
O caldense Ricardo Lima, tomou posse em janeiro como presidente interino do Comité Técnico da Ginástica Para Todos da European Gymnastics. Em entrevista à Gazeta apresenta a visão e os objetivos
O caldense Ricardo Lima assumiu, de forma interina, a presidência do Comité Técnico da Ginástica Para Todos da European Gymnastics. Ao nosso jornal, afirma a vontade de continuar além de 2025 e de assumir responsabilidades na área do desporto no seu município.
Já integrava o Comité Técnico da Ginástica Para Todos da European Gymnastics, mas agora assume a presidência. O que faz o comité?
É uma constituição de um grupo de pessoas, somos sete, porque a ginástica é um mundo bastante grande, tem várias disciplinas e cada uma tem a sua especificidade e, portanto, dentro da European Gymnastics, que é a entidade que promove e regula a ginástica a nível europeu, temos essa diferenciação dentro das várias disciplinas. Nós, na Ginástica para Todos, o que fazemos é regulamentar, promover e organizar eventos a nível europeu dentro desta disciplina, que é não competitiva, mas que é uma disciplina que organiza os maiores eventos. Por norma, têm sempre entre duas a cinco mil pessoas e acontecem de dois em dois anos a nível europeu. É esse o nosso foco de trabalho no Comité.
O que muda nas suas funções?
Em dezembro de 2022 foi feita a eleição e desde essa altura que pertenço ao Comité com as funções de vice-presidente, mas com a saída da presidente anterior, assumo de forma interina a presidência até ao final deste ano. No final do ano, o objetivo é candidatar-me a presidente, aí sim, com um período de quatro anos para trabalhar e continuar o projeto e o trabalho que temos vindo a desenvolver. Como presidente, passo a ter assento na Comissão Executiva, que toma as decisões finais.
Quais os grandes desafios para este ano? E a cinco anos?
Nós estamos a atravessar agora um final de ciclo. Houve os Jogos Olímpicos que aconteceram no ano anterior, há uma renovação do ciclo olímpico e o ciclo olímpico para nós é um relógio, é aquilo que marca o passo no desporto. Agora estamos efetivamente nessa transição, o que faz com que a regulamentação seja revista, existam atualizações aos eventos para tentar sempre melhorar e para que depois existam quatro anos estáveis. Estamos numa fase dessas de regulamentação e de adaptação dos eventos, porque ano após ano é sempre importante renovar e melhorar o produto que temos para oferecer e, dessa maneira, também cativar mais pessoas, aumentar o número de países participantes e, no fundo, crescer. Esse é o objetivo, sempre, melhorar e crescer.
A Federação tem 50 países, cerca de 8 milhões e meio de ginastas?
Sim, são 50 países que são filiados na European Gymnastics. A ideia é continuar a aumentar o número de países, que ainda não estão esgotados, mas a ginástica tem várias velocidades dependendo da zona geográfica. Na zona leste ainda há muitos países que, apesar de terem ginástica, não oficializam e não estão filiados na Federação Internacional ou na European Gymnastics, mas é algo que faz parte dos objetivos: aumentar o número de filiados e de países participantes nos eventos.
Que eventos promovem?
Varia de ano para ano porque, temos as disciplinas competitivas, olímpicas e não olímpicas. Os campeonatos da Europa acontecem de dois em dois anos e, se num ano acontece a versão não olímpica, no outro ano acontece a olímpica. Nós, na European Gymnastics, temos oito disciplinas e cada disciplina tem o seu Campeonato da Europa. Na Ginástica para Todos, temos dois eventos regulares, o EuroGym e o Golden Age, que acontecem no mesmo ano, mas de dois em dois anos.
E os desafios a cinco anos?
O maior desafio é manter a uniformização. A ginástica aqui em Portugal é diferente da ginástica na Alemanha. As expectativas para uns são diferentes das expectativas para outros, os ritmos de desenvolvimento são diferentes e, às vezes, conciliar essas diferenças é o mais desafiante. Porque, de resto, os objetivos são comuns, é crescer, aumentar o número de participantes e evoluir os regulamentos no sentido em que promovam da melhor forma a ginástica, de uma forma saudável e divertida, para que as crianças façam mais ginástica e não só futebol, andamos sempre a combater esta desigualdade.
Sendo diretor técnico da Ginástica para Todos na Federação Portuguesa, os desafios a nível nacional e regional passam também pelo aumento dos praticantes? Quais as principais dificuldades ou especificidades desta região?
O meu trabalho é, efetivamente, na Federação de Ginástica de Portugal, onde sou diretor técnico desta mesma disciplina. Felizmente estamos num período ascendente e de crescimento em todas as áreas da ginástica. Esse crescimento tem sido bastante acentuado, tanto a nível da filiação dos ginastas como até na participação nos eventos. Após os Jogos Olímpicos, há sempre um boom de procura, porque a ginástica, apesar de tudo, é das disciplinas com mais visualização ao nível dos Jogos Olímpicos. Bate-se ali com o atletismo e com a natação. O futebol, por exemplo, nos Jogos Olímpicos, pouco é apreciado, ao contrário do atletismo, da ginástica e da natação. E isso repercute-se no ano a seguir e nos dias e meses a seguir, junto dos clubes. Há uma procura: “eu quero fazer aquela ginástica dos Jogos Olímpicos” ou “eu quero que o meu filho aprenda aquilo”. Isso é muito gratificante. É um trabalho que não tem fim. O nosso foco é sempre melhorar os eventos e, assim, aumentar o número de participantes. Fazer com que os clubes também cresçam porque esse crescimento inicia-se, efetivamente, nos clubes. Nós temos o caso do Acrotramp Clube das Caldas que é um clube de referência. Foi o clube onde eu pratiquei, foi onde também fui treinador, mas depois já foi mais complicada a conciliação do tempo e, neste momento, já não estou, mas colaboro regularmente com o Acrotramp. É um clube de referência na região, que, a nível distrital, tem resultados super interessantes e que, a nível nacional, é dos poucos que, nas disciplinas onde desenvolve a sua atividade, consegue sempre medalhas a nível nacional. São mesmo muito poucos os clubes que o conseguem. Há aqui um trabalho de anos.
Há clubes da região a participar nas atividades da Ginástica para Todos?
Infelizmente nenhum clube participa ativamente nas atividades nacionais de Ginástica para Todos, sendo que todos os clubes têm Ginástica para Todos nas suas atividades.
Que grandes eventos se vão realizar em Portugal?
Vamos ter na área da Ginástica para Todos os dois maiores eventos do mundo a acontecer em Lisboa. O primeiro já em julho deste ano, que será o World Gym for Life Challenge, que é um concurso dentro da Ginástica para Todos, organizado no MEO Arena e com mais de 3.500 participantes, no qual estou diretamente envolvido na direção técnica e executiva. E depois teremos os Jogos Olímpicos da Ginástica para Todos, que é a Gymnastrada Mundial, que já foi organizada em Portugal em 2013 e que voltará em julho de 2027, também em Lisboa. É um evento que supera os 20.000 participantes e é extraordinário, de uma magnitude não só desportiva, mas também social e pessoal. Em dois anos vamos ter os dois maiores eventos da Federação Internacional nesta área. É o construir de um trabalho que já vem de há algum tempo e que a Federação Portuguesa tem feito. Não acontece por acaso. Portugal também é uma referência na área da Ginástica para Todos.
Fale-nos do seu percurso académico.
Nasci nas Caldas e estudei na escola primária da Encosta do Sol. Depois passei para a D. João II e daí para o Liceu (Escola Raul Proença), onde enveredei para a área do desporto, que esteve sempre ligado à minha construção como pessoa. Depois entrei no curso de Gestão do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana. Após os estudos, entrei de imediato para a Federação Portuguesa de Ginástica, um bocadinho por influência de ter sido ginasta, de ainda na altura ser praticante e quando foi na perspectiva de fazer estágios e de ingressar para o trabalho, havia algum conhecimento e entusiasmo em trabalhar no outro lado, dado que, normalmente, como ginasta, via as outras pessoas a trabalhar e eram pessoas que eu admirava e pensei: por que não tentar chegar a esse lado? Atualmente estou há 20 anos na Federação, onde tenho feito um percurso, desde estagiário até agora como diretor técnico de uma das disciplinas.
A ginástica foi o primeiro desporto que praticou?
Os meus pais, desde muito cedo me inscreveram na ginástica, entrei com dois anos e meio, para desenvolvimento motor, e a partir daí sempre foi o desporto que fiz e tinha algum jeito, fui crescendo também dentro da ginástica e do clube, na área dos trampolins e, juntamente com o professor Stélio, fiz todo o meu percurso dentro do Acrotramp.
Foi campeão regional e nacional…
Sim, a nível regional ganhei alguns títulos, a nível nacional também, por equipas, e participei duas vezes, a nível internacional, no campeonato mundial por grupo de idades. Mas pronto, não se pode dizer que era um campeão, tive alguns resultados, mas não era o melhor. Tentávamos fazer o melhor, até porque na altura não tínhamos as condições que existem agora. Quando comecei todos os dias em que tínhamos treino, montávamos e desmontávamos os aparelhos, porque começámos a treinar no liceu. Depois então é que passámos a ter as condições físicas mais estáveis que o clube tem neste momento, mas eram metade do que existe. Só depois houve a ampliação do espaço. Havia sempre umas condicionantes, mas, felizmente, sempre tivemos condições a nível nacional que não nos podíamos queixar. E, pouco a pouco, essas condições também foram melhorando, e foi-se construindo o que se tem agora, que acho que é bastante bom.
O que faz falta nas Caldas em termos de ginástica? Que salto poderia ser dado para receber eventos maiores? E deveria ser dado?
Sem dúvida! Nós dentro da federação organizamos anualmente alguns eventos internacionais. A nível nacional o pavilhão que temos já começa a ser curto. Numa prova de trampolins, que é a área que se desenvolve aqui, já é difícil de organizar, porque tem algumas restrições e se quiséssemos dar um passo para os eventos internacionais, teríamos que ter um espaço multiusos com capacidade para cerca de 2500 pessoas, para que se conseguisse construir algo com condições. Não vale a pena fazer por fazer, o objetivo é que se faça bem, com as melhores condições, para recebermos outros países e que reconheçam que é vantajoso participar. Há aqui um trabalho a fazer e sabemos que há prioridades. Temos um espaço de treino bom, naturalmente que por vezes é curto, dada a procura. A capacidade também de renovar e de ter novos treinadores é difícil. A falta de treinadores é algo que se sente do norte a sul do país, porque a formação é cada vez mais difícil de obter.
Vê-se que gosta das Caldas. Que retrato faz a nível local?
Apesar de ter estas funções a nível nacional e internacional, olho também muito para o que acontece a nível local no desporto da cidade. E é uma das coisas que me preocupa, é estar a acompanhar o desenvolvimento e essas coisas que acontecem a nível local, porque acho que tenho alguma experiência e que, por vezes, até poderia ser usada a nível regional. Bem sei que as pessoas que lá estão neste momento são competentes e fazem o melhor que podem, mas não descarto um dia, se o convite chegar, até poder assumir qualquer responsabilidade na área do desporto na cidade das Caldas e ajudar porque gosto da cidade e tenho orgulho em ser caldense. ■