Recordamos a história deste restaurante, que abriu em 1995 nas Caldas com uma fachada imponente e que se tem distinguido desde a sua fundação
Há 30 anos abria nas Caldas o restaurante Sabores d’Itália, com uma fachada imponente, que atraía a curiosidade. Norberto e Maria João Marcelino recordam à Gazeta estas três décadas de trabalho.
Norberto é natural da Lourinhã, mas tinha estudado nas Caldas, nos Pavilhões, quando abriu como Liceu. Maria João, da Usseira, também estudou nas Caldas, mas nem foi na cidade termal que se conheceram. Já depois de casarem foram para a Suíça trabalhar para a hotelaria. Vindos ambos de famílias que tinham pequenos comércios, estavam habituados ao contacto com o público. Além disso, o domínio de línguas permitiu-lhes integrarem-se profissionalmente mais rápido.
Da Suíça foram convidados para trabalhar no Palácio do Buçaco, onde ficaram três anos até, em 1995, abrirem, em sociedade com um casal amigo, os Sabores d’Itália. “Tínhamos estudado aqui e o outro casal também era da região, mas estava na Suíça”. Nesse país a dupla trabalhara num restaurante italiano de luxo, numa equipa que ganhava as olímpiadas de cozinha. Depois, foi também a perceção de que “cá temos muitos produtos que podemos utilizar dentro da cozinha italiana e muitas vezes não usamos” que os levou a inspirar-se e a apostar num restaurante que trouxesse os sabores d’Itália. Iam buscar cogumelos Boletus à zona de Coruche. No primeiro ano foram 180 quilos e no segundo 600 quilos que congelavam a vácuo para ter o ano inteiro, algo que atualmente não sentem necessidade. O objetivo foi desde o início marcar a diferença, até com a fachada imponente. “Foi apelativo e deu logo resultado”, recorda. “Para montar a fachada do restaurante foi preciso contratar uma grua, porque era uma pedra prensada, pensava talvez mil e tal quilos, a rua teve que ser fechada entre os CTT e a rotunda da Praça 25 de Abril, com a Polícia e isso juntou muita gente”. Do primeiro dia recordam que Norberto não dormiu, passou a noite a mexer os gelados, porque ainda não tinham máquina. “Foi tudo uma novidade, o programa de computador obrigou o técnico a ficar o dia todo”, recorda Maria João, lembrando outra peripécia, “não conseguimos fazer pão, a tua irmã teve que ir ao supermercado comprar para a abertura”. “Abrimos a porta e dez minutos estavam as mesas todas ocupadas, houve esquecimentos, clientes a esperar duas horas”, lembram. Eram os primeiros dias. “Dissemos, nunca mais abrimos um restaurante a um sábado, mas quando viemos para aqui abrimos no dia 15 de maio… a um sábado!”, exclamam, entre risos.
Os dois primeiros anos foram difíceis”, admitem, mas rapidamente conquistaram clientes. Se inicialmente a atividade era mais sazonal, hoje prolonga-se ao longo de todo o ano. A mudança para o espaço atual, na Praça 5 de Outubro, deu-se em 2010. Pagavam uma renda cara e decidiram adquirir um imóvel, que reconstruíram totalmente. São, na mesma, 50 lugares, mas com uma área e conforto maior.
O casal atravessou a época da Troika e do IVA a 23% para a restauração. “Foi catastrófico”, carateriza Maria João, notando que “já aqui vivemos momentos de aflição”. Nessa fase, cerca de 80% dos clientes eram portugueses, muitos da função pública. “Num sábado, em outubro, tínhamos isto cheio e no seguinte tivemos 12 clientes. Depois haviam dias seguidos a zero, tivemos que despedir pessoas, não havia dinheiro para substituir toalhas e pratos, não entrava dinheiro, não havia clientes”, recordam com mágoa. Foi também nessa fase que Maria João mudou da sala para a cozinha. “Conseguimos sempre honrar compromissos, apesar de não recebermos salários, os fornecedores recebiam e os ordenados eram pagos ao fim do mês, nunca falhámos e, à época, receberam sempre mais do que nós, sempre gostei de pagar bem, dentro do que posso”. Depois dessa fase, em vez de 80% portugueses, houve uma inversão total e, mais tarde, viria a equilibrar-se para os 50%, sendo que, mais recentemente e com a subida da taxa Euribor, voltou a sentir-se o mercado nacional a retrair-se. Outro período complicado foi a pandemia, mas “a crise de 2011 foi pior”. Na pandemia “no último dia antes do fecho tivemos uma mesa”. Mas depois estiveram apenas “dois dias em casa e começámos a fazer take-away os dois sozinhos”, contam.
Ao longo dos anos somam-se as distinções em vários meios. A primeira foi ao fim de cinco anos, numa revista de vinhos, mas rapidamente vieram mais, num restaurante que está no Guia Michellin há mais de 20 anos. As vitórias nos concursos de gastronomia das Caldas, organizados pela ACCCRO, também foram relevantes para afirmar o restaurante na cidade. O amor à hotelaria nota-se em cada palavra do casal. “Conhecemos muita gente”, realçam, contando dos clientes de há 30 anos, uns de Faro, outros de Viana do Castelo. O serviço cuidado e o trato afável, simpático e doseado aliados à qualidade da comida têm caracterizado estas três décadas dos Sabores d’Itália nas Caldas. ■