Concentração de produtores pode aumentar competitividade nas exportações de fruta

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Para os sectores da fruta e dos legumes continuar a crescer nas exportações é necessário ganhar competitividade e isso depende de uma maior concentração ao nível das organizações de produtores. Esta foi a principal conclusão das Conversas de Exportação, um workshop que decorreu no CCC no passado dia 6 de Novembro, promovido pelo Crédito Agrícola e pela Portugal Fresh.
Os responsáveis da Frutalvor, Carla Simões, da Lusopera, João Alves, da Horta Pronta, Carlos Marques, da Granfer, Hélio Ferreira, e da Portugal Fresh, Gonçalo Andrade, defendem que o sector que comunicar mais e melhor as suas características

Durante a mesa redonda das “Conversas de Exportação”, que juntou responsáveis de quatro das maiores empresas e organizações de produtores da região, assim como da intervenção de Gonçalo Andrade, presidente da Portugal Fresh, o principal tema foi a concentração que é necessária para que os produtos nacionais possam chegar à mesa de mais consumidores no estrangeiro, com capacidade para se bater com os produtos locais.
Gonçalo Andrade começou por falar da tendência de crescimento que se estima para os sectores da fruta e dos legumes, que podem duplicar até 2030 com a ajuda dos mercados emergentes, como a Ásia e a Oceania. “China, Índia, Indonésia, EUA, Brasil e México são mercados a explorar”, afirmou.
O presidente da Portugal Fresh, que foi criada justamente para dinamizar as exportações destes tipos de produtos, disse que para ganhar competitividade no estrangeiro é necessária maior cooperação empresarial, de modo a “concertar oferta e aumentar o poder negocial”. Gonçalo Andrade deu como um bom exemplo a operação da Pera Rocha com o Lidl para a Alemanha, que começou em 2015 com 2,4 toneladas e em 2019 atingiu as 9,1 toneladas.
Outro dado importante que o presidente da Portugal Fresh deu a conhecer foi que, em Portugal, 25% do volume de negócios na fruta e nos legumes é feito por organizações de produtores, muito abaixo da média europeia. Em volume de negócios, as organizações de produtores registaram 54 milhões de euros em Portugal, enquanto na Bélgica atingiu os 139 milhões.
Carla Simões, gestora da Frutalvor (das Caldas da Rainha), também defende que um dos desafios para as organizações, no que à exportação diz respeito, é criar níveis de organização superiores. Com os actuais níveis de concentração “não podemos ser competitivos no mercado mundial”, afirmou, acrescentando que isso implica inclusivamente ao nível da logística de embalamento, onde é preciso reduzir custos. “Precisamos de equipamentos tecnológicos que não podemos comprar para os níveis de produção que temos hoje”, disse. Hélio Ferreira, gerente da Granfer (Óbidos), defendeu a mesma ideia, sublinhando que aumentaria a rentabilidade ter uma empresa ou entidade para fazer toda a logística de embalamento da maçã e da pera do Oeste.
Também João Alves, da Lusopera (Bombarral), defendeu a concentração para melhor atacar os mercados externos, com um exemplo prático. A empresa foi uma das pioneiras a exportar pera para o Brasil, mercado onde a fruta do Oeste está a sentir mais dificuldades para manter os níveis de vendas. João Alves disse que há cerca de 40 produtores a exportar para aquele país, cada um por si, e que isso está a causar depreciação num produto já afectado pelas questões cambiais e políticas. “É necessário replicar a operação com o Lidl da Alemanha, ou seja, ter uma entidade para abordar conjuntamente o mercado”, referiu.
Carlos Marques, da Horta Pronta (Peniche), aconselhou os produtores que querem iniciar processos de exportação a juntarem-se a quem já exporta, fazendo assim crescer o negócio de ambos.

MAIOR PROMOÇÃO

Outra questão defendida na mesa redonda daquele workshop foi a necessidade de comunicar melhor as características dos produtos e da produção nacional.
Carla Simões diz que as frutas e os legumes vendem, porque são produtos que toda a gente consome, no entanto, para concorrer nos mercados estrangeiros com a produção local os produtos nacionais têm que se “diferenciar por via da apresentação”.
Hélio Ferreira também defendeu a mesma ideia, acrescentando que a agricultura nacional está altamente desenvolvida. É uma agricultura de precisão, que tem em linha de conta factores sociais e ambientais, e isso é algo que os consumidores têm que saber, sobretudo aqueles que valorizam esses aspectos.
Este foi um dos pontos referidos igualmente por Gonçalo Andrade, da Portugal Fresh, que salientou o facto da geração dos millenials dar bastante relevo a questões como aquelas. “Esta geração vai ser em breve metade da força de trabalho e vai implementar hábitos de consumo diferentes dos actuais”, referiu.
Aí entra a necessidade deste sector aumentar o investimento em comunicação. Gonçalo Andrade observou que as frutas e legumes são dos sectores que mais exportam (1.200 milhões de euros) e dos que menos investe em promoção no estrangeiro (entre 1 e 2 milhões de euros). Estes valores de investimento são significativamente inferiores aos dos sectores do calçado (entre 20 a 25 milhões de euros) e do vinho (14 milhões de euros). O dirigente acrescentou que, neste capítulo, o Estado também tem um papel a desempenhar, apoiando mais a comunicação do sector com o estrangeiro.

APOIO FINANCEIRO

Este evento, dedicado a empresários do sector hortofrutícola, foi organizado pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo das Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche e incluiu uma apresentação das soluções que aquele banco tem para o apoio à exportação.
Luís Soares, presidente CCAM das Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche disse, na sessão de boas-vindas, que o sector agrícola é um caso de sucesso, representando 6,4% da economia nacional e é responsável por 5,4% do crescimento. “Este sector é o ADN da região, que conta com empresas de referência, e a CCAM também cresceu a apoiar o sector”, observou.
Na sessão de encerramento, Licínio Pina, presidente do Grupo Caixa de Crédito Agrícola, observou que, para exportar, é preciso ter uma especialização produtiva, produtos de excelência, porque são os que se vendem, ter escala e sustentabilidade ambiental.
O presidente daquela instituição mutualista disse que o grupo tem fluxos de liquidez crescente “e não podemos exportar o dinheiro”, gracejou, “pelo que esse dinheiro está à disposição dos empresários que precisam de investir”, concluiu.

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