Um grupo de 17 empresários do sector do alojamento local criou em Março deste ano uma associação, com sede em Ferrel, para defender e potenciar este ramo de actividade que tem vindo a ganhar importância na região. Em poucos meses de trabalho a Associação de Alojamento Local do Oeste (AALO) já criou uma série de parcerias que possibilitam aos associados gerar poupanças através da aquisição em grupo. Agora a associação trabalha para alargar a sua influência aos concelhos vizinhos e o objectivo num prazo mais longo é congregar sinergias a vários níveis para diminuir os efeitos da época baixa.
A Associação de Alojamento Local do Oeste (AALO) foi uma ideia conjunta de um grupo de amigos proprietários de estabelecimentos de hospedagem que queriam unir esforços e ao mesmo tempo proporcionar aos seus clientes uma experiência mais diversificada do que apenas o mar.
O sector do alojamento local está em crescimento, mas é composto principalmente por pequenas empresas e “só juntos poderemos efectivamente ser mais fortes”, sustenta Paulo Duarte, relações públicas da associação e proprietário do “33 Hostel”, em Ferrel. Já foram realizadas parcerias que permitem diminuir os custos operacionais dos estabelecimentos, por exemplo, na aquisição do pão, no serviço de lavandaria e na publicidade, entre outras aquisições que passaram a ser feitas em grupo.
“Conseguimos assim preços bastante mais vantajosos do que conseguíamos individualmente”, explica a presidente Maura Rôlo, também do “33 Hostel”.
Em menos de dois meses a AALO angariou cerca de 60 associados, dos quais 25 são estabelecimentos de hospedagem e os restantes são parceiros de negócio provenientes de vários ramos.
Ao estender a sua acção aos parceiros de negócio, a AALO pretende “mexer localmente com o comércio”, refere Maura Rôlo. Os clientes dos estabelecimentos de hospedagem podem aderir a um cartão que lhes garante descontos nos estabelecimentos de comércio e serviços que também são associados da AALO. Desta forma ganham os clientes, com os descontos, e ganha toda a economia local. A oferta de descontos já inclui serviços tão distintos como supermercado, restaurantes, ou medicina dentária.
A associação também já dispõe de uma carrinha que faz em vaivém o circuito balnear entre os alojamentos e as praias, um serviço que começa a ganhar adeptos mesmo junto dos locais, refere Paulo Duarte.
Outra conquista importante para a AALO foi conseguir a garantia de viagens à Berlenga durante todo o ano com guia turístico e arqueólogo, através de um operador, serviço que até agora existia apenas entre Maio e Outubro.
Como associação para o sector, a AALO também disponibiliza apoio a quem se pretende iniciar no negócio.
EXPANSÃO LOCAL PARA GANHAR ESCALA INTERNACIONAL
Só os 25 estabelecimentos de hospedagem associados da AALO representam 400 camas e um volume de negócios anual equivalente a meio milhão euros. Apesar de não existir ainda um levantamento feito em termos de postos de trabalho, estes alojamentos deverão rondar os 50 em época baixa e os 100 em época alta.
No entanto, esta é ainda uma pequena parte do que o sector representa na região e o próximo passo é angariar mais associados. A maioria dos sócios têm os negócios no Baleal e em Ferrel e pretendem expandir o território, primeiro nos concelhos vizinhos, depois de forma mais alargada. O objectivo é que associação possa abranger uma área entre a Ericeira e Aveiro.
Quanto maior for a dimensão desta união no sector, mais força este terá para se promover nos mercados externos. “É diferente cada um de nós promover-se sozinho com 40 camas ou irmos em grupo com 400”, sublinha Maura Rôlo.
E é essa promoção internacional que pode ajudar a combater a sazonalidade do turismo na região. “Queremos captar no estrangeiro público que nos interessa e que ainda não vem, como o da Europa do Norte, porque, para eles, mesmo no inverno o clima de cá é atractivo”, explica.
Esse acréscimo de procura também beneficiará a economia da região. “O turismo tem crescido e, por exemplo, em Ferrel observa-se que tem sido criada maior oferta de serviços”, acrescenta a presidente da associação.
Mas para atrair mais turistas, a região também precisa de ter mais para oferecer a quem a visita. Esse é mais um passo que a AALO quer dar, promovendo maior oferta cultural. Mas aqui precisa de apoios a outro nível e os municípios são vistos como parceiros fundamentais. “O interesse é mútuo, temos muitas ideias, mas precisamos das autarquias para as pôr em prática”, diz a presidente da AALO. Os contactos com os municípios da região já foram encetados, mas os dirigentes da AALO não quiseram, por agora, adiantar quais são os planos a este nível.
Paulo Duarte adianta que o sector pode crescer muito na época baixa, mas também pode crescer mais no Verão. Do feedback que têm recebido dos hóspedes, Portugal é um destino privilegiado pelo clima, pelos preços “que os clientes dizem ser muito simpáticos” comparados com o que se pratica noutros países, mas também “porque temos um ambiente de segurança muito bom”.
LEGISLAÇÃO CONTRA A CONCORRÊNCIA DESLEAL
Como sector da economia relativamente recente e em expansão, o alojamento local é ainda pouco regulado e também apetecível para a economia paralela (que opera fora do circuito fiscal). Sobretudo na zona de Peniche, Ferrel e Baleal, os operadores sem licenças são um problema (conforme publicado na reportagem “Aposta no surf desde 2009 já gerou 70 milhões de euros de investimento em Peniche”, da Gazeta das Caldas de 28 de Outubro de 2016).
Estes operadores são vistos como concorrência desleal em relação aos que pagam os seus impostos e licenças e o problema ainda tem alguma dimensão, confirmam os dirigentes da AALO.
A associação quer combater este problema e vai fazê-lo, pelo menos por enquanto, de três formas. Uma passa por dar apoio a quem queira legalizar a actividade. A outra passa por “criar um sentimento de perda a estes operadores, ou seja, fazer com que percebam que estando legais e juntando-se a nós podem beneficiar mais do que ao manter a actividade ilegal”, explica Paulo Duarte. E a terceira forma de actuação é junto das plataformas online de promoção de alojamento.
A associação vai valer-se da nova legislação que impossibilita que sejam anunciados alojamentos sem a respectiva licença, o que já acontece, por exemplo, com os anúncios de aluguer de imóveis.
“Temos uma representante legal e vamos estar a atentos a essa situação. Não vamos agir junto do operador, mas não vamos permitir que as plataformas divulguem esses anúncios”, refere Paulo Duarte.
As reservas online são uma das principais fatias do negócio, sobretudo quando se tratam de estabelecimentos mais recentes explica Maura Rôlo, nestes podem chegar a cerca de 80% das reservas. Nos estabelecimentos mais antigos a proporção será inversa, ou seja, 20% de reservas através da web.
O que é um alojamento local?
A grande diferença entre os estabelecimentos de hospedagem e os hotéis é que estes são basicamente compostos por quartos, que são de uso individual ou familiar. Já nos estabelecimentos de hospedagem, a maioria das camas têm que ser disponibilizadas em dormitório, ou seja, são de uso colectivo e fomentam o convívio entre os utilizadores. Além dos dormitórios, existem outros espaços partilhados, como salas de estar e de refeições.
Existem três tipos de alojamento local: moradia, apartamento e estabelecimento de hospedagem. É nestes últimos que se encaixam os hostels ou as guest house e é nestes últimos que a AALO tem maior abrangência.
Nos dois primeiros tipos de alojamento, moradia e apartamento, é possível reservar todo o imóvel para o negócio, ou apenas um quarto.
