
A região Oeste criou uma imagem própria – a Oeste Circular – para assinalar a aposta na sustentabilidade ambiental e apresentou um protocolo de parceria com a Novo Verde para a educação ambiental, dirigida às empresas, à administração pública e às escolas. A nova marca surgiu pela primeira vez em público durante a conferência sobre a sustentabilidade ambiental nas compras públicas, que se realizou em Peniche no passado dia 19 de Outubro.

O Oeste será, através da sua comunidade intermunicipal, mais uma vez região piloto para a introdução de políticas descentralizadas, agora para a sustentabilidade ambiental. Para isso, criou a imagem Oeste Circular.
Paulo Simões, primeiro secretário da OesteCIM, disse que o Oeste Circular é um projecto “muito relevante do ponto de vista estratégico para a região”, que pretende ir mais além do que a simples reciclagem. “É uma valorização económica”, afirmou, na abertura da conferência que teve lugar no auditório da Associação Humanitárias dos Bombeiros de Peniche.
O Oeste Circular nasce de um protocolo de parceria que engloba várias entidades, incluindo o governo, a APA, a Direcção-geral das Actividades Económicas e ainda a Novo Verde, uma entidade gestora de reciclagem de embalagens e seus resíduos, que integra a European Recycling Platform.
Da parceria vão resultar acções de formação para a educação ambiental, que se destinarão para as administrações públicas, no que concerne às compras circulares, para as crianças, através das escolas, e também para as empresas.
No sector empresarial, Paulo Simões sublinhou que é “fundamental que se perceba que aquilo que hoje vai para o lixo pode ser optimizado e rentabilizado”, acrescentando que a Escola Superior de Turismo e Tecnologias do Mar, de Peniche, já está a desenvolver alguns projectos de optimização de produtos residuais para que tenham valor de mercado.
Outro foco específico na actividade empresarial é o alojamento local, sobretudo junto à costa, no qual comportamentos desadequados para com o ambiente podem trazer prejuízos à região. Aqui a sensibilização será tanto ao nível dos empresários, como dos utentes.
Já a aplicação destas políticas junto das administrações públicas será sobretudo relativa às compras. Paulo Simões afirmou que estas dimensões da sustentabilidade devem ser, quando possível, colocadas nos requisitos técnicos dos concursos públicos, dando “preferência a produtos que possam ser reutilizados”.
ALTERAR COMPORTAMENTOS NAS ESCOLAS
O presidente da Novo Verde, Ricardo Neto, explicou que o protocolo com a OesteCIM estará em vigor até 2021, ano em que termina a actual licença da Novo Verde para trabalhar nesta área da valorização de resíduos.
Nas acções previstas com as escolas, o programa chegará a um universo de 17 mil crianças e jovens com o objectivo de sensibilizar para a recolha selectiva de resíduos. Essa sensibilização será feita através de distribuição de kits e outros materiais, e também através da realização de dois concursos (Geração Verdão e Geração Depositrão), nos quais se apela à criatividade dos alunos relativamente à recolha de embalagens e de aparelhos eléctricos e electrónicos. O objectivo é levar a uma alteração de comportamentos que se estenda a casa. “As crianças, pelo menos até aos 12 anos, são veículos de boas práticas”, assinalou.
Torres Vedras mostra o caminho
No que respeita a políticas de sustentabilidade ambiental na contratação pública, Torres Vedras já tem 15 anos de experiência, com critérios aplicados à compra de bens como o papel e produtos de limpeza, disse Margarida Frade, técnica daquele município, durante a conferência em Peniche. Estes princípios são fomentados através de acções de formação interna a todos os técnicos encarregues das compras para cada departamento.
Margarida Frade realçou que um modelo de aquisição baseado na economia circular pode trazer vários benefícios, como a redução de custos e de resíduos. Outro benefício é a reputação que a utilização de critérios ambientais traz às entidades.
Mas o trabalho da autarquia torriense nesta área ambiental vai além das compras. Torres Vedras desenvolveu o Programa de Sustentabilidade Alimentar nas Escolas (PSAE), que se aplica às cantinas das escolas do concelho. Este programa é baseado em quatro princípios norteadores – produção, aquisição, confecção e promoção de hábitos alimentares saudáveis – que visam promover a redução do desperdício.
O programa utiliza, sempre que possível, produtos provenientes das próprias hortas comunitárias e pedagógicas. Os que têm que ser adquiridos vêm de produção local, privilegiando as cadeias curtas, para reduzir a pegada ecológica e beneficiar a economia local. Na confecção das cerca de 1500 refeições diárias, tanto nas escolas como nas IPSS, foram elaboradas fichas técnicas de modo a que na preparação se evitem desperdícios. Finalmente, são realizadas campanhas de promoção de hábitos alimentares saudáveis para as escolas (como os heróis da fruta ou os lanches saudáveis) e para a população, estas focadas na agricultura urbana sustentável.
Além deste programa alimentar, Torres Vedras construiu, em 2013 o Centro de Educação Ambiental, dirigido à comunidade escolar, mas também aos seniores e às famílias do concelho.
Estratégia nacional apresentada em primeira mão nas Caldas
Numa outra conferência, realizada no dia 16 de Outubro no auditório da OesteCIM sob o tema Combate ao Desperdício Alimentar na Indústria, foi apresentada em primeira mão a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar.
João Toledo, que integra a comissão responsável pela introdução desta estratégia, disse que não há uma medição exacta em relação ao desperdício no sector alimentar, mas estima-se que, em Portugal, nos últimos seis anos se tenham perdido 1 milhão de toneladas de alimentos, repartidos de forma idêntica entre a produção, a logística e o retalho.
Até 2030, o objectivo quer no espaço da União Europeia, quer da ONU, é que se reduza o desperdício de alimentos para metade. Até 2020 será realizado um levantamento junto da sociedade civil para se definir um plano de actuação. Este assentará numa lógica em cadeia que começa na prevenção contra o desperdício, segue para a doação, para alimentação animal e reciclagem e apenas em última instância a eliminação.
Bons exemplos, como as redes Refood e os bancos alimentares, deverão ser replicados em mais municípios. Nas escolas, serão leccionados conteúdos a este nível nas disciplinas de cidadania.
A sensibilização será, no entanto, transversal a toda a comunidade, incluindo agentes económicos, não só no sentido da adopção de melhores hábitos, mas também no desenvolvimento de produtos que minimizem o desperdício de alimentos.
Do plano de acção faz parte a criação de locais específicos para a comercialização de produtos bons para consumo, mas que estão perto de atingir o prazo de validade. E também a criação uma plataforma electrónica que irá juntar entidades que têm produtos que podem oferecer, e entidades que se encarregam de fazer chegar os produtos a quem deles necessita.
Durante esta conferência foram apresentados projectos que estão a ser desenvolvidos na ESTM em Peniche no âmbito da valorização de produtos alimentares. O Algaecoat é um aditivo alimentar comestível, à base da alga Codium Tomentosum, que visa prolongar o tempo de prateleira de produtos minimamente transformados, como maçã fatiada. O Valoreject pretende valorizar pescado que actualmente é rejeitado em alto mar por não ter valor comercial. E o Fishbiosensing tem como finalidade desenvolver sensores biológicos que vão permitir uma melhor percepção do estado de conservação de produtos de pesca.