As diatribes da CP na linha do Oeste

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Gazeta das Caldas
Sem horários condicentes e sem modernização à vista, está-se a esgotar a janela de oportunidade para a Linha do Oeste que foi o Ferrovia 2020 | I.V.

A empresa nunca teve um bom serviço nesta linha, mas reduziu-o a uma coisa indigente desde 5 de Agosto. Promete agora repor o horário anterior a 4 de Novembro, mas nunca explicou cabalmente à Gazeta das Caldas a escolha da Amieira para o transbordo para Coimbra, quando Bifurcação de Lares seria a estação mais adequada. Quadros da empresa contaram à Comissão de Defesa da Linha do Oeste que foi a Infraestruturas de Portugal que não autorizou. Esta nega. Uma das duas empresas estará a mentir.

 

Cinco de Agosto de 2018. Em plena crise ferroviária, com material decadente e supressões constantes, a CP opta por uma medida radical na linha do Oeste: reduz de 28 para 18 o número de comboios nesta linha, onde se inclui o fim das ligações directas Caldas da Rainha – Coimbra, o serviço que nos últimos anos mais êxito tivera.
A necessidade de responder ao acréscimo de procura no Douro durante o período de Verão fez com que a empresa deslocasse automotoras do Oeste para o Norte, relegando assim esta linha a uma espécie de serviços mínimos. Neste mesmo Verão, e ao contrário de anteriores, nem sequer se fizeram os comboios de reforço para S. Martinho do Porto, perdendo-se um significativo mercado sazonal.

Para Coimbra os passageiros passaram agora a ter que fazer um transbordo na estação da Amieira a fim de poupar quilómetros às exauridas automotoras a diesel que não teriam que ir à cidade do Mondego e voltavam assim para as Caldas, fazendo rotações mais curtas.
O que não se percebe é por que essa mudança não era feita em Bifurcação de Lares, três quilómetros mais à frente, onde passa a linha Coimbra – Figueira da Foz. Deste modo, para qualquer destes dois destinos (Coimbra ou Figueira), os passageiros teriam apenas um transbordo. Assim, das Caldas para a Figueira da Foz, é preciso apanhar três comboios.
Contactada a CP, esta explicou que a sua primeira escolha foi a estação do Louriçal (onde tem início o troço norte da linha do Oeste que está electrificado), mas que a Infraestruturas de Portugal (IP) não autorizou, acabando a escolha por recair na Amieira.
No entanto, em reunião havida no passado dia 12 de Outubro entre a CP e a Comissão para a Defesa da Linha do Oeste, a transportadora contou que pretendeu fazer o transbordo em Bifurcação de Lares, mas que a IP não autorizou.
Só que, fonte oficial da IP tinha enviado um e-mail à Gazeta das Caldas a dizer que “a possibilidade de o transbordo ser efectuado na estação de Bifurcação de Lares não nos foi colocada pela CP”.
Qual das duas empresas estará a mentir?
Ou será que ambas se puseram de acordo para tramar (ainda mais) a linha do Oeste?

 

HORÁRIOS REPOSTOS A 4 DE NOVEMBRO

 

De acordo com elementos da Comissão Para a Defesa da Linha do Oeste, a CP irá repor a partir de 4 de Novembro os mesmos horários que vigoravam até 5 de Agosto. Tal só será possível, com a vinda do Norte de duas automotoras que tinham ido para o Douro.
Mas a pior coisa que pode acontecer a um serviço de transporte é a falta de regularidade da sua oferta. Um horário que está sempre a mudar não induz confiança nos clientes e afasta-os. De resto, basta ver que os jovens de Bombarral, S. Mamede, S. Martinho do Porto e Valado dos Frades que estudam nas Caldas da Rainha, pela primeira vez desde há 160 anos deixaram de utilizar o comboio, optando pelo autocarro.
Com poucos horários, mesmo a vocação de linha regional que a CP atribui à linha do Oeste (em vez de a considerar um corredor paralelo à linha do Norte entre Lisboa e Coimbra) está a definhar porque os comboios são escassos e velhos e o serviço não é de confiança porque, quando há supressões, nem sempre há autocarro de substituição.
O próprio horário que vai ser reposto só tem como vantagem a boa ligação a Coimbra, que é feita em duas horas e dá correspondência aos comboios da linha do Norte. Para o Sul, há muito que a CP claudicou em tentar transportar passageiros para Lisboa pois os comboios param em todas as estações e apeadeiros e levam duas horas e meia a chegar à capital.
Pela parte da IP e do governo, a modernização entre Meleças e Caldas da Rainha, que já deveria estar em obras desde finais de 2017 (de acordo com o Plano de Investimentos Ferrovia 2020) ainda nem sequer está em fase de lançamento de concurso público.
Razões que fazem temer o pior face ao futuro da linha do Oeste.

 

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