Debate público tornou latente diferentes visões sobre o turismo no Oeste

0
558
- publicidade -

“Uma região com turismo para todos!” foi o tema do congresso sobre o desenvolvimento turístico na região do Oeste, que decorreu em Dezembro no CCC, e que incluiu intervenções com visões muito díspares entre si. Da visão institucional dos autarcas, alguns mais arrojados do que outros, às críticas de alguns empresários, os alunos que assistiram puderam aperceber-se que há formas muito diferentes de pensar o turismo na região.
Na sessão de abertura, Daniel Pinto, director da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, considerou importante que esta instituição e os seus alunos contribuam para a reflexão sobre o turismo na região. “Este é um território com enormes potencialidades turísticas”, salientou, referindo que os empresários continuam a investir porque acreditam nesse potencial. “Vão ser inauguradas em 2013, pelo menos, seis novas unidades hoteleiras na região, o que é um sinal da vitalidade”, registou.

Mais de oito mil camas no Oeste

O presidente do Turismo do Oeste, António Carneiro, aproveitou a ocasião para fazer um breve historial da constituição da então Região de Turismo do Oeste, há 28 anos.
“Quando foi constituída a comissão instaladora da RTO, a região tinha 800 camas, das quais cerca de 600 eram num só hotel, no Vimeiro”, salientou. Só no final dos anos 80 é que começaram a aparecer os investimentos nesta área por toda a região. “Nessa altura estávamos longe de imaginar que um dia teríamos hotéis de cinco estrelas no Oeste”.
Actualmente a região tem uma capacidade hoteleira de mais de 8000 camas e o número vai crescer em 2013, com a abertura de novas unidades. “A região está no bom caminho”, considera.
Apesar desse crescimento, António Carneiro queixou-se da forma como é calculada a verba atribuída em Orçamento de Estado ao Turismo do Oeste. “Há um desequilíbrio brutal entre o aumento das dormidas e a receita da região”, referiu.
O dirigente defende um outro modelo de financiamento, que tenha em conta o número de camas e de dormidas de cada região. Segundo António Carneiro, só tem havido verbas para pagar vencimentos nesta entidade por causa dos fundos comunitários que receberam de candidaturas anteriores. “É dinheiro de coisas que já tinham sido pagas em 2009 e 2010”, explicou.
António Carneiro criticou também a instabilidade que existe em relação à continuidade da Turismo do Oeste. Em causa está a integração do Oeste na área de turismo de Lisboa.
A proposta do governo passa por agrupar o Oeste com Lisboa e Vale do Tejo, mas o dirigente propõem que a Turismo do Oeste se agrupe unicamente com o Vale do Tejo, ficando fora da área de influência da capital. “Não queremos ser ‘esmagados’ pela marca Lisboa, que é fortíssima”, adiantou.
Por outro lado, ao constituir-se uma região Oeste e Vale do Tejo, esta nova estrutura passará a ter competência na promoção externa. O que não acontece actualmente com o Turismo do Oeste.
Paulo Almeida, subdiretor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, sublinhou a forma como a região nunca apostou num turismo massificado e assente na construção que teriam destruído este destino. “Há um enorme potencial naquilo que está preservado e é genuíno”, disse.
Como a região tem um património natural “riquíssimo”, considera que se devem criar circuitos turísticos como mais-valia para quem nos visita. “A animação turística é um dos principais factores para as pessoas irem para um determinado destino”, adiantou.
Por isso, tem sido importante que cada município tenha vindo a apostar em experiências diversificadas que garantem uma oferta completa. No entanto, o especialista lembrou a importância de saber comunicar essa oferta. “Eu trabalhei num hotel no Algarve onde se vendia, à comissão, tudo o que existe para os turistas, desde os parques aquáticos a passeios de burro em Monchique”, contou.
Tudo isto poderá contribuir para que os turistas façam mais despesas na região. “Talvez não precisemos de mais turistas, mas principalmente que gastem mais”, disse.
Outra vantagem competitiva do Oeste é estar localizada geograficamente entre Lisboa e Fátima. “Podemos ser um destino complementar de Lisboa e de Fátima”, disse.
Na sua intervenção, Paulo Almeida referiu ainda que se deve apostar nas pessoas da região, que muitas vezes desconhecem toda a oferta turística do Oeste.
A existência da ESTM e da EHTO faz com que a região tenha um dos maiores pólos de formação do país de profissionais de turismo. As duas escolas têm cerca de 1500 formandos, aos quais se juntam também os alunos das escolas profissionais, como a ETEO.

- publicidade -

Autarcas querem mais divulgação da marca Oeste

Para o vereador Hugo Oliveira, que tem o pelouro do turismo, era necessário um maior “lobby” por parte das autarquias da região junto do Turismo de Lisboa, para que a marca Oeste fosse melhor divulgada.
O autarca defende também uma maior ligação a Lisboa de forma a que os milhões de turistas que visitam a capital possam também passar pela região. “Temos identidade própria, mas não podemos perder essa ligação que é fundamental”, disse.
Por outro lado, também sublinhou a importância de saber vender o que existe no Oeste, numa altura em que os turistas procuram toda a informação na Internet antes de se deslocarem para um destino.
Hugo Oliveira falou ainda o termalismo e a forma como este pode servir para desenvolver Caldas da Rainha.
Da parte da tarde, a sessão começou com a intervenção de Carla Cachola, licenciada em Relações Públicas e Publicidade e pós-graduada em Gestão de Destinos Turísticos, que destacou a diversidade de produtos turísticos no Oeste, do golfe ao termalismo e o património existente na região, que inclui o castelo de Óbidos e o mosteiro de Alcobaça, com reconhecimento nacional e internacional.
Entre outras potencialidades, a especialista referiu ainda a grande quantidade de eventos que se realizam habitualmente no Oeste e os seus empreendimentos turísticos.
“Esta região cresceu muito mais do que outras no país e esperemos que esta nova lei (da reorganização do turismo regional) não venha estragar o que foi feito”, concluiu, elogiando o trabalho feito por António Carneiro na RTO.
João Capucho, administrador da Janela Digital, contou a história de um grupo de amigos surfistas que nos anos 80 visitou a região e teve dificuldade em encontrar alojamento, para comparar com a actual situação em que quem viaja procura primeiro na Internet por um local que satisfaça todas as suas necessidades.
“No velho Oeste esperava-se pelo cliente, na recepção ou na rua. No novo Oeste o cliente tem de ser captado antes de sair de casa”, pela Internet.
O empresário falou dos vários sites na Internet que vendem online o aluguer de quartos e casas, através do qual é possível angariar clientes em qualquer parte do mundo.
Na sua opinião, perante uma concorrência global que a tecnologia proporciona, o principal será apostar numa estratégia das cidades para captar mais turistas. Para João Capucho, dois bons exemplos são Óbidos e Peniche, que souberam desenvolver uma estratégia para promover o seu produto. “Caldas da Rainha não tem estratégia”, afirmou.

“É bom que o Turismo do Oeste acabe”

Luís Reis, director do Campo Aventura, fez a intervenção mais polémica. Lamentando não estarem presentes os oradores da manhã, criticou o facto de António Carneiro estar há tantos anos à frente do Turismo do Oeste. “É bom que o Turismo do Oeste acabe. Eu costumo ir às assembleias desta estrutura e só aparecem lá meia dúzia de tipos. O melhor é acabar com esta merda”, afirmou, perante o olhar espantado da assistência, composta maioritariamente por alunos.
O empresário defende que têm que ser as entidades e as empresas a investirem na divulgação da região.
Luís Reis recordou o relatório Porter, de 1994, que apontava o turismo como um dos clusters determinantes para o crescimento da economia portuguesa, mas que, na sua opinião, não teve resposta por parte dos sucessivos governos.
“O problema é que temos políticos extremamente medíocres. Basta ver Caldas da Rainha”, referiu.
Em relação ao Campo Aventura, explicou que estão apostados na captação de clientes estrangeiros, tendo criado uma empresa na Suíça para fazer vendas. “A estratégia está a resultar e aumentámos as vendas em 2%, em relação ao ano passado”, revelou.
Aos estudantes recomendou que apostassem nas experiências práticas para o seu currículo ficar enriquecido. “Aproveitem os meses de férias para terem experiências. Isso pode mudar o vosso futuro”, sugeriu.

Autarcas do litoral venderam o mar

O presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, começou a sua intervenção com a apresentação de um vídeo de promoção do concelho, com destaque para o campeonato mundial de surf que tem atraído milhares de turistas. De seguida apresentou o seu “cartão de visita”, que é uma lata de cavala. Desta forma quis demonstrar a forma como o município tem tido uma atitude arrojada de promoção deste destino.
“Nada acontece por acaso. Tudo isto foi planeado”, referiu, explicando que no mandato anterior foi aprovada a Magna Carta, um documento estratégico para o concelho. Todo o trabalho foi conjugado com a Estratégia Nacional para o Mar e dessa estratégia surgiu o conceito “Peniche Capital da Onda”.
Bruno Letra, adjunto do presidente da Câmara de Alcobaça, também apresentou um vídeo sobre aquele concelho, tendo depois explicado que o mais difícil na sua concretização foi a de saber o que divulgar. “Em Alcobaça temos muito para comunicar. Desde os doces, à maçã e o mosteiro, entre outros”, comentou.
A principal intenção na divulgação foi a de fazer para que os turistas permaneçam mais tempo em Alcobaça. “Por isso apostámos no turismo das vivências” e criaram a marca “Alcobaça – dê lugar ao Amor”, que alude à história de Pedro e Inês.
Bruno Letra defende que os empresários locais devem procurar saber o que é que os turistas pretendem e desta forma terem produtos que venham ao encontro da procura. Acredita também que o “boca a boca” contribui muito para atrair turistas. Prova disso, segundo o assessor, é o aumento considerável de visitantes à exposição de doces conventuais em Alcobaça. “Esta exposição é também um exemplo de como um certame pode proporcionar o crescimento de uma indústria. Actualmente há várias fábricas de doces e pastelarias que vendem doces conventuais”, adiantou.
Na sua opinião, as ofertas de cada município são complementares e podem fixar os turistas na região.
Miguel Sousinha, presidente da empresa municipal Nazaré Qualifica, comentou que as autarquias são fundamentais para a criação de um destino turístico, por todas as condições que as câmaras criam ao nível das infra-estruturas. Por outro lado, são as câmaras que realizam um conjunto de iniciativas que potenciam a visita de turistas. Outra questão importante, na sua opinião, é o papel das autarquias na qualificação do território, “uma missão que deve ser partilhada por todas as entidades”.
O dirigente recordou que há alguns anos apenas algumas autarquias se preocupavam com o turismo e desenvolviam estratégias para captar visitantes. No entanto, defende que a promoção deve ser feita com escala e que internacionalmente se deve apostar na marca Portugal. “Depois cada autarquia deve trabalhar um conjunto de áreas que são da sua responsabilidade”, concluiu.

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt

- publicidade -