Chama-se Quinta Várzea da Pedra e tem o mesmo nome da Quinta onde é produzido, no Bombarral. As primeiras garrafas de vinho surgiram este ano pela mão de Tomás e Alberto Emídio, dois irmãos que pegaram numa tradição de família – o avô já produzia vinho – criando numa nova marca de vinhos. O projecto destes dois caldenses avançou graças a uma candidatura a fundos comunitários, no valor de 350 mil euros, tendo sido comparticipada em 60%.
É no Bombarral, próximo da Adega Cooperativa, que fica a Quinta Várzea da Pedra. Chamam-lhe a Quinta do Quintas, numa referência a José Nunes Quintas, o antigo proprietário e bisavô materno de Tomás e Alberto Emídio. Estes dois caldenses, de 31 e 40 anos, que inicialmente pouco percebiam da ciência do vinho, quiseram pegar nas vinhas da família e produzir o apreciado néctar.
Mas a novidade não é esta, pois já o avô Quintas Júnior o fazia. Só que o vinho não era comercializado, não tinha uma marca, embora fosse vendido para a Zona do Vinho Verde (Minho e Douro). Tomás Emídio lembra-se de na sua adolescência, ainda o avô era vivo, produzirem-se na Quinta 90 mil litros de vinho. “Mas sei que ele chegou a produzir 200 mil”, conta.
Além das vinhas, o avô também tinha gado e mais tarde pomares de pêra rocha. Assim que começava a campanha da fruta, no início de Agosto, chegavam à Quinta mais de cinquenta pessoas. Ficavam ali hospedadas até Outubro, pois também participavam na vindima.
O que Tomás e Alberto quiseram fazer foi recuperar o que entretanto, com o falecimento do avô, ficou estagnado. Tanto que o vinho deixou de ser produzido, vendendo-se apenas as uvas. O Portugal 2020 foi uma alavanca para avançar com o projecto. “Nós já tínhamos os recursos físicos, mas era necessário modernizá-los”, afirma Tomás Emídio.
A candidatura a fundos comunitários, apresentada em 2015, incluiu a requalificação de vinhas e obras na própria adega, assim como um conjunto de incentivos aos jovens agricultores, nomeadamente ao nível de formação (nenhum dos irmãos tinha conhecimento do sector vitivinícola). O apoio monetário que receberam permitiu-lhes adquirir cubas de inox para a adega, substituir o telhado e incorporar um novo sistema de refrigeração. Actualmente a adega tem melhores condições e capacidade para armazenar 80 mil litros de vinho.
APOSTAR NA QUALIDADE EM VEZ DE QUANTIDADE
No tempo do avô Quintas, as castas plantadas davam muitos litros de vinho, agora a nova selecção feita pelos irmãos, em conjunto com o enólogo Rodrigo Martins, resulta num vinho de qualidade. “Preferimos a qualidade à quantidade”, realça Tomás Emídio, acrescentando que têm 15 hectares de vinhas, uma das parcelas com videiras de cinco anos. As restantes plantações são mais recentes.
Em 2015, a Quinta Várzea da Pedra produziu 50 mil litros de vinho (82 toneladas de uva) e este ano estima-se um aumento de 20%. As principais castas são Fernão Pires e Arinto na gama dos brancos, Touriga Nacional e Syrah ao nível dos tintos.
“O intuito do projecto é tirar partido da nossa localização e apostar mais nos brancos e vinhos frescos, mantendo o processo o mais tradicional e fiel possível à natureza”, explica o jovem, salientando que não utilizam máquinas para apanhar a uva. “Queremos que a apanha seja manual e que as uvas sejam vindimadas à antiga, pisadas com o próprio pé”. Isto porque faz parte da política da marca praticar uma agricultura sustentável que respeite ao máximo o ambiente, de forma a reduzir o uso de produtos químicos.
A equipa permanente da Quinta Várzea da Pedra é composta por quatro pessoas, mas em altura de campanha chega a empregar 30 pessoas contratadas a empresas de prestação de serviços. “Temos muita dificuldade em contratar jovens, o pessoal novo não quer vir para a agricultura porque diz que é um trabalho duro e antigo… o que faz com que a maior parte dos colaboradores seja reformada ou desempregada”, revela Tomás Emídio.
RÓTULOS COM HISTÓRIA
Designer de profissão, coube-lhe a tarefa de desenhar os rótulos. Tomás inspirou-se nas “tradições do amanhã”, utilizando garrafas semelhantes às antigas de cinco estrelas e criando desenhos inspirados no padrão dos mosaicos do alpendre da Quinta (que remontam aos anos 30). “Como designer sempre me fascinou o mundo da imagem dos vinhos, porque por detrás de uma garrafa há sempre uma história para contar: seja da Quinta, de quem toca nas uvas, de quem as esmaga ou de quem engarrafa o vinho”, conta. E acrescenta que se o vinho for de qualidade, a relação que o cliente estabelece com a garrafa torna-se mais duradoura graças a detalhes como os rótulos.
Tomás Emídio também salienta que a marca quer proporcionar às pessoas experiências relacionadas com o precioso líquido, dando o exemplo deste ano, em que convidou alunos da escola Swing Station para pisarem uvas ao som de música dos anos 20.
Com os primeiros vinhos a serem apresentados em 2016, principalmente em provas particulares, as garrafas da Quinta Várzea da Pedra poderão ser compradas em breve através do site da empresa (que ainda se encontra em construção) e da distribuidora Authentic Wines. Além disso, a marca também se encontra em negociações com garrafeiras. O seu lançamento oficial está previsto para Fevereiro do próximo ano.
ALÉM DO VINHO, A PÊRA
Aos 15 hectares de vinha juntam-se oito hectares de pêra rocha. Os dois irmãos também se dedicam à produção deste fruto (que é certificado), tendo este ano apanhado 154 toneladas de pêra, mais 10 do que em 2015. “A pêra rocha devia ser mais valorizada, porque a do Oeste é a que tem mais qualidade e é única no mundo”, diz Tomás Emídio, que admite a possibilidade de criar um produto que faça a ligação entre a pêra e o vinho.