“Esta Liga 3 vai exigir muito profissionalismo a quem é amador”

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Jorge Reis garante que o Caldas SC vai estar preparado para cimentar a sua posição na Liga 3, apesar da exigência desta nova prova. O clube vai reforçar a estrutura no marketing e vai ter que fazer obra

O presidente da Direção do Caldas Sport Clube diz, em entrevista à Gazeta, que o clube a participação na Liga 3 vai trazer grandes desafios ao clube em termos de estrutura, mas o clube vai manter, por enquanto, o mesmo “romantismo” que o trouxe até aqui. Apenas na comunicação e marketing haverá profissionalização, revela o dirigente.

A subida à Liga 3 foi mais um feito do clube e deste grupo.
Sim, acima de tudo é um orgulho o Caldas ser um dos clubes fundadores desta nova Liga 3. É importante para o clube e para a região. Foi um trabalho muito bem conseguido pela equipa técnica e pelos jogadores.

Agora colocam-se outros desafios…
Sim, a começar pelas equipas que vão constituir a série, todas elas profissionais, à exceção do Caldas, que vai manter o mesmo paradigma, a treinar ao fim do dia e, depois, a fazer das fraquezas forças, a desfrutar do jogo com ambição de ganhar, com respeito por todos os intervenientes. Foi isso que nos trouxe até aqui.

E em termos de estrutura?
Em termos de organização é um desafio muito grande. Os outros clubes vão ter estruturas profissionais e nós vamos continuar nesta forma “romântica”, com muitas exigências da parte da federação. Ontem [segunda-feira] tivemos uma reunião em que estiveram presentes todos os clubes. Já houve duas vistorias ao Campo da Mata. Há, da parte da Federação, vontade que esta seja uma prova que marque a diferença. Em boa hora colocámos as cadeiras, porque é uma das exigências, e que pensámos nalgumas remodelações, umas que já fizemos, outras que estavam planeadas, como uma cabine de imprensa no topo da bancada nascente, que vai estar pronta para o início do campeonato. Vamos ter de proceder a melhoramentos nos balneários, no posto médico, criar sala de controlo anti-doping e de conferência de imprensa. E a manutenção do relvado vai ser uma exigência muito grande e constante. Depois, há burocracias que vão exigir muito profissionalismo a quem é amador.

“O Caldas vai manter o paradigma, a treinar ao fim do dia, a fazer das fraquezas forças e a desfrutar do jogo com ambição e respeito”

O clube vai conseguir isso sem se profissionalizar?
Uma das exigências é ter uma pessoa a tempo inteiro para a comunicação e marketing. A pessoa que vai ficar já esteve connosco nesta época e demonstrou qualidade e, mesmo que não fosse exigido pela Federação, já tínhamos tomado essa decisão. Já tínhamos também o Rui Almeida como diretor-técnico, coordenador da formação e diretor desportivo. Ele já estava muito próximo da equipa, tem feito um trabalho invisível, mas muito importante na ligação de toda a estrutura do futebol.

Falou-se na hipótese de haver jogos a meio da semana, isso será uma condicionante para os jogadores que trabalham?
Os jogos serão à sexta-feira às 15h00 e às 19h30, aos sábados às 11h00, 15h00 e 19h30 e ao domingo às 11h00, às 15h00 e às 19h30. Também há uma jornada à quarta-feira, mas é feriado. Teremos dificuldade nos jogos à sexta-feira, mas não serão todos e conseguiremos, com sacrifício e espírito de missão, competir.

O orçamento terá de ser ajustado?
Sim, terá de haver um pequeno ajustamento. Devo salientar que tem havido da parte da autarquia uma abertura muito positiva para o Caldas. Se calhar, terá de ser mais… A própria Federação quer que haja um maior envolvimento, já está agendada uma reunião com o clube, a Câmara, a Federação e a AF Leiria, porque se pretende que esta liga dê visibilidade aos concelhos, através do Canal 11, e à liga e aos clubes através de outdoors, daí a profissionalização da comunicação e do marketing, com os proveitos a virem para os clubes e não para a FPF.

As transmissões no Canal 11 vão trazer receita ao clube?
As taxas de jogo vão aumentar, porque todos os jogos vão ter quarto árbitro e na segunda fase haverá VAR. Os jogos durante a semana vão ser isentados e nos jogos à noite vai haver uma ajuda de 500 euros… Mas aumentará a visibilidade para os patrocinadores. A primeira linha de publicidade será para a federação, mas com espaços para os clubes e vamos ter que aproveitar outros espaços com visibilidade para publicidade. Teremos que fazer pela vida. As remodelações que vamos fazer no Campo também vão dar acesso a uma linha de apoio para infraestruturas que vai ter majoração ao longo da época, de acordo com alguns critérios que incluem a forma de estar dos adeptos. É um valor que pode ir até perto dos 90 mil euros.

Voltando à competição, o objetivo será enraizar o clube nesta liga, para quem sabe no futuro tentar algo mais?
O Caldas é um clube organizado, que tem de procurar o seu espaço nesta Liga 3, cimentá-lo, para depois, com passos muito seguros, pensar um dia noutras coisas.

Para chegar aos campeonatos profissionais é preciso outra figura jurídica, uma SAD ou uma SDUQ. Já se pensa nisso?
Se o Caldas quisesse ter uma SAD, já podia ter, já tivemos muita procura nesse sentido. Mas só levaremos aos sócios uma proposta de SAD que seja boa para o clube, e nenhuma o será se o clube não mantiver a maioria do capital. Uma SDUQ seria uma melhor solução, ou até mesmo uma sociedade por quotas sendo o Caldas sócio maioritário e em parceria com empresários caldenses, mas essa solução não é fácil de encontrar.

“O Caldas paga pouco, mas paga certo e dá aos jogadores a oportunidade de jogar nesta montra da Liga 3”

A política desportiva do Caldas não vai mudar pela subida de competitividade na Liga 3. O plantel vai manter a espinha dorsal e a formação é para continuar a aproveitar.

Ao nível do plantel. Qual será a política?
O nosso alvo são quatro ou cinco jogadores que venham acrescentar algo e manter a maior parte do plantel. Apostar nos jovens da região, sempre de uma forma consciente de que o Caldas é diferente, não paga muito, mas paga certo, e dá aos jogadores a possibilidade de alinharem nesta montra. A maior parte dos jogadores já renovou, também já temos jogadores contratados, que a seu tempo anunciaremos.
Foi falado que haveria um número mínimo de jogadores obrigatoriamente com salário mínimo, isso foi consumado?
Não. Esta é uma prova não profissional, não há obrigatoriedade de contratos profissionais e o Caldas não teria condições para isso, neste momento. Temos dois jogadores nessas condições, o Leandro Borges e o João Tarzan, foi um investimento que o Caldas fez e julgamos que muito bom. E deverá ficar por aí esta época.

O Gonças, que até ainda era júnior, subiu da equipa B e afirmou-se. A equipa B continuará a ser uma aposta?
Claro que sim, até pelas limitações na inscrições de jogadores e de financiamento. Temos de ter um espaço de evolução dos jovens, numa aposta contínua, porque a transição para sénior é difícil. Temos outros jovens com valor para potenciar.

Assim como a formação. Como foi esta retoma?
Retomámos a atividade de forma progressiva, com muitas dificuldades face aos constrangimentos. Tivemos mais afluência do que o previsto, mas utilizar apenas a Mata e a Quinta da Boneca é muito pouco, na próxima época precisaremos de mais dois campos. A nível da competição, nos juniores, juvenis, iniciados, e também nos infantis Sub-13, precisamos reforçar a aposta feita nos últimos anos, com um espaço muito bem definido. ■