera era dura, quase militar. Caldas da Rainha está nos topos dos simpósios pois consegue um bom equilíbrio entre ambiente, trabalho e organização foi quase perfeito. Tem aqui um bom centro com boas condições mas é uma pena que poucas pessoas o conhecem. Ao simpósio falta promoção e divulgação.

Creio que vou voltar mas gostaria de vir para trabalhar, não tenho tempo para turismo”.

Leonard Rachita (natural da Roménia) – França

Japonês chama a atenção para a necessidade da preservação do ambiente

“Esta foi a primeira vez que estive em Portugal e adorei a experiência.  Realizei um trabalho figurativo, uma rã, como símbolo da actual necessidade de preservação das espécies. Temos que ter consciência que é preciso proteger o planeta.

Nas minhas obras trabalho preferencialmente a pedra e algumas vezes também o ferro. Tenho preocupações como o ambiente e a preservação das espécies e temos que proteger o planeta.

Gostaria que a minha obra ficasse num espaço onde as crianças pudessem brincar e interagir com a própria peça.

Já estive noutros simpósios na Áustria, Canadá, Escócia e também em Taiwan, tendo assim a oportunidade de contactar com diferentes culturas.

Em Portugal fiz vários amigos, as pessoas são atenciosas para connosco, foi uma óptima experiência.. Espero poder regressar”.

Yoshio Yagy – Japão

“Participar no simpósio ajudou-me a decidir que queria ser escultora”

“Vejo com muitos bons olhos a continuidade deste evento. Contactei com o simpósio pela primeira vez quando ainda estudava na ESAD há 16 anos. Fui mais tarde convidada a ser assistente, pelo meu professor de então Antonino Mendes e tive a oportunidade de contactar com escultores de outros países, o que acabou por ser decisivo para me decidir a enveredar em definitivo pela escultura.

Já participei em vários simpósios na Europa e depois também já fui à Turquia e Dubai. Fiquei muito feliz por ter sido seleccionada para a 13ª edição como escultora. Em princípio a minha peça será colocada nas imediações do CCC e a minha ideia é que esta seja a representação de mais um palco onde pode ser vista outra forma de expressão artística. Há ainda a representação de uma cortina, o que pode representar as várias fases de um espectáculo, o início, o decorrer ou o fim.

Poder trabalhar o granito, o material mais exigente e contribuir para deixar uma obra na cidade onde me formei é de facto a cereja no topo do bolo”.

Filomena Almeida – Portugal

Vítor Reis leccionou escultura em paralelo ao Simpósio

Em paralelo ao Simppetra decorreu também no Centro de Artes um workshop de escultura em pedra coordenado por Vítor Reis, artista caldense formado na ESAD. Este autor que reúne experiência de outros simpósios teve um grupo de cinco pessoas onde a maioria é ligada com a escola de artes caldense.

“Inicialmente estava um pouco apreensivo mas o grupo revelou grande interesse e entusiasmo pelo trabalho escultórico”, comentou o formador. No final, os trabalhos realizados deram origem a uma exposição, apresentada no Atelier-Museu António Duarte. Segundo o escultor faz sentido unir este workshop ao Simpósio pois permite aos formandos conciliar a aprendizagem com o relacionamento com profissionais de vários países. Vítor Reis gostaria de repetir a experiência.

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