Zeca Afonso foi recordado com entusiasmo nos Pimpões

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Mais de 200 pessoas marcaram presença neste concerto que recorda as actuações clandestinas do cantor de intervenção

A plateia dos Pimpões encheu-se no serão de 13 de Abril para assistir ao concerto com o grupo Trovas e Cantigas de José Afonso.
A iniciativa contou com a adesão de mais de 200 pessoas que vieram recordar as canções de Zeca pela voz da fadista Teresa Tapadas, acompanhada por um trio que habitualmente se dedica à música clássica.

Trovas e Cantigas de Zeca Afonso vão actuar a 24 de Abril em Alpiarça

Zeca Afonso vinha com regularidade às Caldas da Rainha, onde actuou várias vezes antes da Revolução. Um episódio relacionado com essas actuações, foi recordado por Margarida Taveira, presidente da Liga dos Amigos do Museu Malhoa, que deu a conhecer um documento da GNR das Caldas de 4 de Julho de 1970 onde aquela força policial informa que houve um concerto na “Azenha do Inferno” (os militares trocaram o nome daquele espaço nocturno) no qual participaram o padre José Fanhais, José Afonso e Adriano Correia de Oliveira. Mas como o evento tinha a presença de um padre, acharam por bem classificar a actuação como “actividades religiosas”. “O que não deixa de ser quase cómico quando na verdade se tratava de um concerto clandestino, com músicos de intervenção”, comentou Margarida Taveira.
Sobre o Inferno da Azenha, o documento da GNR afirma que o espaço “não estava licenciado” e que as pessoas que o frequentavam deixavam o que entendiam para as despesas.
“Felizmente hoje não estamos clandestinos. Aqui dentro desta sala não há censura!”, disse a cantora Teresa Tapadas, que emprestou a sua voz de fadista ao repertório de Zeca Afonso. E que foi arrancando fortes aplausos das duas centenas de pessoas que quiseram participar nesta celebração. Depois de Cantigas de Maio, foi a vez de O meu menino é de Oiro e sempre a pedir a participação do público seguiu-se Chamaram-me Cigano.
A cantora foi acompanhada pelos músicos Ana Filomena Rodrigues (violoncelo) e Vítor Ferreira (piano e percussões) e João Durão (guitarra clássica). Este último deu seguimento à actuação com o solo de guitarra recordando Verdes Anos de Carlos Paredes.
Ouviram-se depois novas versões de Adeus oh Serra da Lapa e Índios da Meia Praia. Esta última foi interpretada apenas em instrumental, ao piano e violoncelo.
Escutou-se em seguida Tenho Barcos, Tenho Remos e Traz outro Amigo também. E como esta última foi apresentada em instrumental, o público decidiu cantá-la.
Muito aplaudidas foram igualmente as canções A Morte saiu à Rua, a Mulher da Saia Preta e a Ronda das Mafarricas. Milho Verde e Vejam Bem fechou a actuação. O grupo voltou para os encores com Maria Faia, o Natal dos Simples e o Cavaleiro e o Anjo (que foi interpretado duas vezes durante o evento).
O grupo Trovas e Cantigas vai levar este espectáculo no dia 24 de Abril a Alpiarça, localidade onde Zeca Afonso também actuou de forma clandestina.
Vítor Ferreira e Teresa Tapadas quiseram ainda deixar claro que cantar Zeca “não deve ser conotado com cores políticas” pois ele era um músico de excelência que, se tivesse nascido noutro país, “teria sido gigantesco”. Os músicos, que gostaram de actuar nos Pimpões, estão a pensar em gravar este repertório com as novas versões de Zeca Afonso.