Os dias de um bibliófilo são constituídos por momentos de alegria alternados por outros de tristeza. Alegria quando conseguimos descobrir um livro que há muito buscávamos, tristeza quando não conseguimos adquirir um qualquer outro que também ambicionávamos possuir. O amor pelos livros pode ser doentio mas na maior das vezes é uma doença “boa”, porque nos permite ter motivos de interesse e desperta os nossos sentidos na procura da obra desejada. É uma espécie de jogo de caça ao tesouro.
Esta semana foi para mim feliz. Com a cumplicidade de um alfarrabista do Porto – talvez um dos mais profissionais mais sabedores de tão nobre profissão – adquiri um pequeno grande livro.
Tem como título “Verão nas Caldas feito de Inverno em Óbidos, oferecido a rheumáticos, estomaguistas, hidrópicos, estericos, cochos, estuporados de um e outro sexo, para as horas vagas, por mãos de António José da Silva, O Piana, e por Francisco Obidense, Patricio de Inverno, e vizinho de Verão.”
Publicado em Lisboa com licença régia no ano de MDCCCVI (1806), com as dimensões de 8 x 14 cms, e 67 páginas. Compõe-se dos seguintes capítulos:
- “Introdução Historiada”, até à página 16 e escrito em quintilhas;
- Da página 17, “Primeira Parte A Praça”, vai até à página 26 e escrito em quadras;
- Na página 27 começa a “Segunda Parte – Reflexões”, que se estende até à página 36, escrita em quadras;
- Segue-se a partir da página 37 até à 50, “A Terceira Parte – A Copa”, também escrita em quadras;
- Da página 51 até à página 67, a “Terceira Parte – A Copa”, igualmente em quadras.
No verso do Frontespício, surge-nos uma quadra, que expressa o desejo do autor aos seus leitores e que passamos a transcrever.
“Abre, ó Musa, abre ao roucos gorgomilos,
A bem, e prol dos míseros doentes,
S’os não sabes curar, vai divertillos,
Que o remedio obra mais nos mais contentes.”