Vindimas registam quebra de produção boa qualidade da uva está garantida

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Recurso a máquinas de vindimar na nossa região permite que o trabalho realizado diariamente, em média por 40 pessoas seja feito apenas por dois profissionais

Quebra de produção acompanhada de boa qualidade das uvas caracteriza as vindimas deste ano na Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa.

As vindimas na Região Demarcada dos Vinhos (CVR) de Lisboa decorrem a bom ritmo, numa campanha que teve início há duas semanas e que se prolongará até ao final desta quinzena. Enquanto as uvas das castas brancas estão praticamente todas colhidas, as vinhas de castas tintas estão, nesta fase, a ser vindimadas nos diversos concelhos. E, apesar da quebra de produção, a qualidade da uva está assegurada.
Segundo o presidente da Direção da CVR Lisboa, organismo interprofissional sediado em Torres Vedras, 2022 é um ano particularmente seco e em que alguns ‘golpes de calor’ estão na base de uma quebra esperada na produção que poderá rondar os 20%.
“A chuva veio ajudar a encher um pouco mais os bagos, mas já chegou tarde e não compensará o que não caiu durante os últimos seis meses”, explicou Francisco Toscano Rico à Gazeta.
Sobre a qualidade dos néctares da campanha deste ano, as expetativas são altas. “Os enólogos estão entusiasmados, sendo opinião quase generalizada que 2022 será um ano muito bom para vinhos brancos. Nos tintos ainda é cedo, faltando ainda vindimar quase metade da área de vinha da região. Se o tempo ajudar, sem precipitação forte até meados deste mês, acredito que também teremos um ano clássico a muito bom nos tintos”, sublinha o dirigente.
Possuindo nove Denominações de Origem Protegidas (DOP), a CVR Lisboa marca a diferença no mercado pela diversidade dos produtos vínicos produzidos nas sub-regiões de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Bucelas, Carcavelos, Colares, Encostas d’Aire, incluindo a indicação das sub-regiões de Alcobaça e Ourém, através da designação “Medieval de Ourém”, Lourinhã e Óbidos.
Os resultados comerciais dos operadores têm vindo a melhorar, ano após ano, em que uma em cada três garrafas que o nosso país exportou foi proveniente desta região. “Quanto ao mercado, os Vinhos de Lisboa atravessam um momento virtuoso, com as vendas a duplicar nos últimos cinco anos, assumindo-se como a região líder do crescimento em termos absolutos e no crescimento da exportação dos vinhos portugueses durante estes últimos anos”, destaca Francisco Toscano Rico.
Mas tudo se alterou com a pandemia e, posteriormente, com a guerra da Rússia em território ucraniano. Segundo o líder da CVR, a partir de setembro de 2021 as fortes perturbações na logística internacional tiveram repercussões importantes nas vendas para o exterior “impactando o desempenho dos Vinhos de Lisboa que tem, como é sabido, o maior rácio de exportação que ronda os 80%”.
São cerca de 50 milhões de garrafas vendidas para mais de uma centena de mercados, tendo como destinos mais relevantes os Estados Unidos da América, Reino Unido e Canadá. Também o início da guerra na Ucrânia provocou de imediato uma retração do mercado agravado pelo “aumento estratosférico no custo dos fatores de produção desde a vinha até á garrafa e transportes”.
Feitas as contas, o aumento que se tem registado no preço de venda dos vinhos está longe de compensar os aumentos nos custos da atividade vitivinícola. Daí que, acredita Francisco Toscano Rico, estas condições irão resultar inevitavelmente “numa deterioração da rentabilidade das duas mil famílias de viticultores e dos 200 produtores de vinho da Região de Lisboa”.
Contudo, nem tudo são más notícias. Em sentido inverso assiste-se a um crescimento muito interessante das vendas na restauração nacional – hotéis, restaurantes e cafés – e no enoturismo, “este último tem crescido a um ritmo quase frenético desde junho”.
De resto, o presidente da CVR Lisboa não tem dúvidas em afirmar que “é no canal Horeca e no enoturismo que estão as melhores oportunidades para a região crescer em valor”. “Por isso, vejo com muita satisfação este desempenho atual da Região o que nos deixa otimistas, embora cautelosos tendo presente o atual contexto geopolítico”, frisa Francisco Toscano Rico.