Catarina Norte, 22 anos, criou marca para seguir tradição familiar e ao fim de dois meses já vende para o estrangeiro
Catarina Norte tem 22 anos e está a tirar mestrado em Gestão, depois de já ter concluído a licenciatura na mesma área. Foi durante a licenciatura, numa cadeira de Empreendedorismo, que surgiu o incentivo para criar um negócio próprio e concretizou-o numa área com a qual tinha ligação: o calçado.
“Sou das Caldas, mas a família da minha mãe é de Oliveira de Azeméis, terra de calçado, e cresci nesse ambiente”, conta à Gazeta das Caldas.
Os avós, Alice e Manuel dos Santos, começaram a atividade na década de 1960 e toda a família materna aprendeu o ofício, apesar de apenas o tio José António o ter seguido profissionalmente.
“Tirando algumas sapatilhas, todo o calçado que sempre usei foi feito por eles”, conta Catarina Norte, que com a Azine Footwear pretende dar continuidade à arte da família.
“Eles fazem calçado muito bom, todo feito à mão e com pele genuína, mas nunca tentaram expandir muito, nem vendem ao público”, refere a empreendedora.
Assim, a Azine Footwear pretende tirar maior proveito desse know-how da família, sem colocar a atividade em risco. “É uma empresa e uma marca à parte. Eles são meus fornecedores, para não correr o risco de se fazer um investimento e afetar o negócio deles se corresse mal”, salienta Catarina Norte, que aplicou todo o rendimento de um estágio profissional que tirou após a licenciatura.
Sem formação em design de produto, a conceção das coleções é um esforço conjunto. Catarina Norte concebe visualmente as peças e descreve-as ao tio José António, que confeciona uma amostra à qual se fazem os ajustes necessários, se for preciso.
Nesta fase inicial, a Azine Footwear tem apenas calçado de mulher e baseia-se num conceito da mulher independente, que arrisca e segue o seu próprio caminho. “São botas que são quase a peça essencial do conjunto, o resto do vestuário até pode ser básico”, descreve Catarina Norte. “A ideia é ser uma marca muito jovem, contemporânea”, acrescenta, apesar de apresentar igualmente uma linha de modelos retro, inspirada nos anos 1980.
A marca caracteriza-se ainda por um conceito “low fashion” (moda lenta). “São modelos que não são feitos para sair de moda rapidamente. Como são feitos em pele genuína, a durabilidade é bastante maior, são mais macios e confortáveis”, destaca.
Nesta fase inicial a marca está a comercializar apenas online, no site azinefootwear.com. É no site que as clientes podem visualizar e escolher os produtos. É possível realizar um contacto para tirar dúvidas sobre os modelos e os tamanhos. O processo de compra é iniciado com a encomenda, realizada também no site. O processo de produção demora cerca de uma semana e entre a encomenda e a entrega ao cliente o tempo de espera é de cerca de semana e meia, com portes gratuitos para Portugal. “Só produzimos consoante as encomendas, o stock que temos é muito reduzido para não haver desperdício de recursos”, diz Catarina Norte.
Uma vez que não há contacto físico com o produto até à entrega a empresa assume igualmente a troca, em caso de necessidade.
O resultado da primeira coleção tem sido surpreendente para a própria empreendedora, que contava vender sobretudo localmente, mas acabou por ter de forma quase imediata muitas encomendas do estrangeiro.
Para isso, acredita a jovem empreendedora, contribuiu a visibilidade que se gerou de forma imediata, com a ida ao programa Casa Feliz da Sic, e a publicação de um artigo na revista Maag. Além disso, a publicidade direcionada que as redes sociais permitem gerou retorno na comunidade emigrante. “Temos vendido para emigrantes portugueses em países como a Bélgica, Inglaterra e Austrália”, realça Catarina Norte, acrescentando que a exportação representa nesta fase cerca de metade das vendas.
Um passo de cada vez
Apesar de as vendas estarem a exceder as melhores perspetivas iniciais, Catarina Norte não quer que o seu negócio tenha um crescimento demasiado rápido. “Por ser uma produção familiar, reduzida, não convém crescer muito de repente, sob o risco de não conseguir acompanhar esse crescimento na produção”, nota Catarina Norte.
No entanto, já existem planos para expandir a Azine Footwear. Os próximos passos são continuar a fazer crescer a marca em termos de visibilidade, com uma aposta na comunicação de se tratar de calçado artesanal, feito em pele genuína.
Catarina Norte realça que já tem contacto para trabalhar com um revendedor que trabalha em exclusivamente online com marcas portuguesas. E a marca pode igualmente chegar brevemente a lojas físicas.
“Não temos volume ainda para ter uma loja própria, mas queremos estar em lojas que já estejam abertas”, refere a empresária, que tem em vista os mercados das Caldas da Rainha e também em Lisboa e Porto.