Pandemia trava pirotecnia do Bombarral

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António Rabaça Martins e João Adelino Martins tentam manter empresa aberta
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Faz agora um ano que a maior empresa pirotécnica do Oeste e uma das maiores do país tem a atividade suspensa devido à Covid-19.

“Não estamos a conseguir trabalhar!” O desabafo é de João Adelino Martins, que, com o pai, António Rabaça Martins, gere a sociedade António R. Martins, Lda, conhecida pelo nome comercial de Fábrica de Fogos de Artifício do Bombarral, empresa familiar fundada em 1934 e que vai já na terceira geração. Tal como outros setores económicos está, desde então, de portas fechadas e só atende, muito esporadicamente, por marcação.
“Assim que o país começou a parar, logo nesse mês perdemos mais de 90% da faturação”, recorda à Gazeta das Caldas. Daí para a frente, todos os meses que iam passando eram vividos com grande incerteza. “Têm sido uns tempos caóticos”, reconhece o empresário.
Desde então, mês após mês, a queda tem sido entre 96 e 97% do volume de negócios em comparação com o ano anterior.

Para além do mercado nacional estar parado pelo cancelamento das atividades culturais e recreativas, a exportação também parou

A pandemia foi um autêntico balde de água fria para o setor, pois 2019 foi considerado o melhor ano de sempre do século, pelo menos para a empresa do Bombarral. E o início de 2020 era bastante promissor, fruto do turismo e dos eventos culturais, a par dos festejos populares, para os quais a pirotecnia é sempre solicitada. A realidade é agora diametralmente oposta.
“É impossível qualquer setor económico sobreviver a vender apenas 3% relativamente ao ano anterior, porque há despesas fixas”, destaca João Adelino Martins. Apenas em outubro do ano passado houve uma tentativa de relançamento da atividade, que se estendeu até ao fim do ano, mas foi como um ‘balão de oxigénio’ ilusório.
Uma das graves consequências para o setor pirotécnico provocada pela pandemia é o desaparecimento de empresas – algumas centenárias – que não conseguiram sobreviver.
Cerca de uma dezena já ficaram pelo caminho e são muitas dezenas de empregos extintos. “Perde-se muito know-how quando estas empresas encerram”, alerta João Adelino Martins.
Apesar de ser um setor com um reduzido peso económico no país, é o futuro da arte do negócio que está comprometido. Até ao momento, o empresário conseguiu segurar os 11 postos de trabalho, mas alerta que não é fácil mantê-los, até porque esta é uma atividade que não pode recorrer ao teletrabalho.

Cerca de uma dezena de empresas do setor já ficaram pelo caminho desde o início da covid-19

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Para além do mercado nacional estar parado devido ao cancelamento de todas as atividades culturais e recreativas, também a exportação ficou suspensa. A sociedade António R. Martins, Lda exporta para diversas regiões de Espanha e de Itália, mas com a covid-19 estes mercados também ficaram parados e recorreram às empresas nacionais para as poucas necessidades que tiveram ao longo de 2020. “Andamos há meses com a empresa fechada e a entregar pequenas encomendas por marcação. Uma empresa não pode sobreviver assim”, nota.
A principal dificuldade que o setor enfrenta é o relacionamento com o Estado. O negócio é tutelado pelo Ministério da Administração Interna, que, segundo João Adelino Martins, não é sensível à atividade empresarial e está mais preocupado com a gestão das forças de segurança. “Desde que começou o confinamento fomos bem recebidos pelo Ministério da Economia. Mas, infelizmente, todos os programas de apoio criados não englobam o nosso CAE (Código das Atividades Económicas) e acabamos por não ser contemplados com nada”, remata.

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