Foi sem respostas concretas que voltaram a casa os 43 alcobacenses que assistiram à discussão da petição da Comissão de Utentes do Hospital de Alcobaça em plena Assembleia da República. A petição, que reuniu 9.347 assinaturas, esteve em debate na sessão da passada sexta-feira, 25 de Janeiro, mas sobre a principal preocupação dos utentes – a manutenção em pleno do Hospital Bernardino Lopes de Oliveira – pouco ou nada se falou. Por concretizar está também a referenciação dos utentes do Hospital de Alcobaça para o centro Hospitalar de Leiria.
A acompanhar a petição estavam ainda dois projectos de resolução. O primeiro, apresentado pelo PS, recomendava ao governo que suspendesse o processo de reorganização dos cuidados hospitalares na região Oeste.
Odete João, da bancada socialista, diz que o governo de Passos Coelho “não ouviu as populações, não conhece as dinâmicas locais e toma decisões insustentáveis”, insistindo numa “reorganização que não salvaguarda os princípios de equidade”. A deputada socialista apontou que “o Hospital de Alcobaça vai sendo esvaziado de recursos humanos e materiais” e que os munícipes de Alcobaça e Nazaré se vêem a braços com “dificuldades acrescidas no acesso a um direito fundamental”. O projecto de resolução do PS foi chumbado com os votos contra do PSD e do CDS-PP e os votos a favor das bancadas do PS, CDU, BE e PEV.
Com a mesma votação contou o projecto de resolução apresentado pelo BE, que recomendava ao governo a manutenção em funcionamento do Hospital de Alcobaça. A deputada bloquista Helena Pinto diz que as populações do Oeste estão a ver “o seu direito à saúde atacado” e diz que “o único caminho é suspender a chamada reorganização que na prática é uma redução de serviços”.
As críticas ao governo foram ainda feitas por José Luís Ferreira, do PEV, que alertou para o “impacto dramático nas populações” que teria o encerramento do Hospital de Alcobaça. Um “jogo no qual ‘Os Verdes’ não alinham” e, por isso mesmo, “exigem a manutenção do Hospital”.
Na resposta, os deputados da maioria dizem que nada está ainda decidido e comprometem-se a lutar pelos interesses da população, mas não são capazes de apaziguar os utentes, que temem o encerramento de valências e a degradação do acesso e da qualidade dos serviços.
Maria Conceição Pereira, deputada do PSD e relatora da petição, salientou que algo tinha que ser feito perante a dívida do Ministério da Saúde e do extinto Centro Hospitalar Oeste Norte. E garantiu estar ao lado da pretensão das populações de passarem a ser encaminhadas para o Hospital de Leiria e que a discussão dessa possibilidade é a prova de que “o actual governo ouve as populações”.
A mesma promessa deixou Manuel Isaac, do CDS-PP, para quem falar em fecho de valências “não passa de pura especulação”.
Isabel Granada, da Comissão de Utentes, lamenta a ausência de respostas aos anseios das populações. “Nós não queremos é que se feche o Hospital de Alcobaça e a isso a maioria não respondeu”, diz. A também enfermeira no Hospital de Alcobaça garante que este “cada vez está mais sozinho como instituição e mais negligenciado”. A comissão espera ainda uma decisão final na referenciação dos doentes do Hospital de Alcobaça para o Centro Hospitalar de Leiria. “Em Setembro diziam que era em Janeiro, em Janeiro dizem que é em Março e nós continuamos à espera”. E por isso mesmo, a Comissão de Utentes vai voltar a pedir uma reunião com a Administração Regional de Saúde do Centro, dado que nunca recebeu qualquer resposta aos dois pedidos feitos anteriormente.
A Comissão está ainda desapontada com os autarcas de Alcobaça e Nazaré, que além de não terem dado resposta ao pedido de pareceres por parte da Assembleia da República, também não se fizeram representar no debate de sexta-feira. “Parece desinteresse”, diz Isabel Granada.
Joana Fialho
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