UMA QUESTÃO DE FEITIO

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“Cartas a Emília” é um livro em que a sua coordenadora, Beatriz Berrini, reúne certa correspondência que Eça de Queiroz dirigiu à sua mulher Maria Emília.
Numa dessas cartas, endereçada de Madrid no ano de 1892, aquando da realização da Exposição do IV Centenário do Descobrimento da América, Eça de Queiroz faz certas referencias pouco simpáticas a Rafael Bordalo Pinheiro. Senão, vejamos:

“O Bordalo partiu para Lisboa antes de ontem, e ainda bem porque eu já não podia com ele. Queria para si todos os louvores, e algum elogio que eu recebia punha-o de mau humor. Ente profundamente desgraçado no fim de tudo, porque eu considero o seu estado permanente de irritação e de azedume como a doença pior que pode atacar o espírito e o caracter de um homem. Por ele te enviei para os Caetanos um pacote de pastilhas de café, que são uma especialidade de Madrid.” E mais não disse.

Contrariamente à ideia generalizada que Bordalo Pinheiro era um homem de bom feitio e que mantinha uma boa relação com as figuras gradas do seu tempo, esta opinião de Eça vem contradizer um tanto essa ideia. As opiniões que até nós chegaram expressas sobre Rafael são quase todas elas de boa índole. Das duas uma: ou Bordalo era mesmo um homem com bom feitio, ou então, sendo de difícil caracter, havia um certo pudor por parte dos seus amigos e conhecidos em expressar essa faceta menos simpática da sua personalidade. Fica a dúvida: só nos resta continuar a busca de mais opiniões emitidas sobre esse homem, que não deixou dúvidas algumas sobre a sua arte e imaginação. Feitio? Cada um tem o seu…