A ideia de que “trabalho bem porque trabalho muito” foi desmistificada pelo consultor João Diniz, para quem trabalhar horas a fio não é a receita para o aumento da produtividade.
O convidado do encontro “21 às 21” comparou o bom modelo da Alemanha ao mau exemplo de Portugal, país este que é pouco exigente com a educação, tolera a incompetência e é averso ao planeamento e à avaliação.
O também deputado municipal do CDS foi o convidado do MVC (Movimento Viver o Concelho) para falar sobre produtividade e começou por dizer que a História se repete, pois de século para século Portugal comete os mesmos erros. “Sempre que tivemos momentos gloriosos de riqueza, acabámos por desperdiçar o potencial que tínhamos em mãos”, prosseguiu o convidado, dando como exemplos a edificação do Convento de Mafra no reinado de D. João V com o dinheiro que chegava do Brasil e a “febre” das auto-estradas, construídas sem peso e medida “quando Portugal entrou para a CEE e recebeu novamente muito dinheiro”.
Pondo os pontos nos is, João Diniz desmistificou desde logo a ideia de que produtividade é sinónimo de trabalhar muito. “O que realmente define produtividade não é a quantidade de trabalho realizado, mas a qualidade desse mesmo trabalho”, explicou o consultor, acrescentando que a capacidade de acrescentar valor (riqueza) ao custo dos inputs de uma empresa é outro factor determinante na medição da produtividade. Mais: uma empresa é tanto mais produtiva quando “mais trabalho de qualidade gerar no menor período de tempo”.
É com base neste princípio que, nalguns casos, João Diniz aconselha os gestores das fábricas a pararem de produzir. “Nem sempre ter muitas encomendas significa obter muito lucro, pelo contrário, se os custos de produção forem superiores ao resultado das vendas, então é preferível estar quieto”.
Por isso, conclui-se que a quantidade de trabalho não é proporcional ao valor criado. No limite dos limites até existe a possibilidade de “trabalhar muito e, no final, nem sequer criar valor porque o produto não é vendável”.
Do que depende então o valor criado? Por um lado, do reconhecimento de mercado (isto é, duas camisas exactamente iguais não “valem” o mesmo se numa delas estiver estampado o crocodilo da Lacoste) e, por outro, da eficiência produtiva, ou seja, da quantidade de desperdício gerado tanto nas operações de produção como na logística.
Portugal versus Alemanha
Fazendo agora a comparação entre Portugal e Alemanha, João Diniz enfatizou que os alemães, trabalhando menos horas, produzem mais. Porquê? Na sua opinião a resposta encontra-se em três factores: “os alemães são brutalmente exigentes com a educação e não toleram a incompetência. A isto acrescento ainda o facto dos portugueses não gostarem de planear nem de serem avaliados”.
Sem precisar de sair das Caldas, João Diniz exemplifica um caso de “incompetência tolerada”, mostrando ao público uma imagem da calçada da cidade em que as pedras foram mal colocadas e o padrão incorrectamente conseguido.
Por outro lado, o país não vê com bons olhos a avaliação aos profissionais “porque encara esse momento como uma punição e não como uma oportunidade para os pontos fracos serem identificados e, consequentemente, melhorados”.
Para se justificar no campo da educação, ou melhor, da falta dela, o consultor apoiou-se nos números divulgados pela OCDE, que apontam que 13% dos jovens portugueses que terminam o 9º ano não sabe ler nem fazer contas básicas.
Substituição do empregado pela máquina?
Uma das questões mais levantadas durante o debate foi o posicionamento das empresas quando se torna mais rentável substituir um ou mais empregados por um equipamento. Neste ponto, João Diniz também se mostrou claro, colocando-se a favor do progresso tecnológico, pois o grande objectivo de uma empresa é o lucro. A seu ver, esta não é obrigada suportar o custo social de ter empregados quando há máquinas que os substituem.
E deu um exemplo: “o que fizeram os ferradores de cavalos quando apareceram os automóveis?”. A profissão extinguiu-se praticamente devido ao progresso tecnológico.