Fogo bacteriano já destruiu mais de 15 mil árvores na região Oeste

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Devido ao seu clima, a região Oeste é das mais afectadas por esta doença. Em cima um pormenor de um foco infeccioso numa pereira. A receita está em cortar parte da árvore ou mesmo queimá-la.

Mais de 30 mil árvores já foram destruídas e 14 mil cortadas, resultado do fogo bacteriano, uma doença que afecta os pomares de pomóideas (macieiras, pereiras e marmeleiros) e que se propaga através de várias formas de contágio. A região Oeste tem sido a mais afectada com 15.662 árvores e 12.165 plantas de viveiro destruídas. Na região do Alentejo foram destruídas 13.600 árvores e cortadas outras 14 mil e na região Centro foram destruídas 929 árvores.
De acordo com o Ministério da Agricultura, na região Oeste foram identificados focos de infecção em Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha e Torres Vedras.
Tendo em conta esta situação, o governo já divulgou um plano para combater esta doença, que envolve a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, as direcções regionais de Agricultura e Pescas, a Associação Nacional de Municípios e organizações de produtores. Entre as áreas de acção estão contemplados os programas de prospecção em pomares, viveiros, áreas urbanas, centros de jardinagem e mercados, controlo dos locais de recepção de fruta, procedimentos para a realização de queimas e acções de experimentação e investigação.
A situação está também a ser acompanhada por grupos locais que têm organizado acções de informação para os agricultores. O Centro de Gestão Agrícola de Óbidos, juntamente com outras entidades, está a coordenar esse trabalho de esclarecimento nos concelhos das Caldas e de Óbidos.
De acordo com Nicolau Félix, do departamento técnico do Centro de Gestão Agrícola de Óbidos, já foram feitas sessões de esclarecimento nas várias freguesias, onde abordaram os modos de transmissão da bactéria e o que deve ser feito em caso de se encontrar fogo bacteriano num pomar.
O técnico considera que a informação está a ser prestada e as pessoas já sabem identificar os sintomas da doença.
Apesar de apenas recentemente se falar do fogo bacteriano e do prejuízo que provoca nos pomares, esta doença não é nova. Já existe desde o século XIX nos EUA, tendo-se depois propagado para o resto do mundo.
“Na Europa o primeiro caso foi registado nos inícios da segunda metade do século XX em Inglaterra”, conta Nicolau Félix, acrescentando que em Portugal os primeiros sintomas que podem ser identificados como fogo bacteriano datam de 2006. Na região, a situação mais dramática acontece no concelho de Alcobaça, mas o problema, embora escondido, já tem quatro ou cinco anos. “Este ano a disseminação da bactéria agravou-se pelas características climatéricas”, explica. É que esta bactéria “não é muito esquisita” e bastam-lhe hospedeiros sensíveis, como a pereira, macieira, marmeleiro, nespereira e algumas plantas ornamentais.
A altura da Primavera é um período de maior perigo pois após a queda das pétalas, com a floração, a planta fica com muitas entradas possíveis para a bactéria. “Isso constitui uma grande oportunidade, aliado às temperaturas amenas e humidade elevada”, salienta o técnico.
Quando detectado um foco, deve-se cortar a árvore, pelo menos a meio metro do foco de infecção, ou então cortá-la por completo e queimá-la.

“Bactéria não ataca o fruto e não provoca risco para os consumidores”

Sabino Félix, presidente do Centro de Gestão Agrícola de Óbidos, realça que a aposta deve residir na prevenção, até porque no  resto da Europa a bactéria existe há bastantes anos e conseguem viver com ela, assim como nos Estados Unidos. “Nós também conseguimos, a única diferença é que vivemos numa zona com condições muito boas para que a bactéria se desenvolva, e além disso, estamos muito dependentes de um tipo de produção (fruticultura) que é muito sensível ao fogo bacteriano”, fez notar.
O responsável alerta que está em causa a possibilidade de se perderem muitos postos de trabalho. “Se não houver cuidado por parte dos agricultores e das pessoas que têm jardins e que não sabem que podem ali ter um foco de contaminação, podemos ter um problema grave que influencia a economia local”, diz.
Sabino Félix explicou ainda que é muito importante que as pessoas percebam que esta bactéria só ataca plantas, não ataca o fruto, e que não há qualquer risco para os consumidores.
O também agricultor diz estar preocupado, mas não alarmado. “Estou atento, se as pessoas dos outros países conseguiram conviver com o problema nós também conseguimos, até porque já temos mais informação”, diz, acrescentando que o factor chave é a atenção redobrada no período crítico, que vai desde o início da floração até finais de Maio e inicio de Junho. “Os agricultores devem percorrer o pomar uma a duas vezes por semana e identificar tudo o que seja sintoma, e se o encontrarem, devem cortar logo a parte infectada”, informa.
Os produtores que tiverem dúvidas poderão contactar o  departamento técnico do Centro de Gestão Agrícola de Óbidos,  através do Tel. 918544547 (Nicolau Félix) ou do e-mail dep.tec.cgo@sapo.pt

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt