O Teatro Chaby Pinheiro, na Nazaré, e o Teatro Eduardo Brazão, no Bombarral, são verdadeiras joias raras e ainda desconhecidas por muitos
Hoje levamo-lo a uma viagem ao mundo mágico dos teatros com História do Oeste. O Teatro Chaby Pinheiro, na Nazaré, e o Teatro Eduardo Brazão, no Bombarral, são dois testemunhos patrimoniais de outros tempos e locais vivos na memória coletiva das gentes daqueles locais.
Um é centenário e outro para lá caminha e apresentam entre si algumas semelhanças e alguns desafios comuns, como a preservação e a dinamização do espaço.
Estamos, agora, no Sítio da Nazaré, junto ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré. É aqui que encontramos uma fachada discreta, cor-de-rosa, mas que não deixa dúvidas: uma figura no topo, a indicação do nome e a data de 1907 esculpida numa pedra, além da pequena bilheteira, à antiga, na lateral. A fachada tem pormenores curiosos, mas não permite antever aquilo que se encontra no interior.
Assinado por Ernesto Korrodi, que procurou adotar para o teatro um sistema de palco e plateia semelhante ao do La Scala, em Milão, tem uma planta em ferradura, com as vantagens acústicas inerentes. O Chaby Pinheiro mantém a estrutura inicial toda em madeira e também as pinturas executadas por Frederico Aires em 1923 para o teto, com motivos florais, e para o proscénio com o escudo português e as iniciais da Casa da Nazaré ladeados por frescos sobre a comédia e a tragédia e um pano de boca, com uma mulher, com trajes romanos. A cor original da madeira confere ao teatro um ar muito próprio, combinado com a carpete vermelha e as cadeiras de madeira com assentos verdes.
Inaugurado em fevereiro de 1926, com a Companhia de Chaby Pinheiro que apresentou as peças “O conde Barão” e o “Leão da Estrela”, terá sido mandado construir para substituir um tablado que ali existia desde meados do século XVIII, e onde se realizavam representações teatrais pelas romarias no Santuário para o Círio de Lisboa, e em especial para o Círio de Nossa Senhora da Vitória.
O teatro é propriedade da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, que o tem mantido. Nuno Batalha, presidente da Mesa Administrativa da Confraria, que assegura os custos com o edifício, admite ainda assim alguma mágoa com a parca utilização de uma sala tão caraterística. “Existe um desligamento da Nazaré em relação a esta sala de teatro, mas vemos artistas nacionais a solicitar o teatro para diversos projetos”, observa.
A utilização resume-se a um espetáculo, com várias exibições, a cada dois anos e a projetos pontuais, como exposições ou gravações, por exemplo. Os espetáculos são normalmente de grupos amadores e também da paróquia que ali apresentam peças.
O dirigente gostaria que o Chaby Pinheiro entrasse nas agendas nacionais e que pudesse receber mais espetáculos e até se mostra esperançado, uma vez que o recém-eleito deputado Salvador Formiga (PS) visitou este local em campanha e “disse que esta sala deveria merecer a melhor atenção”, explicou Nuno Batalha.
Seguimos agora para o Bombarral, onde encontramos o já centenário Teatro Eduardo Brazão. O ator que deu nome ao teatro era um dos maiores atores do seu tempo e esteve na inauguração deste edifício em fevereiro de 1921.
Conta-se que os bombarralenses o receberam na estação de caminho de ferro, vindo da capital, e que o levaram entre vivas e aplausos até ao teatro. Criado num recém-concelho em pleno desenvolvimento, a construção do teatro deveu-se à Empresa Recreativa do Bombarral, que se encarregou, depois, da gestão e direção do espaço. O autor do projeto é, ainda hoje, desconhecido. A fachada tem grandes janelas e também alguns elementos alusivos ao teatro na própria porta. Também neste caso, é impensável aquilo que se encontra quando se entra no edifício. Mais faustoso do que o Chaby Pinheiro, apresenta o mesmo estilo italiano, com a planta em ferradura.
Aqui, as cadeiras são vermelhas e as paredes brancas e azuis. A acústica é um dos grandes trunfos de um edifício nobre.

Depois da Empresa Recreativa do Bombarral, nos anos 1950, é criada uma associação, a União Cultural e Recreativa do Bombarral, para gerir os destinos do teatro, que viria a conhecer, nas últimas décadas do último milénio uma degradação acentuada. Após a reconstrução, no início dos anos 2000, o Teatro Eduardo Brazão tem conhecido melhores dias. Rui Viola, presidente da associação, conta-nos que têm sido feito investimentos na expansão do teatro, com uma nova sala polivalente e um pátio. O espaço tem regularmente dois espetáculos por mês e a bilheteira representa dois terços das receitas. Depois há o apoio da autarquia, que anualmente investe seis mil euros na conservação do edifício e suporta as despesas de eletricidade e há entidades que são parceiras e que apoiam o teatro.
A Direção foi recentemente reeleita, por três anos, e adotou o programa que tinha para o mandato anterior, que não foi realizado porque, depois do jantar do 99º aniversário, em que se projetavam os planos para o centenário, deu-se o confinamento. Sucintamente, a programação tem quatro pilares: o primeiro passa pela manutenção e conservação do edifício, que tem sido feito com a pintura e com a aquisição de equipamento, o segundo é a apresentação de uma programação cultural, o terceiro a formação teatral e criação de públicos e o quarto a internacionalização do público, que tem acontecido nos últimos anos, com o aumento de cidadãos de diversas nacionalidades que residem no Oeste na plateia.
Nos últimos dois anos Rui Viola sente falta da realização de atividades, mostrando-se, ainda assim, confiante no futuro.
Nesta sala já se realizaram sessões de teatro, concertos de música, projeção de filmes, galas, bailes, festas, tomadas de posse dos órgãos municipais, entre outros. Já por aqui passaram nomes como António Victorino d’Almeida, Vasco Santana, Ribeirinho, Laura Alves, Marina Mota, Fernando Mendes, António Calvário, Tozé Martinho ou Vitorino.
Conheça mais destes espaços com uma visita, aproveite e vá ao centenário cine-teatro de Torres Vedras e à sala, mais morderna, mas a merecer uma visita, do cine-teatro João D’Oliva Monteiro, em Alcobaça. E veja uma peça de teatro!
Nas Caldas, havia o Pinheiro Chagas…
Nas Caldas não existe um teatro centenário, mas o Pinheiro Chagas, na Praça 5 de Outubro, teria hoje 122 anos
Inaugurado em 1900 nas Caldas da Rainha, o Teatro Pinheiro Chagas teria hoje 122 anos, se não tivesse sido demolido há três décadas.
Foi fruto da Sociedade Dramática Caldense, que lançou uma campanha para angariar fundos para terminar as obras do teatro que tinha começado a ser construído anos antes e foi essa entidade a primeira responsável pela gestão do espaço.
O Teatro Pinheiro Chagas era palco para peças teatrais, mas a partir de 1937 (já com a gestão de Eduardo Montez), e muito devido ao êxito do cinema sonoro, passou também a exibir filmes.
Esta mudança, nos anos 30 do século passado, implicou uma reconstrução do edifício que existia, numa obra na qual se viriam a acrescentar as bilheteiras.
O então denominado Cine-Teatro Pinheiro Chagas foi pintada a rosa velho no exterior e a verde claro no interior.

A obra de requalificação foi assinada pelo arquiteto António Varela.
Depois do teatro, nos últimos anos de vida do Pinheiro Chagas foi a sétima arte que deu alguma dinâmica àquele espaço, antes do encerramento, já depois do 25 de abril. O Cine-Teatro foi, então, encerrado para obras, mas a verdade é que nunca mais voltou a abrir as suas portas, vindo mais tarde, já no ano de 1992, a ser demolido.
Apesar de terem passado trinta anos da sua demolição, o Cine-teatro Pinheiro Chagas é ainda hoje, uma memória muito viva entre a maioria dos caldenses. Vários são os que ali tomaram contacto, pela primeira vez, com o cinema, por exemplo, e muitas histórias há para contar.
Há uma curiosidade: é que à época, naquela praça que já conheceu vários nomes, realizava-se o mercado com a venda do peixe e dos legumes, o que tornava aquela numa zona cheia de vida na próspera cidade termal.
Além disso, existia na praça uma escola primária. Em muitos dos alunos, o teatro que ali se encontrava a umas dezenas de metros da escola representava um local de sonho e de imaginação. Como qualquer sala de espetáculo que se preze.