O passado já não volta, mas o futuro sorri à Adega Cooperativa de Alcobaça

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A Adega de Alcobaça procura também tirar partido do facto de ter como vizinho o Museu do Vinho | DR
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A tradição vínica em Alcobaça é grande, mas no final do século XX o panorama não era famoso e já pouca identificava este concelho como (bom) produtor de vinho. A Adega Cooperativa de Alcobaça apostou então na modernização e tem colhido os frutos. Ali já não se produzem os 10 milhões de litros de outrora, mas os 400 mil litros de vinho anuais têm rendido facturações médias de 350 mil euros. As exportações são uma das apostas e representam já 20% da produção. Para 2017 as vendas para o estrangeiro deverão crescer 15%.

 

As cubas de inox adequadas à produção existente foram uma das melhorias incluídas num projecto que rondou os 100 mil euros |DR
As cubas de inox adequadas à produção existente foram uma das melhorias incluídas num projecto que rondou os 100 mil euros |DR

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Em 2007 a situação da Adega Cooperativa de Alcobaça não era muito famosa. Segundo Rodrigo Martins, enólogo responsável pela produção dos vinhos da cooperativa, esta “estava obsoleta em termos tecnológicos e de imagem e a própria qualidade dos vinhos não era a necessária para o mercado concorrencial que existe”.
A primeira mudança foi mesmo ao nível da imagem, com um rebranding total. Criou-se uma marca que não existia, o Levadas, que é um intermédio entre a marca de topo – Montes – e a de base – Pé da Serra.
O Pé da Serra é vendido em garrafa e em bag-in-box por valores entre 1 euro e 1,50 euros. O Levadas é um vinho intermédio, certificado, que custa entre 1,50 e 2 euros. Já o Montes custa entre 3,50 a 4 euros, sendo o Montes Colheita Seleccionada o topo de gama da marca (custa cerca de 5,50 euros).
Simultaneamente com a imagem, houve uma aposta na qualidade dos vinhos, não muito pela mudança de castas, mas sim pela estratégia de vinificação e pela selecção dos lotes.
Isto resultou em vinhos mais frutados e menos amargos, mas também trouxe os prémios, nacionais e internacionais. “Desde a primeira medalha em Bruxelas houve um reflexo grande nos consumidores”, contou Rodrigo Martins à Gazeta das Caldas.
Arriscar num processo de rebranding que custou cerca de 5000 euros quando a cooperativa vivia momentos financeiros complicados foi um risco grande, mas que deu resultados em pouco tempo pois notou-se logo um incremento das vendas dos vinhos engarrafados. Isto tem especial importância se tivermos em conta que os engarrafados tinham um volume muito baixo na cooperativa e que são estes os que deixam maior valor acrescentando e, portanto, os que são mais interessantes do ponto de vista comercial.
Além do aumento de vendas, com a melhoria da qualidade o vinho também ganhou valor e tornou-se mais caro.

“De uma fábrica de vinho passámos para uma adega”

A estratégia correu bem e mostrou que cada caso é único porque aqui começou-se pelo telhado. A segunda revolução, esta mais cara, veio em 2016, com a mudança de todo o sistema produtivo, avaliada em cerca de 100 mil euros.
O chão foi repavimentado, as cubas de ferro foram substituídas por cubas de inox, com tamanhos apropriados à produção em causa. Além disso, aumentaram a qualidade dos sistemas de frio e a maquinaria para esmagar as uvas deixou de ser pesada. Basicamente, “de uma fábrica de vinho passámos para uma adega”, tendo esta mudança recebido o apoio do programa Leader+ em 40% do financiamento.
Actualmente, a Adega vive a terceira revolução recente, com uma aposta forte no departamento comercial. “Agora, com o trabalho de base feito é preciso mostrá-lo aos consumidores”, fez notar Rodrigo Martins. O futuro não passa por grandes aumentos de produção, mas pela contínua melhora da qualidade.
Além dos vinhos, a Adega Cooperativa de Alcobaça produz três tipos de aguardente sob a marca Frade: bagaceira, vínica e vínica velha, além daquele que é por muitos considerados o ex-libris da produção, o abafado homónimo.
Sobre este último há uma história curiosa. Em 2007, quando Rodrigo Martins chegou à adega, encontrou dois grandes tonéis de carvalho português abandonados e ninguém sabia o que lá estava. Eram seis mil litros (três mil em cada um) de vinho abafado velho, que agora é utilizado para dar mais qualidade às produções anuais.

Aposta nas exportações

No mercado interno os vinhos da adega podem ser encontrados nas grandes superfícies do concelho de Alcobaça numa área que vai de Peniche a Fátima. Apesar de muito concorrencial, o mercado das grandes superfícies é muito interessante para a Adega Cooperativa de Alcobaça porque representa cerca de 30% das vendas. Com o canal HORECA (hotéis e restaurantes), que representa perto de 40% da produção, estão escoados, grosso modo, 70% da produção.
Os restantes 30% correspondem à exportação (20%) e à venda a granel (o vinho que não tem qualidade para garrafa nem para bag in box ou que é excedente de produção). Esse custa entre 30 a 40 cêntimos o litro. O bag-in-box custa sensivelmente o dobro.
Em termos de exportações, os mercados mais fortes são a China e Suécia, mas o objectivo é entrar no centro da Europa (um mercado de valor) e nos Estados Unidos da América (que além de ser um mercado de valor é um mercado de volume). “Queremos exportar, dentro de quatro a cinco anos, 50% da produção”, revelou Rodrigo Martins, esclarecendo também que esperam este ano um aumento de 15%.

Uma cooperativa que funciona como uma empresa

As uvas vêm de várias zonas do concelho, especialmente da zona da Fonte Santa, perto de Évora de Alcobaça, mas também de Aljubarrota. O facto de terem pequenas parcelas espalhadas traz uma variabilidade de estilos de uva, que depois pode ser seleccionada pelo enólogo. E, uma vez mais, o que era handicap, foi tornado numa mais-valia.
As uvas são pagas a uma média de 20 cêntimos o quilo, sendo que o preço depende sempre do binómio grau/quilo, da quantidade entregue, da qualidade e, claro, da liquidez da adega. A adega demora entre um ano e um ano e meio a pagar. “Queremos tentar pagar mais rápido e melhor, mas não tem sido possível”, afirmou Rodrigo Martins.
Apesar de ser uma cooperativa, funciona como um pequeno ou médio produtor, porque o enólogo da adega conhece praticamente todos os sócios e as vinhas. Isto permite que haja um acompanhamento mais próximo das uvas.
Emprega quatro pessoas na produção, mais três nas vendas e parte administrativa. O enólogo trabalha em part-time. Na época das vindimas contam com mais seis pessoas. A direcção trabalha toda pro bono.

 

Prémios em Portugal e no estrangeiro

Recentemente os vinhos da Adega Cooperativa de Alcobaça voltaram a afirmar-se em palcos nacionais e estrangeiros. O Montes Colheita Seleccionada Tinto 2014 trouxe do Concurso Mundial de Bruxelas deste ano uma medalha de prata. Além disso, no Portugal Wine Trophy a adega arrecadou duas medalhas de ouro, uma no Montes Colheita Seleccionada 2014 e outra no Montes Branco 2015.

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