Esta obra em dois volumes corresponde à reedição actual do trabalho do jornalista Rocha Martins (1879-1952) que era vivo ao tempo dos acontecimentos e entrevistou alguns dos protagonistas duma época em que se tentou de novo estabelecer a Monarquia em Portugal. Em 19 de Janeiro de 1919, um grupo de militares e civis, chefiados por Henrique Paiva Couceiro, proclamou a Monarquia no Porto. Paiva Couceiro estava contra as atitudes internacionalistas dos Governos da I República e avançou com um grupo de conservadores, ex-republicanos e monárquicos para uma acção que definiu como patriótica e nacionalista. O rei D. Manuel II nunca sancionou nem incentivou essa revolta. Esse foi um dos factores que contribuíram para a derrota de Paiva Couceiro e, a prazo, para a ascensão ao poder do Partido Democrático.
Tal como na actualidade, era a classe média que em 1919 tudo ia aguentando: «Todos os dias apareciam novas casas de crédito; os palácios magníficos em que se transformavam os casarões pombalinos da Baixa eram todos templos do Dinheiro; um luxo desordenado se arvorava e os proletários unidos, sindicalizados, venciam nas suas reclamações, indo afectar a classe média, a escravizada, a esfaimada, mercê da sua inércia. O grande camartelo, o pilão rijo dos magnatas especuladores, descia sobre a bigorna do Trabalho, mas no meio encontrava falripas, palhas, destroços, um mundo enorme de desditosos que constituía um heterogéneo vazadouro: era a classe média».
Jornalista que nuca deixou de o ser (Diário Popular, A Vanguarda, Jornal da Noite, Ilustração Portuguesa) foi na República depois de 1945 que José Rocha Martins viu os seus artigos gritados pelos ardinas – «Fala o Rocha, tá o Salazar à brocha!». Nestes dois volumes se faz História e se pratica com brilhantismo a suprema arte da reportagem.
(Editora: Bonecos Rebeldes, Capa: Fernando Martins, Revisão: António Bárcia)
José do Carmo Francisco