“As novas tecnologias estão a revolucionar o comércio tradicional”

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A necessidade de adaptação do comércio tradicional às novas tecnologias foi uma das ideias presente no debate organizado pela associação Património Histórico (PH) a 18 de Maio. Os empresários caldenses Hélia Silva, Paulo Agostinho e Rui da Bernarda, analisaram as mudanças no tecido empresarial caldense que tiveram que acontecer para as lojas sobreviverem nestes últimos anos de crise.

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Rui da Bernarda, um dos oradores da tarde, contou como transformou uma velha mercearia prestes a fechar portas num espaço cosmopolita da cidade | NN

Caldas da Rainha possui 660 lojas para uma população de 160 mil pessoas, mas só há 27 mil pessoas na cidade e 51 mil no concelho. Estes números foram apresentados pelo empresário Paulo Agostinho para justificar que é preciso continuar a apostar em eventos para atrair visitantes à cidade.
“Caldas deixou de ser um local de consumo preferencial como era há 30 anos”, prosseguiu o convidado, explicando que entre Leiria e Torres Vedras “éramos um importante polo para compras da região, posição que já perdemos”.
O comerciante recordou lojas como as sapatarias Lisboa e Félix, na Rua das Montras, que tinham clientes não só das Caldas mas de outras terras como Lisboa ou Santarém, que vinham de propósito para comprar naqueles estabelecimentos.
Paulo Agostinho chamou a atenção para o facto do consumo on-line “estar a crescer de forma avassaladora”. No seu ramo de negócio não vende através da internet, dado que a Zelú vende vestidos de noiva, um produto associado a um serviço pós-venda. Se tivermos em conta que há três anos “só houve 11 casamentos na Igreja de N. Sra. da Conceição vemos como é necessário atrair gente de outras regiões”, contou o empresário. Este considera que há menos gente na cidade às compras, denunciando que “a autarquia não definiu nenhuma estratégia para fazer face à crise, que entretanto se instalou acabando por levar ao encerramento de dezenas de lojas”.
O orador comentou ainda que, no curto prazo, vão abrir seis novas lojas no centro da cidade, sem querer especificar as áreas. No final da sua intervenção, Paulo Agostinho salientou que a abertura do Hospital Termal trará novos consumidores “que terão de comer, dormir e fazer compras na cidade”. Como tal “temos todos que nos preparar para os receber”, rematou.
Paulo Agostinho considera fundamental continuar a apostar nos eventos que têm animado a cidade. Da animação de Natal até às bicicletas floridas “tudo conta para atrair mais consumidores”. Estas últimas já são mais de uma centena e atraem os consumidores que fazem percursos na cidade para tirar as famosas selfies.

A mercearia de bairro que agora é gourmet

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Na Mercearia Pena, entre muitos outros produtos, vendem-se queijos da Serra que são adquiridos e embalados pelo filho do produtor que anteriormente fornecia aquele estabelecimento comercial caldense. “É ele que os vai comprar directamente aos pastores”, contou Rui da Bernarda, que deu a conhecer a reconversão que efectuou na mercearia caldense que adquiriu em 1997. Se não tivesse sido adquirida, a Mercearia Pena iria fechar portas. Hoje ficou para trás a mercearia de bairro para dar lugar a um espaço gourmet que prossegue a forte aposta em produtos tradicionais portugueses. “Mantivemos os produtos emblemáticos como o bacalhau e o café, e apostámos numa imagem renovada”, contou o empresário que, apoiando-se em fotografias, deu a conhecer a grande mudança operada naquele espaço. Além daqueles produtos, há apostas nas áreas da charcutaria, doçaria, frutos e legumes secos. “Mantemos o serviço ao balcão”, disse o empresário que vende produtos diferentes dos que estão disponíveis nas grandes superfícies.
Ao longo dos anos, Rui da Bernarda criou a marca Café da Avó, o Lote Pena e, em 2009, o Lote Centenário que assinalou os 100 anos daquela casa comercial. Os investimentos com este produto não se ficam por aqui dado que, em breve, “surgirá uma nova marca para vender on-line lotes de café oriundos dos quatro cantos do mundo”.
Rui da Bernarda está atento às vendas on-line e apostará nesta marca internacional primeiro nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e nos países onde há emigrantes, no mercado da saudade.  Em breve a Mercearia Pena vai estar também em parceria com um novo espaço de restauração que vai abrir no cimo da Praça da Fruta. “Neste momento tenho 23 colaboradores e, com o novo projecto, espero chegar perto dos 30”, disse o empresário que gere a Pérola, a Mercearia Pena e os Capristanos.

De florista a gestora de redes sociais

“Antigamente as pessoas tropeçavam nas nossas lojas e fazia-se muito dinheiro a vender…”, disse Hélia Silva que há 25 anos possui a loja Hélia Arte Floral. Na sua opinião, as pessoas continuam a consumir, mas preferem “ir aos sítios onde têm estacionamento grátis, onde não são multados e as lojas estão abertas às horas que precisam”. Como tal, “cabe-nos melhorar o serviço que prestamos”, disse a empresária que até entrega as compras na casa dos seus clientes.
No que diz respeito às novas tecnologias, diz que tem estar actualizada, caso contrário, “o comércio tradicional tem tendência a desparecer”.
A venda on-line foi fulcral o Dia da Mãe, dado que muitos dos seus clientes estão emigrados e por isso criou condições para entregar as flores às mães, recebendo as encomendas pela Internet. Hélia Silva diz mesmo que deixou de ser florista para ser gestora de loja e que agora se tornou uma gestora de redes sociais. “É uma loucura! Para manter a loja é preciso ser ágil on-line!”, afirmou. A mudança nos últimos anos tem sido radical. A empresária exemplifica: “faço uma montra giríssima e ninguém repara, mas se eu a partilhar no Facebook as pessoas vêm cá para fazer uma selfie”. E conta que as bicicletas floridas estão a ter um grande impacto pois até já há quem faça roteiros e tire selfies com todas as que encontra.
“Tenho noção de que se não mexer no teclado e não me ligar à Internet, eu terei que fechar a loja”, disse, acrescentando que mais de 80% das suas noivas estão no estrangeiro e que tratam da decoração floral do seu casamento pela Internet.

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