Pedalar por toda a costa portuguesa era um sonho de há muitos anos, recentemente tornado realidade. Ao longo de vários fins de semana, na companhia de familiares e amigos, fomos percorrendo os mais de 900 quilómetros da nossa costa, indo ao encontro do encanto das praias, arribas, estuários, baías, promontórios e cidades costeiras do nosso litoral. Neste artigo vamos relatar apenas o percurso de quase 200 quilómetros realizado na região Oeste, entre a Figueira da Foz e a Ericeira.
Na estação das Caldas apanhámos o comboio até a Figueira da Foz. Depois de atravessar a imponente ponte sobre o rio Mondego, continuámos durante alguns quilómetros pela N-109, fazendo pequenos desvios para visitar as praias da Costa de Lavos, Leirosa e Osso da Baleia. Na povoação do Carriço, desviámos à direita para apanhar uma das mais belas e extensas ciclovias nacionais, que se estende até à Nazaré por mais de 40 quilómetros, com passagem pela lagoa da Ervedeira, praia do Pedrógão, praia da Vieira, S. Pedro de Moel, Polvoeira, Paredes de Vitória e Praia Norte da Nazaré.
Já se avistava o Santuário da Nossa Senhora da Nazaré quando abandonámos a ciclovia. Depois de apreciar a espetacular vista do Sítio, descemos até à bela praia da Nazaré, onde o aroma do peixe grelhado nos convidou a almoçar num restaurante ribeirinho. De novo na estrada, passámos o porto de abrigo e subimos a Serra dos Mangues. É uma subida dura, mas a deslumbrante vista lá do alto para as praias dos Salgados e da Nazaré compensa o esforço. Mais à frente, depois de fazermos um pequeno desvio em terra batida para espreitar a bonita praia da Gralha, descemos até à baía de S. Martinho do Porto, que contornámos até Salir do Porto, prosseguindo pela ciclovia da estrada Atlântica até à Foz do Arelho.
Continuámos pelas margens da lagoa de Óbidos, que foi percorrida ao longo da bela ecopista que a contorna em todo o seu perímetro, até à Praia dos Pescadores.
A caminho da Praia d’el Rei pedalámos alguns quilómetros em estrada e só próximo da praia de Almagreira voltámos aos caminhos de terra para um pouco de emoção nos divertidos trilhos que, sempre ao lado do mar, nos levam até à praia do Baleal, onde fizemos nova paragem agora para saborear um gelado enquanto apreciávamos os surfistas. Seguimos até Peniche pela ciclovia e contornámos a península passando pelo Cabo Carvoeiro, Forte e Porto de Abrigo.
Prosseguimos pelas praias dos Supertubos e Consolação, e por trilhos sobre as falésias, continuámos até S. Bernardino. A partir daqui, devido ao acidentado da costa, a opção foi pedalar pela N-247 até ao desvio para a praia da Areia Branca. Só voltámos às ciclovias depois de Porto Novo (Vimeiro), a caminho da praia de Santa Cruz.
De novo por trilhos junto à falésia, continuámos até à praia da Foz do Sisandro. Passámos o rio pela ponte de madeira e sempre por estradas secundárias visitámos as praias da Calada, S. Lourenço e Ribeira de Ilhas.
Já o sol se estava a esconder no horizonte quando chegámos à Ericeira e a etapa terminou na foz do rio Lizandro – local repleto de memórias das semanas de campo que vivi nos meus tempos de tropa em Mafra. O regresso a casa fez-se de novo de comboio, que fomos apanhar à estação da Malveira.
Conclusão
Pedalar por toda a costa portuguesa levou-nos à descoberta da enorme diversidade e dos muitos encantos do litoral português. E confirmámos que a costa Oeste, pela sua enorme riqueza histórica, cultural e paisagística, associada ao clima ameno durante quase todo o ano, apresenta um enorme potencial para se tornar um importante destino do cicloturismo internacional. Mas isso só acontecerá quando a “rede litoral” de ciclovias deixar de ser uma manta de retalhos, e passar a existir uma ciclovia contínua que permita a qualquer cicloturista percorrer toda a costa em total segurança e tranquilidade, desfrutando das cidades, das praias, da gastronomia e da cultura. Para além das ciclovias, também será fundamental investir em estacionamentos seguros, facilidades nos transportes públicos para o transporte de bicicletas e alojamento especializado para receber cicloturistas.
Vítor Milheiro