António Nobre e Nelson Pereira regressaram à escola que os formou

0
508
Nelson Pereira e António Nobre com Bernardo Silva (ao centro) e os alunos que participaram na palestra
- publicidade -

Árbitro internacional e assistente da 1ª categoria contaram experiências na Bordalo Pinheiro.

A Prova de Aptidão Profissional (PAP) de Bernardo Silva, aluno do curso técnico de Desporto da Escola Rafael Bordalo Pinheiro que é também um jovem árbitro de futebol, trouxe o árbitro internacional António Nobre e o assistente de 1ª categoria Nelson Pereira de volta à escola onde se formaram, para contar, numa conversa aberta e bem-disposta, histórias das suas ainda curtas, mas bem-sucedidas, carreiras.
António Nobre e Nelson Pereira, ambos de 33 anos, jogaram juntos futebol, no Caldas SC, foram colegas de escola, fizeram juntos o primeiro jogo na arbitragem – um Turquel-Moitense “que teve três penaltis”, lembrou António Nobre –, e embora tenham feito percursos diferentes, voltaram a encontrar-se no topo da arbitragem nacional.
Nelson Pereira contou como decidiu ser árbitro. Depois de um “castigo” do pai após uma má nota a História que o retirou do futebol, quis ser treinador, mas o custo do curso inviabilizou essa vontade. “Um dia entrei no McDonald’s e estava lá o António Nobre e outro colega, que tinham tirado o curso, fui tirar também e tomei-lhe o gosto”, contou.
A partir dali, nem tudo foram rosas. Ambos chegaram às categorias nacionais, mas enfrentaram descidas ao distrital. No caso de Nelson Pereira, isso quase o retirou da arbitragem. Recomeçou todo o processo como assistente “e foi a melhor coisa que me aconteceu”, conta.
António Nobre disse aos jovens que, mesmo quando se chega ao topo, “não nos podemos sentar à sombra da bananeira, temos que trabalhar sempre, cada vez mais, numa luta que é contra nós próprios”.
O erro, tão escrutinado no futebol nacional, é algo que acontece e que é preciso saber lidar. “A sensação mais triste é sentir no fim de um jogo que podia ter feito melhor. Fica ali dois dias a moer, mas é algo com que temos que aprender a lidar”, disse António Nobre, tal como com as críticas.
A dupla descreveu a semana do árbitro, que tem treino físico e teórico incluindo análise aos jogos anterior e seguinte. Estar em forma é imprescindível para manter a concentração durante o jogo, essencial para tomar boas decisões. Também é preciso estudar as equipas e os jogadores, conhecidos por simular, ou por serem mais duros: “temos que estar preparados, mas não com ideias pré-concebidas”, disse Nelson Pereira.
À pergunta se os árbitros torcem por algum clube, António Nobre foi peremptório: dentro do campo não há clubes. “Costumo dizer que o resultado é para eles [jogadores], o jogo é para nós, não nos interessa quem ganha, interessa sairmos do jogo e que não se fale do árbitro”.
Para o final ficou mais uma pergunta difícil: porque não temos árbitros portugueses no Campeonato do Mundo do Qatar? “Acho que merecíamos”, respondeu António Nobre, que aponta razões políticas e regulamentares. “Não é por falta de competência dos árbitros portugueses”, começou por responder, acrescentando que os únicos que poderiam ser chamados eram Artur Soares Dias, como principal, e Tiago Martins, como VAR, por serem os únicos portugueses no quadro de Elite da FIFA.
A dupla referiu que a arbitragem é uma oportunidade “de estar em palcos e com jogadores que só víamos na televisão” e uma chance de chegar ao topo no futebol. “E também me deu oportunidade de ter liberdade financeira quando era jovem, o que ganhava na arbitragem permitiu-me ter as coisas que gostava”, sublinhou António Nobre, que durante a sessão ofereceu uma das suas camisolas de jogo a Bernardo Silva.

- publicidade -