Apresentados cenários que permitem potenciar o termalismo caldense nos próximos 20 anos

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FotoCenariosQue cidade termal querem os caldenses para o século XXI foi o grande mote que norteou o debate no CCC, no passado dia 6 de Junho, que reuniu vários especialistas, autarcas, investigadores da área do termalismo e caldenses.

Durante o evento foi apresentado o estudo de prospectiva “Termas das Caldas 2035?” onde o economista José Luiz de Almeida Silva, traça “quatro cenários” de desenvolvimento para o concelho nos próximos 20 anos. De uma ideia “utópica” de desenvolvimento sustentável, até ao cenário da desgraça, tudo foi antecipado, estando a solução nas mãos dos vários actores, nomeadamente dos caldenses, a quem o autor do trabalho pediu para arregaçar as mangas e pôr mãos à obra.

O repto foi aceite pelo presidente da Câmara, Tinta Ferreira, que acredita que até 2035 – ano em que o hospital termal completará 550 anos – a autarquia conseguirá “concretizar itens dos dois melhores cenários”, traçados no estudo.

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Dentro de 20 anos as Caldas da Rainha poderá ser uma cidade termal e cosmopolita, mais ecológica e  inovadora, ainda que mantendo a sua identidade. Isto, se se cumprir o cenário mais optimista apresentado por José Luiz de Almeida Silva no seu estudo prospectivo “Rainha das Termas 2035?”, apresentado no CCC, no passado dia 6 de Junho.

Denominado “Um novo compromisso com a Rainha D. Leonor”, este cenário é uma homenagem à fundadora e prevê a reabilitação e aposta no termalismo com uma oferta multifacetada e integrada, assim como a investigação na área. Por oposição, o cenário mais “negro” intitulado “o túmulo da Rainha D. Leonor”, refere que a falta de perseverança e passividade da população e da autarquia, a incapacidade em mobilizar as instituições e as populações e alheamento ou desinteresse do poder central, levarão ao declínio das termas dentro de duas décadas. (Ver caixa)

Na opinião do autor, o cenário mais provável de acontecer, disse de forma provocatória, será o terceiro, de manutenção do “ciclo vicioso da ineficácia e de desinvestimento”, fruto da incapacidade das forças locais convencerem o governo da importância do termalismo para a dinamização da economia local. No entanto, para contrariar esta tendência, o autor incluiu no estudo um conjunto de “37 orientações estratégicas” que passam pela aposta nas Caldas como cidade ecológica ou inteligente, a escolha de um arquitecto de renome para definir o projecto global e a atracção de um investidor internacional que permita colocar as termas caldenses nos itinerários internacionais.

José Luiz de Almeida Silva defende o aproveitamento máximo da adesão à rede europeia das cidades termais, a mobilização de todas as forças na recuperação e dinamização do projecto termal e na manutenção do compromisso da Rainha oferecendo a todos tratamentos convencionais, com base nos resultados do funcionamento das termas modernas, assim como a interligação com o SNS.

O autor considera também importante o desenvolvimento de investigação científica nesta área, a interligação criativa dos vários espaços, promoção das zonas verdes e a ligação estratégica com Óbidos.

O autor disse ainda que este estudo que elaborou foi um ” tributo” de ter nascido nesta cidade e lamentou a fraca participação dos caldenses no evento de sábado, o que é um mau augúrio. Explicou que o trabalho foi feito com base na participação de mais de uma centena de pessoas e instituições e que ele apenas foi o seu “relator crítico”.

O presidente Tinta Ferreira, disse que a autarquia, vai tentar contrariar o “destino” traçado pelo estudo como mais provável (o cenário amarelo) e trabalhar para conseguir um cenário entre os dois melhores (verde e azul), embora reconheça que poderão ser condicionados por factores externos.

O autarca destacou ainda que estão a ter um papel activo em todo este processo e que estima que até ao final do mês poderá haver decisões ao nível da concessão das águas e do património termal para a autarquia.

Entretanto, já está concluído o projecto para substituição das canalizações termais, assim como a auditoria aos pavilhões do Parque. A Câmara está agora a preparar o programa preliminar para abrir concurso para o projecto de requalificação do Hospital Termal e melhoria do balneário novo e, após a concessão, pretende abrir concurso internacional para a concessão dos Pavilhões do Parque e do ex-casino/casa da cultura.

Está também a preparar a definição do modelo de governância do hospital termal.

De acordo com o autarca, o Hospital Termal pode reabrir em 2017 no balneário novo e estar requalificado em 2020. A recuperação dos Pavilhões do Parque e do Casino vai depender do mercado, mas Tinta Ferreira garante que vão procurar “

ser sedutores no processo, modernos na apresentação e pró-activos na venda do produto”.  Senão, existem algumas alternativas, que no caso dos pavilhões implicam um investimento publico acima dos 10 milhões de euros. Se for adaptado para as funções hoteleiras ascende aos 15 milhões.

“Muita identidade e pouca modernidade”

 

O debate público, embora pouco participado, começou com a apresentação do projecto das Caldas de Taipas, em Guimarães. Gerido por uma régie cooperativa, em que 95% do capital é da autarquia vimaranense, passou por um período conturbado em 1985 e desde então tem sido feita uma aposta na requalificação dos equipamentos e diversificação dos produtos.

O geólogo Martins Carvalho focou a sua intervenção no recurso caldense: água mineral natural, para destacar que esta é boa e existe em quantidade, no entanto há que ter em atenção a sua preservação, pedindo “prudência” para o futuro.

Martins Carvalho defendeu ainda que é possível estudar outras potencialidades da água, nomeadamente o seu aproveitamento geotérmico, pois estima que a alguma distancia da sua captação, para poente, esta possa atingir os 60º centígrados.

Para o médico hidrologista professor Luís Cardoso Oliveira não se oferecem dúvidas sobre a importância medicinal das termas das Caldas. No entanto, considera que o futuro do Hospital é sem internamento, funcionando apenas como ambulatório.

“Seria mais fácil fazer um hospital novo, modular, que pudesse crescer à medida das necessidades”, defendeu, acrescentando que aquele edifício como está não serve para a prática da medicina.

As piscinas existentes no Hospital Termal poderão ser aproveitadas para circuitos museológicos e o edifício ser aproveitado para o hotel de charme, concluiu.

O painel da manhã contou ainda com a presença de João Barbosa, secretário geral da Associação de Termas de Portugal, que fez uma contextualização das termas e realçou a importância do trabalho em rede.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica e da Sociedade internacional de Hidrologia Médica, Pedro Cantista, falou na necessidade de se alterar o paradigma da saúde, com a tónica colocada na promoção da saúde tendo por base a prevenção.  Também o actual vice-presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco, falou na necessidade de transição do sistema actual, centrado no hospital e na doença, para um outro centrado nas pessoas e na saúde. O médico falou na importância do envelhecimento activo e de como as  termas podem ter um papel central nesse objectivo, manifestando a sua disponibilidade para colaborar nesse projecto.

Nos últimos 20, 30 anos a cidade tem encarado as termas “de forma displicente”. Esta a opinião do historiador João Serra que destacou que este estudo tem o mérito de confrontar os caldenses se querem persistir de costas voltadas para as termas ou não. Considera que, nas últimas décadas, tem havido uma “descrença” nas termas como o factor central da política urbana, embora reconheça que houve algumas tentativas de equacionar a questão de outra forma.

De acordo com João Serra nos finais da década de 80 “era claro” que o Estado ia recuar nas termas, o que se veio a verificar a partir de meados da década seguinte com os governantes a dizer que estas não deviam fazer parte do SNS. “Também era evidente que havia muita identidade e pouca modernidade”, disse, registando que os equipamentos estavam a ficar obsoletos e o parque termal não se actualizou.

Para o investigador, a questão que se coloca é saber que cidade queremos, denunciando que durante muitos anos foram pouco valorizados os recursos urbanos deste território. Para João Serra, uma política de cidade é “ligar o Estado, municípios, parceiros privados e ligar o conhecimento ao património, a criação aos negócios”, disse, fazendo notar que uma cidade que não promove a troca, definha.

O orador considera mesmo que este é um momento “crucial” e de viragem, em que “ou viramos para uma política urbana ou as variantes (cinzento) do cenário quatro é o que nos espera”.

Fernando Costa, ex-presidente da Câmara das Caldas, respondeu ao historiador para dizer que as Caldas “deixou de ser termal”, no início do século passado, porque o seu crescimento voltou-se para outros sectores, como a indústria, comércio e a agricultura. O autarca lembrou ainda que na Assembleia Municipal “não houve uma única voz” que aceitasse que o Hospital Termal saísse do sistema público.

Na sua opinião, os Pavilhões do Parque devem ser aproveitados para um espaço museológico, como o Grande Museu da Cerâmica, pois não acredita no investimento privado para a concretização de um hotel.

Quatro cenários

Um novo compromisso com a Rainha D. Leonor

“Em 2035 [Caldas da Rainha] é centro europeu de desenvolvimento de produtos de bem-estar e de design, associado à beleza da área, qualidade ambiental , cultura e clima criativo”, antecipa o autor do estudo, para a melhor das hipóteses, defendendo que a cidade terá uma participação activa na rede europeia, com o hospital termal mais antigo do mundo.

Na região será construído um cluster da água, com a presença de vários investidores e o desenvolvimento de projectos experimentais associando o termalismo a outras especialidades médicas. Para o Parque considera necessário no melhor cenário,  a existência de um spa e percursos temáticos, assim como um restaurante e café panorâmico, enquanto que a Mata poderá albergar eco residências e um ecopark. Já os pavilhões do Parque seriam convertidos em Centro Termal e hotel de charme, com integração dos espaços museológicos e a criação de um “Aquadus” no velho Hospital Termal, como ponto central da “cidade termal”, historiando a fundação da cidade e suas termas e promovendo as suas características.

Esta aposta resultaria, de acordo com José Luiz de Almeida Silva na criação de mais de mil empregos directos e três mil indirectos, com o surgimentos de novas empresas com projectos inovadores.

Os pavões reais

O segundo cenário, mais liberal em termos económicos, apelidado de “Os pavões reais” prevê uma ruptura com o compromisso, por dificuldades financeiras, e o investimento privado, realizado por grupos nacionais e internacionais.  Antecipa, neste caso, ainda uma zona termal autofinanciável e uma cidade dinamizada do ponto de vista económico, politico, social e cultural, com a liberalização da economia e a intervenção também de actores externos.

O centro termal teria, de acordo com este cenário, fracas ligações ao SNS, mas uma oferta muito diversificada em turismo de saúde e bem-estar, oferta termal ou de spa, multiproduto e cosmética. Antecipa ainda a existência de balneários modernos, estacionamentos subterrâneos, zona residencial, hotel de charme, espaços para reuniões e congressos nos Pavilhões e restaurante panorâmico sobre o Parque.

O Hospital termal seria propriedade de um consórcio entre o centro termal, a autarquia e o Estado e transformado em Museu das Termas e da cidade e os caldenses indiferentes às termas, vendo-as apenas como fonte de emprego e de atracção de turistas.

O guardião dos templos

O cenário “O Guardião dos templos”, naquilo que o autor considerou de “mais do mesmo”, antecipa a continuação do desinvestimento no termalismo, resultado da incapacidade das forças locais convencerem os governos da sua importância. O autor do estudo fala também da radicalização das opiniões sobre as parcerias de gestão e funcionamento daquele complexo, impedindo a tomada de decisões, e a falta de parceiros estratégicos para a remodelação das termas.  É o típico exemplo do “deixa andar” e do improviso.

O túmulo de D. Leonor ou a traição a D. Leonor

Por último, é apresentado o pior dos cenários, “O túmulo de D. Leonor ou a traição a D. Leonor”, que resulta da confluência dos “males” da crise económica, deterioração do Hospital Termal e seu património, contaminação das águas e desvalorização dos tratamentos termais, que actualmente já nem são apoiados pelo SNS.

Também a fraca perseverança e passividade da população caldense e da autarquia, assim como a incapacidade em mobilizar as instituições e o desinteresse do poder central levam a este cenário.

 

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