Três em cada dez euros da facturação (que ascendeu a 1,5 milhões de euros em 2016) da Companhia Agrícola do Sanguinhal provém de actividades ligadas ao enoturismo. A empresa promove visitas com provas de vinhos e rentabiliza o seu património centenário com a prestação de serviços em eventos sociais e empresariais. A par disso, vai somando prémios com os seus vinhos, destacando-se o Quinta de S. Francisco que já ganhou 20 medalhas de ouro, o que serviu de pretexto para a realização de uma prova de vinhos vertical no passado dia 12 de Outubro no Sanguinhal (Bombarral).
Para os menos conhecedores, uma prova de vinhos vertical consiste em provar diferentes colheitas de um vinho específico de um único produtor, enquanto que numa prova de vinhos horizontal são apresentados vinhos de marcas diferentes.
Na prova que se realizou no Sanguinhal, na semana passada, foram degustados vinhos Quinta de S. Francisco de 1994, 1997, 2000, 2005, 2010, 2014 e 2015. Acrescentou-se ainda uma colheita tardia e aguardentes.
O evento surgiu na sequência de um prémio inesperado ganho por esta marca no San Francisco Wine Competition – o double gold medal – graças à obtenção de 98/100 pontos. O júri deste concurso na Califórnia atribuiu-o ao Quinta de S. Francisco colheita de 2014. Este vinho já obteve mais de 60 medalhas, das quais 20 em ouro, e foi o primeiro DOC Óbidos a obter 98 pontos neste concurso internacional.
O evento reuniu, sobretudo, jornalistas especializados em vinhos e constituiu mais uma oportunidade para divulgar os produtos da Companhia Agrícola do Sanguinhal, fundada por Abel Pereira da Fonseca, e que é hoje gerida pelo seu neto Carlos João Pereira da Fonseca. É ele que dá nota da importância do enoturismo na actividade da empresa, ao ponto de se ter constituído uma unidade de negócios só para este segmento de mercado.
OBJECTIVO DAS VENDAS É CHEGAR AOS 2 MILHÕES
O empresário refere que foi quase pioneiro no enoturismo porque já o iniciou há 25 anos. Começou com visitas às velhas instalações da Quinta das Cerejeiras, no Bombarral, onde a adega e os escritórios – hoje transformados em loja de vinhos e espaço de provas – constituem um valioso património pois permanecem tal e qual como na primeira metade do século XX.
Na Quinta do Sanguinhal realizam-se eventos, desde reuniões de empresas e provas de vinhos (que podem incluir refeições) até casamentos e baptizados. Carlos João diz que 30% dos 1,5 milhões de euros da facturação da empresa provém do enoturismo e que nesta unidade de negócios 70% dos clientes são estrangeiros. A venda de vinhos representa um pouco mais de 1 milhão de euros, dos quais 25% são para exportação.
A Companhia Agrícola do Sanguinhal facturava 1,1 milhões de euros em 2012, mas aproximou-se nos últimos anos dos 1,5 milhões. O seu responsável diz que o objectivo é chegar aos 2 milhões de euros, contando para isso com um incremento nas exportações e uma valorização e diversificação dos seus produtos onde, além dos tintos e brancos, se incluem também rosés, licores e aguardentes.
A participação em feiras internacionais é imprescindível para manter este negócio. E não tanto por aquilo que nelas se pode vender, mas simplesmente porque a ausência nestes palcos fóruns seria mais prejudicial do que os custos da deslocação e estadia. Por isso, é frequente verem-se os nomes do Bombarral e Sanguinhal em feiras no Brasil, Alemanha, França, Estados Unidos, Hong Kong, Xangai e Macau, nos quais a empresa se faz representar.
Os mercados exportadores são essencialmente a Alemanha, Estados Unidos e o Brasil, mas Carlos João diz que a China é um mercado significativo, apesar da sua irregularidade pois tem anos em que compra mais do que outros. Mas, atenção, o Império do Sol Nascente é também cada vez mais um produtor e já vai conseguindo fazer vinhos com alguma qualidade graças ao know how obtido no Ocidente. Quanto ao mercado nacional, o responsável da empresa diz que há ainda algum trabalho a fazer para se implementarem no Norte e no Algarve.
Carlos João refere também que nos últimos cinco anos investiu meio milhão de euros, tendo em vista a plantação de novas vinhas, bem como a melhoria do equipamento informático da empresa e dos canais de distribuição e comercialização. Hoje em dia, o sector agrícola não sobrevive sem uma forte aposta na componente imaterial, pelo que os serviços a ele associados são cada vez mais importantes.
UMA EMPRESA, TRÊS QUINTAS
A Companhia Agrícola do Sanguinhal, Lda. foi fundada por Abel Pereira da Fonseca nos anos 20 do século passado e é composta por três quintas: a Quinta das Cerejeiras, no Bombarral, que tem 20 hectares; a Quinta do Sanguinhal, com 25 hectares; e a Quinta de S. Francisco, num total de 55 hectares, que fica numa zona de confluência dos concelhos do Cadaval e Torres Vedras e com terrenos ainda no concelho de Alenquer. É caso para dizer que é uma verdadeira quinta do Oeste.