Empresa que começou com produção de cogumelos em Porto de Mós reinventou-se num conceito altamente sustentável. Produz snacks, soluções de pequeno almoço e refeições rápidas a partir de excedentes de produção de frutas e legumes locais e praticamente só utiliza fontes de energia limpa
Há uma empresa, situada em São Gregório (logo a seguir à Ponte Seca), que é um verdadeiro exemplo do que é um negócio assente na sustentabilidade e na economia circular. A Gwiker, que começou com a produção de cogumelos shiitake, rapidamente se transformou num modelo de inovação, focado na minimização do desperdício alimentar e na utilização de energia renovável para transformar excedentes agrícolas em produtos de excelência.
A história da Gwiker começou em 2014 com a produção de cogumelos shiitake em troncos de madeira, numa área industrial recuperada em Porto de Mós. “Queríamos produzir alimentos saudáveis, o mais naturais possível”, conta o bombarralense Diogo Maurício, um dos três sócios e diretor executivo da Gwiker.
No entanto, rapidamente surgiu um problema que exigiu uma abordagem inovadora: o que fazer com os excedentes da produção. Foi daí que surgiu o que o empreendedor, de 36 anos, apelida de “uma sucessão de erros felizes, com aprendizagem”.
A solução encontrada foi investir num desidratador para dar aos excedentes de produção uma nova oportunidade no mercado. A premissa para a aquisição desse equipamento era que fosse o mais sustentável possível. “Em termos energéticos, queríamos que utilizasse o mínimo possível de energia elétrica, ou outro tipo de consumível, e encontrámos uma forma de desidratar utilizando o Sol como fonte primária de energia”, conta.
Daí surgiu um novo problema. “Acabámos por adquirir um desidratador com maior capacidade do que eram as nossas necessidades”, diz Diogo Maurício. Mas isso fez com que a empresa desse mais um passo em frente. “Começámos a querer desidratar outro tipo de alimentos e a olhar de outra forma para o projeto de transformação, que vingou”, sustenta.
A mudança de Porto de Mós para o Oeste, que se efetivou em dezembro de 2021, foi mais do que uma simples alteração de localização. Foi uma oportunidade para a Gwiker se situar no centro de uma área agrícola rica, com fácil acesso a matérias-primas frescas e locais, reduzindo custos logísticos e reforçando ainda mais a componente de economia circular.
É diretamente aos operadores hortofrutícolas – cooperativas e organizações de produtores – que a Gwiker vai buscar a maior parte da matéria-prima que transforma, até por uma questão de certificação e rastreabilidade. Mas opta pelos excedentes de produção, de baixo calibre, “que vão existindo ao longo do ano nas diferentes fileiras, de modo a aproveitá-los, valorizá-los e reduzir o desperdício alimentar. E isso, sem dúvida, torna-nos hoje um projeto completamente diferenciado”, destaca Diogo Maurício.
Ao apostar nos produtos sazonais, a empresa diminui ainda a pegada energética na conservação desses produto.
A localização das novas instalações teve em conta a elevada exposição solar para alimentar o seu desidratador e a empresa equipou as novas instalações com 36 módulos de painéis fotovoltaicos para potenciar ao máximo a utilização de energia limpa. O desidratador, que foi construído com especificações definidas pela empresa, canaliza o ar quente gerado na fachada e no telhado do edifício para o interior da câmara de desidratação. Um sistema informatizado, que é possível monitorizar através de um smartphone, controla a qualidade e a quantidade de ar quente necessária para que o processo se desenrole.
A Gwiker oferece três grandes gamas de produtos: snacks saudáveis, soluções de pequeno-almoço e refeições rápidas. As barras energéticas, as granolas e os risotos com vegetais desidratados são apenas algumas das opções disponíveis. Está ainda em desenvolvimento uma nova gama de refeições que, em vez de risoto, tem por base massas de cozedura rápida, como o couscous.
Os produtos, que são desenvolvidos pela própria equipa, já se podem encontrar em alguns operadores do retalho a nível local, nomeadamente nas lojas da Sonae e da Auchan. Também é possível adquirir os produtos na loja online da empresa e também na plataforma TooGoodToGo.
Além de produzir sob a sua marca, a Gwiker atua no mercado de private label, produzindo marcas próprias para o retalho nacional e internacional, e fornece matérias-primas para outras indústrias, como farinhas de frutas e de legumes. “Temos projetos na Noruega, na Suécia e temos um projeto muito recente com o Japão, com o fornecimento de papas de aveia”, conta o empreendedor, acrescentando que está ainda a ser fechado um projeto para levar a marca Gwiker para a Arábia Saudita.
Embora seja ainda uma microempresa com posicionamento de startup, a Gwiker tem vindo a crescer de forma consistente. Em 2023 processou cerca de 170 toneladas de matéria-prima e atingiu vendas a rondar os 270 mil euros. Para este ano, Diogo Maurício acredita que a faturação possa ser superior a 400 mil euros e estima atingir um milhão de euros em dois anos.
“Tudo o que fizemos até hoje foi com capitais próprios, porque acreditamos verdadeiramente no projeto”, revela o empresário. Desde 2022 a empresa acumula investimentos que rondam 1,4 milhões de euros. Ainda este ano a empresa estima aumentar a capacidade de produção e automatizar alguns processos. Quando se mudou de Porto de Mós, tinha três postos de trabalho, já atingiu os 10.
Diogo Maurício acredita muito no potencial de um projeto que caminha lado a lado com ideais que vão ganhando cada vez mais força. “Pretendemos claramente deixar um legado para as gerações futuras, com esta mensagem de que é possível, mesmo em larga escala, produzir alimentos “reais”, porque se tudo aquilo que nós comermos for natural, se não tiver aditivos, acabamos por ser muito mais saudáveis”, conclui. ■