“O Caldas está bem vivo e para durar muitos anos”

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O Caldas atinge os seus 94 anos a recuperar de uma crise financeira que ameaçou seriamente a vida do clube. Vítor Marques é o presidente da recuperação, depois de um percurso no futebol juvenil, aceitou a tarefa de apertar o cinto e cortar o despesismo na equipa principal de futebol e ficará para a história como o presidente que salvou o histórico clube caldense de uma morte anunciada e iminente. À Gazeta das Caldas falou de objectivos conseguidos na presente época, do objectivo de manter a equipa nos nacionais na próxima época, mesmo que a III Divisão tenha a extinção confirmada, do desenvolvimento do futsal e do sonho de requalificação do Campo da Mata.

O Caldas faz 94 anos, é uma idade assinalável, o que está preparado para a comemoração?

Vamos fazer um jantar no dia 28, no Salão Milénio, vamos homenagear os sócios que atingiram 25 e 50 anos de filiação e vamos homenagear alguns colaboradores em diversas áreas porque merecem esse reconhecimento do clube. Vamos também homenagear alguns atletas dos mais antigos, o que bem merecem. Vai ser uma tentativa de juntar as pessoas para que possam conviver e passar um bom bocado, mostrando que o clube está vivo e bem vivo e para durar muitos anos, ao contrário do que se podia pensar aqui há uns três/ quatro anos.

Quão tem sido este trabalho de recuperação do clube num cenário de crise generalizada?

O mais difícil era reconhecer a realidade, pôr os pés no chão e traçar um caminho realista. Conseguimos fazê-lo, orçamentámos as várias actividades, futebol sénior, juvenil, pessoal, dívidas a jogadores e empresas, e adaptámos as receitas que tínhamos. Estamos a atravessar momentos de crise e por isso não foi a altura mais favorável, tivemos dificuldades em conseguir receitas, cada vez é mais difícil cobrar porque as dificuldades são para todos. Nesta altura em que começamos o segundo ano de mandato gostaríamos de já ter mais algum passivo regularizado, nomeadamente a fornecedores, felizmente já não é muito, mas por estas dificuldades não conseguimos.

Cumprimos os acordos com a Segurança Social e as Finanças, faltam menos de 30 mil euros. Há compromissos que acabam no final do ano, outros ainda vão durar mais algum tempo, mas começam a ser valores mais exequíveis de pagamento, face aos cerca de 10 mil euros por mês do início dos acordos, o que era muito agressivo, mas foi possível fazer. Acreditámos e tivemos o apoio de muita gente que acreditou, nomeadamente todos os colaboradores que fazem parte do projecto do Caldas e que aceitaram estar connosco com o pouco que lhes pudemos dar, mas com a garantia que o que prometemos cumprimos. Ao dia 5 só hoje informámos que estamos em condições de pagar e há três ou quatro conseguíamos pagar antes do fim do mês, estamos com 4 dias de atraso o que dadas as contingências todas é uma situação positiva.

Tem à volta de si uma equipa directiva que lhe dá garantias?

Não funcionamos com uma hierarquia em que há o presidente à cabeça, somos um grupo em que valemos todos o mesmo. O grupo é muito forte, dos 10 estamos 9 em pleno e valemos por uma equipa, de outra forma não era possível, cada um com as suas competências e com o que tem para dar, hoje em dia não é fácil ter tempo, mas com vontade essas coisas vão-se ultrapassando.

Em 2008 o clube atingiu um pico acima dos 300 atletas, nestes dois últimos anos o número desceu um pouco, isso tem a ver sobretudo com a ‘concorrência’ que existe?

Tem a ver com vários factores. A concorrência, há várias escolas e as pessoas têm mais por onde escolher. Depois há as condições que o Caldas tinha, quando tinha o único sintético, hoje há em Óbidos, nas Gaeiras, o Nadadouro vai ter e parabéns por isso, o Peso, A-dos-Francos já têm e trabalham muito bem, o Campo Luís Duarte também permite a outros clubes trabalhar no sintético. As valências são muito idênticas, as pessoas podem escolher pela proximidade, pelos horários. Mas além disso também há outro tipo de actividades na nossa cidade, que é muito rica na diversidade dos desportos que oferece. A outra razão, e a mais preocupante, é a situação económica. Mesmo os 10 euros de quota que cobramos cada vez há mais dificuldade nos encarregados de educação em pagar.

O futuro, vai ser risonho, estão com força e vontade de continuar a ajudar o Caldas?

Vamos ter mais um ano de mandato, na equipa sénior acreditamos que nos vamos manter na III Divisão, gostaríamos de contar com a maioria dos que fizeram parte da equipa este ano porque foi um grupo fantástico e estamos já a tratar desse assunto. Não vamos gastar mais do que gastámos este ano, talvez mexer no número de jogadores porque chegámos a ter 28 e dar por aí algumas diferenças. Depois de passar dois anos em que entendemos que a equipa tem qualidade mas nem sempre foi feliz, o que vamos pedir é que possamos ser mais ambiciosos. Jogámos sempre para ganhar e deram sempre tudo o que tinham, mas às vezes faltou aquele bocadinho a mais que não sabemos que temos mas que se consegue dar e se todos dermos esse bocadinho que está acima do limite, porventura a III Divisão poderá acabar e se calhar o Caldas poderia ambicionar manter-se no campeonato nacional.

A Câmara já referiu diversas vezes que vai reduzir os subsídios às colectividades. Isso será um obstáculo ou uma motivação diferente para o clube garantir a receita que precisa?

Temos um Contrato Programa com a Câmara que vai de Julho a Junho, sabíamos que a Câmara iria reduzir os apoios em 2010, o que de uma forma ou de outra compreendemos, mas entendemos que o nosso só iria ser mexido a partir de Julho. O que é certo é que o foi em Janeiro, um corte de cerca de 10 por cento, tínhamos orçamentado as coisas com determinado valor e a meio do jogo mudaram as regras. Adaptámo-nos e criámos mecanismos para ultrapassar a situação, inclusivamente atrasando algumas situações de dívidas antigas que queríamos já ter regularizado e que tivemos que reagendar. Esperamos que o clube possa ter da sociedade caldense um reconhecimento diferente, que tenha mais apoio e às vezes não é preciso um valor elevado, é preciso é que muitos dêem pouco. Da Câmara gostaríamos de pelo menos manter o que temos, porque achamos que faz sentido. O presidente dizia há algum tempo que o Caldas pagava uma série de dívidas porque era a Câmara que as pagava. Realmente uma parte do nosso orçamento, é menos de metade mas é uma parte grande, é da Câmara, e era esse dinheiro que ia para pagar essas dívidas. Mas houve um colega que disse ao senhor presidente que, se assim é, o que fizeram ao dinheiro que a Câmara deu noutros anos? Não era para pagar isso também? O que nós fizemos foi uma gestão equilibrada e justa dos dinheiros públicos. Temos perto de 300 atletas, só os Pelicanos pagam uma quotização maior, os outros pagam 10 euros, por isso uma grande parte da verba é para apoiar os próprios atletas, porque normalmente na actividade futebol paga-se 25 a 30 euros, podíamos pedir esses valores aos atletas, mas para nós isso não faz sentido quando a Câmara faz o papel que tem que fazer que é apoiar a prática desportiva.

 

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