Pneugreen cria estrado inovador para espaços públicos

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Gazeta das Caldas
Carla Mota e Joana Tavares são as sócias-gerentes desta empresa, que tem sede na Zona Industrial de Óbidos, situada na freguesia das Gaeiras
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A Pneugreen lançou o estrado PaviTop, um produto inovador a nível internacional que é alternativo aos decks de madeira e de aglomerado, cuja principal aplicação será em passadiços de praias e zonas junto a piscinas. Das 140 toneladas por mês de borracha recuperada dos pneus usados no Oeste, esta firma, que labora na Zona Industrial de Óbidos (freguesia das Gaeiras), já transforma cerca de 110 toneladas em novos produtos. Trata-se de uma empresa que tem toda a sua actividade na economia circular e que está a crescer há dois anos a 18% e facturou em 2017 perto de 1,5 milhões de euros.

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O estrado pavitop foi testado durante mais de um ano na praia da Foz do Arelho e mostrou capacidade e durabilidade para passar à produção

No Oeste saem mensalmente de circulação cerca de 300 toneladas de pneus. Já alguma vez se questionou sobre o que lhes acontece? Joana Tavares e Carla Mota puseram essa mesma questão a si próprias e em 2005 encontraram uma resposta: transformá-los em borracha reciclada e aplicá-la em produtos de utilidade. Criaram então a Pneugreen – Recolha e Reciclagem, Lda. para recolher os pneus nas oficinas da região e, seis anos depois, fundaram a Pneugreen Pavimentos, Lda., para transformar a borracha em vários tipos de piso, como é o caso dos parques infantis e ginásios.
Agora, a empresa encontrou uma nova aplicação para esta borracha reciclada, que é inovadora à escala global. O estrado PaviTop surge em forma de deck (um tipo de pavimento utilizado em jardins, esplanadas, junto a piscinas e outros espaços ao ar livre), e é uma alternativa a produtos idênticos fabricados em madeira ou aglomerado. O lançamento decorreu no evento Archi Summit, no LX Factory (Lisboa), a 12 e 13 de Julho.
O desenvolvimento deste estrado começou há cinco anos quando a empresa procurava soluções de produtos, contaram à Gazeta das Caldas as sócias-gerentes da empresa, Joana Tavares e Carla Mota.
A ideia ficou na gaveta até 2016, por falta de meios técnicos e financeiros para o seu desenvolvimento. Nessa altura avançaram com uma candidatura aos quadros comunitários no âmbito da inovação, que viram aprovada ainda antes do final desse ano. Foram atribuídos 250 mil euros para capacitar a empresa dos referidos meios técnicos, que chegaram em Junho de 2017.
“A ideia era ter no nosso leque de produtos uma aplicação para o exterior, decorativa, confortável, antiderrapante e sustentável”, explica Joana Tavares.
A imagem do tipo deck justifica-se por ser um produto direccionado a zonas “lounge”, ou seja, “locais onde as pessoas procurem uma solução de pavimento sem muita necessidade de manutenção e de fácil montagem”, acrescenta a empresária.
Mas o principal alvo da empresa com este novo produto são os passadiços de praia, pelas possibilidades de escoamento que este mercado oferece. Esses passadiços são, por norma, em madeira ou betão, mas nenhum desses materiais oferece as mesmas condições de conforto do estrado PaviTop.
No entanto, para perceber se o produto tinha a durabilidade necessária para as condições de erosão das praias era necessário testá-lo. No final do Verão de 2017 foi então colocado na praia da Foz do Arelho, em parceria com a Câmara das Caldas, um percurso em que são utilizados 200 m2 de pavimento, composto por borracha de 630 pneus. “Ao fim de um Verão e de um Inverno continuava impecável e decidimos avançar”, disse Joana Tavares.
Por Portugal ser um país com muitas praias, o mercado nacional será importante na comercialização deste novo produto, mas as empresárias acreditam que há muito potencial no mercado externo.
“Não existe em mais lado nenhum do mundo um produto com estas características para este tipo de aplicações”, revela Joana Tavares. Espanha será um mercado preferencial, mas a vontade é de estar noutros países com costa e praia.
A internacionalização é objectivo para 2019. Com este produto, a Pneugreen Pavimentos espera reforçar as exportações, que significam já cerca de 30% do total das vendas.
Mas se as exportação da empresa são actualmente feitas sobretudo através do canal de revenda, com este novo produto a empresa quer chegar directamente ao cliente final. O “elevado valor acrescentado” deste novo tipo de deck faz acreditar que é possível eliminar a intermediação, o que também permitirá à Pneugreen rentabilizar melhor o produto.
“Vai ser um caminho árduo, mas os outros países olham para a indústria nacional pela qualidade a um preço simpático e isso pode ser uma oportunidade, num mercado europeu invadido por produtos de menor qualidade vindos da China”, sustenta.
Outro mercado com potencial para este produto é o hoteleiro, onde a empresa até já tem clientes no segmento dos parques infantis.
O novo estrado vem preencher uma fase do ano em que a produção da empresa baixava. Será fabricado sobretudo entre os meses de Janeiro e Março, para ser vendido nos meses que antecedem o Verão.
“A nossa indústria tem sazonalidade e precisávamos de produtos que nos ajudassem a manter a estrutura nas épocas baixas”, explica Joana Tavares.

CRESCIMENTO DE 18%

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Desde que foi fundada em 2011, a Pneugreen Pavimentos tem crescido sempre. No início numa ordem dos 7% a 10% ao ano. Em 2016 e 2017 a curva tornou-se mais acentuada, com aumentos das vendas em cerca de 18%, para um total próximo dos 1,5 milhões de euros no ano passado.
Este crescimento foi sustentado pela actividade da própria empresa e ponderado pelas suas gestoras. Os primeiros anos foram para dotar a empresa de recursos, em estrutura e recursos humanos, de modo a crescer pelos próprios meios. E se tudo começou com duas pessoas na produção e cinco no conjunto das duas empresas, hoje o número de colaboradores cresceu para 20, dos quais 17 na produção.
Este ano estima-se que o volume de negócios se mantenha, porque uma boa parte das vendas são para obras públicas e estas estagnaram por dois motivos principais: uma primeira metade de ano chuvosa, e tratar-se de um ano pós-eleitoral.
A empresa já consegue reutilizar cerca de 110 toneladas de borracha, das 140 toneladas que recicla através da Pneugreen – Recolha e Reciclagem. No entanto, as empresárias realçam que esta é uma indústria cara. “Para dar um lucro pequenino é preciso trabalhar muito”, realça Carla Mota. O que encarece a actividade são os recursos humanos, os custos energéticos e os ligantes de borracha, um material à base de poliuretano, “que é caríssimo e tem aumentado muito no último ano”, refere Joana Tavares.

Uma referência na Europa

A Pneugreen foi fundada em 2005 por Joana Tavares e Carla Mota, com o compromisso de recolher e reciclar as cerca de 300 toneladas de pneus consumidos mensalmente no Oeste.
Em 2011 foi fundada uma segunda empresa para transformar a borracha reciclada.
A empresa foi desenvolvendo os seus produtos, quer em termos de gama, quer da fórmula da sua composição (que varia entre 90% a 95% de borracha reciclada e ligante à base de poliuretano), muito com base em pesquisa própria e tendo a industria alemã como referência.
O piso para parques infantis é actualmente o principal produto e é aplicado de norte a sul do país. “Temos crescido em credibilidade”, realça Joana Tavares, explicando que quando chegaram a esta indústria havia a reputação do que havia no mercado não era a melhor. “Tivemos que fazer essa “limpeza”, mostrar que tínhamos outro conceito e outra forma de estar”, realça.
A gama da Pneugreen assenta na diversidade de cores e da dinâmica criativa na concepção dos parques infantis, cujos pisos são aplicados no local pela equipa da empresa. Algo que a empresa se orgulha é aplicar um cariz “muito mais artístico do que industrial”, refere Joana Tavares.
Isto faz com que muitas das autarquias já procurem directamente a empresa para montar este tipo de estrutura no seu espaço público.
A empresa desenvolveu também gamas de produtos para ginásios, cujas vendas são já equiparadas às dos parques infantis, e uma gama equestre. O denominador comum é serem pisos confortáveis e de fácil manutenção e higienização. Joana Tavares afirma que o sucesso destes produtos é que, para cada finalidade, há especificações diferentes que são respeitadas.
A capacidade de desenvolvimento de produto, e o reconhecimento que a Pneugreen tem merecido inclusivamente no estrangeiro, permitiu ainda à empresa entrar num restrito mercado de produtos técnicos para a área da construção. “São produtos que não estão no nosso catálogo, porque são feitos à medida, e que temos instalados em todo o mercado europeu”, adiantou Joana Tavares. Estes produtos estão presentes em diferentes estruturas com a função de dissipar vibrações. “Temos clientes que nos reconhecem como os principais fabricantes a nível europeu pela qualidade, rigor e solidez, o que nos tem fortalecido”, acrescenta.
O crédito que a empresa tem conquistado pelo factor qualidade, tanto a nível interno como externo, deve-se muito à resiliência das duas empresárias num negócio de homens. “Não é fácil ser empresário em Portugal, principalmente quando se é mulher em negócios com homens, mas trabalhamos muito e não nos encostamos à espera que as coisas aconteçam, porque temos 20 pessoas e 20 famílias com as quais não queremos falhar”, afirmam.

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