O erro do “multitasking”
O “multitasking” diz respeito à alternância entre múltiplas atividades. É, frequentemente, entendido como a capacidade que algumas pessoas têm para o fazer e, erradamente, considerada uma “competência” que coloca os seus detentores em posições mais elevadas no ranking produtividade.
No entanto, a alternância entre múltiplas atividades (principalmente ao ritmo com que muitas vezes ocorre hoje em dia) não apenas divide a nossa atenção entre tarefas (ao invés de a multiplicar, como frequentemente é percebido), como ela acresce à nossa capacidade cognitiva a exigência (esforço) da alternância.
Como resultado, a gestão do dia-a-dia torna-se mais comprometedora do bom funcionamento cognitivo e, consequentemente, há uma tendência para a ocorrência de erros, bem como para um prolongamento do tempo de concretização e conclusão das tarefas. Naturalmente, existe também uma ligação entre estes efeitos e a componente emocional. Sobretudo, porque havendo um maior desgaste, há também tendência para uma maior irritabilidade, falta de paciência e intolerância.
Procurando dar um exemplo mais específico sobre o que ocorre em termos do processamento cerebral: se dois objetivos exigem controlo cognitivo, como tentar analisar os detalhes de um cenário complexo na nossa cabeça (memória de trabalho) e ao mesmo tempo se estiver a procurar uma pedra no chão (atenção seletiva), ambos os processamentos estarão a competir pelos recursos do lobo pré-frontal. Neste caso, o processamento da rede neuronal em alternância irá incorrer em diminuição da acuidade e um atraso na realização de ambas as tarefas – quando comparado com a realização de uma tarefa de cada vez.
Tem vindo a ser provado que as pessoas que acreditam serem boas nesta “competência”, na realidade tendem a ser as que têm pior desempenho em situações laboratoriais (de investigação) de multitasking, o que tem levado vários autores a concluir que as perceções de competência em multitasking são pouco fundamentadas e/ou baseadas em evidências.
Claro que muitas pessoas se sentem bem enquanto multitaskers. No entanto, sentir-se bem é diferente de ser eficiente. O multitasking preenche a nossa necessidade emocional de fazer coisas novas e excitantes/entusiasmantes… enquanto, simultaneamente, atrasa o nosso cérebro e aumenta a probabilidade de erros.
O motivo por detrás da constante alternância entre tarefas revela o desejo de alimentar as nossas necessidades emocionais – trabalho ou escola e diversão, ou comunicação/interação social – e não as nossas necessidades cognitivas ou intelectuais.
Mara Castro Correia
Especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações
maracastrocorreia@gmail.com