Um novo curso para formar ceramistas vidreiros

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O primeiro Curso de Especialização Tecnológica (CET) – Ofícios de Arte – Cerâmica e Vidro que decorreu no Cencal das Caldas da Rainha e na Marinha Grande teve 12 formandos. Estes terminaram a formação geral e tecnológica desta acção e vão agora estagiar em ateliers e em empresas da região.
Trata-se de uma formação pioneira no país pois pela primeira vez une-se a aprendizagem dos dois ofícios: a cerâmica e o vidro.
“Pela primeira vez juntámos numa só formação os perfis de ceramista e do vidreiro”, disse Ana Bica, directora do Cencal acerca deste curso, feito à semelhança do Metiers d’ Art francês.
A ideia agradou a, pelo menos, 70 inscritos, dos quais foram seleccionados 15, tendo terminado 12.
Entre os selecionados estão formandos do distrito de Leiria, de Braga, de Setúbal, que ficaram alojados no Cencal. A maioria estava desempregada, possui o 12º ano, se bem que há alguns licenciados e um mestre. Este e outros cursos na área da cerâmica estão a ter grande procura, graças à retoma que se começa a sentir no sector.

CET contempla duas vagas na ESAD

“As duas artes do fogo têm a mesma génese e as materiais primas usadas também são comuns”, disse Rosa Rocha, coordenadora do CET, para quem faz sentido unir os dois ofícios. A maioria dos formandos pretende abrir o seu próprio espaço de trabalho. Mas há ainda outras vantagens para quem frequenta este CET, já que este contempla duas vagas para integrar o curso superior de Design de Cerâmica e Vidro na ESAD o qual terá equivalência em algumas disciplinas.
Ao longo dos anos “temos tido alunos da ESAD que vêm aqui complementar a sua formação”, disse Rosa Rocha. Com este CET inverte-se o processo. Para a responsável era bom que a cooperação entre a escola de artes e o centro de formação caldense pudesse ainda ser maior.
As formadoras Teresa Lima e Joana Silva, das áreas da cerâmica e do vidro, respectivamente, referiram que este primeiro grupo era heterogéneo, mas muito dedicado. Ambas referiram que esta ação lhes dá uma formação polivalente que também permite dar um novo alento à área do vidro cujas aprendizagens das técnicas “estava até agora um pouco adormecida”, disse Joana Silva.
A formação incluiu 150 horas de formação cientifica, 850 horas da componente tecnológica (cerâmica e vidro) e 450 horas de formação em contexto de trabalho. O Cencal tem prevista a abertura de uma nova edição deste CET em finais de 2015.

 

Amélia Santos, 43 anos, Caldas
“Sou licenciada em Sociologia e tenho mestrado em Antropologia. Sem emprego, comecei a trabalhar no atelier de cerâmica do meu marido em A dos Francos. Com este CET estou a apostar na minha formação de base na cerâmica que me permita trabalhar de forma autónoma e a desenvolver as minhas próprias peças.
Estou a gostar muito de desenvolver projectos com a cerâmica e também adorei trabalhar o vidro. Estou interessada em desenvolver trabalhos nas duas áreas. Este foi apenas o início de uma formação que acho que deve ser contínua pois estamos sempre a aprender mais”.

Eduardo Fornelos, 45 anos, Caldas
“Sou camionista internacional e moro nas Caldas. Sou brasileiro e sempre gostei de cerâmica sobretudo da azulejaria antiga. A minha mãe colecciona pratos e sempre cresci com algum contacto com a cerâmica. Este está a ser um curso muito bom, voltado para as necessidade de mercado. Foi muito interessante trabalhar o vidro.
Agora é preciso recuperar o espaço anteriormente perdido, divulgar e inovar a parte da cerâmica contemporânea. Tenho um projecto de montar um estúdio para fazer as minhas próprias peças aqui nas Caldas da Rainha.”

Vanda Tomaz, 55 anos, Caldas
“A minha área profissional foi durante 30 anos a Contabilidade. Por questões de saúde tive que fazer uma pausa. Como sempre tive muito gosto pelas artes e surgiu esta oportunidade, ingressei neste CET. Sempre tive uma ligação à cerâmica pois a minha mãe fez verguinha, e eu também aprendi. Agora quis fazer este curso que me permite inovar e fazer as minhas próprias peças. Sim tenho a intenção de abrir o meu espaço, depois de concluir o estágio e pretendo trabalhar as duas áreas: a cerâmica e o vidro, já que adorei aprender a trabalhar com este último também.”

Pedro Paz, 23 anos, Sintra
“Esta está a ser uma oportunidade espectacular para desenvolver o meu trabalho nas áreas da cerâmica e do vidro. Eu trabalho na área da conservação e restauro, onde não há grande liberdade criativa.
Com esta formação pretendo fazer peças utilitárias que gostaria de vender, tirando partido de várias técnicas que aprendi para criar pequenas séries.
Está a ser uma experiencia bastante positiva pois dão-nos liberdade criativa e expressiva. Saliento que tivemos dois meses de aprendizagem nas técnicas do  vidro. Nunca é tarde para aprender novas técnicas e realizar novos trabalhos.”