Rodoviária
Li, com expectativa, a resposta da administração da Rodoviária do Tejo à carta do leitor Jorge Neto. Identifico-me completamente com as suas reclamações, porque também vivi e constatei casos semelhantes aos relatados. Num artigo de opinião anterior, chamei a atenção para a importância do terminal rodoviário da cidade, o qual se apresenta “escuro, apertado e sem condições adequadas de embarque e desembarque, onde os passageiros nunca sabem as horas efectivas de chegada e de partida”. Neste contexto, considerei inoportuna a instalação do painel de azulejos de Bordalo, o qual merecia maior dignidade.
Acrescentava, nesse artigo, que “por vezes os sanitários estão imundos, os utentes entram e saem pelos mesmos acessos dos autocarros e até já se viu passageiros a embarcar na garagem durante o abastecimento das viaturas”, para concluir com “a má qualidade de alguns autocarros que, além de desconfortáveis, se avariam pelo caminho, a falta de simpatia e de cortesia de alguns funcionários e a total ausência de informação sobre a cidade”. Face a estes problemas, a resposta da empresa só pode ser uma desilusão.
A administração da Rodoviária do Tejo insiste num padrão terceiro-mundista de serviço, classificando como bom aquilo que o leitor demonstra, inequivocamente, que não presta. Depois, refugia-se numa atitude defensiva do tipo “fuga para a frente”, prometendo vagas melhorias que não especifica nem dá garantias de cumprir. Finalmente, copia a conhecida estratégia “socrática” de sugerir que poderíamos estar pior do que estamos, pelo que nos devemos dar por satisfeitos. Tudo muito lamentável, servido num estilo porreirista e com abundante creme amaciador.
Na verdade, interessa muito mais ao público saber o que a empresa projecta fazer, em concreto, para melhorar os seus serviços, do que ler comoventes expressões como “é com o maior prazer e humildade”, “o cliente teve o trabalho e a amabilidade”, “agradecemos e valorizamos”, “continuamos a contar com o enorme bom senso dos nossos clientes”, “não descansaremos enquanto tivermos clientes insatisfeitos”, “consideramos fundamental a existência de concorrência”, “queremos sempre melhorar”, etc.
Finalmente, a cereja em cima do bolo: a empresa vitimiza-se, acusando um tenebroso e misterioso “sistema” de impedir a concorrência leal no sector dos transportes públicos, com o qual seríamos todos coniventes. Poupem-nos! O que os cidadãos caldenses querem, bem como todos aqueles que pretendem visitar as Caldas da Rainha, é tão-somente uma oferta de transportes civilizada, a nível de meios, circuitos, horários, serviços, tarifas e equipamentos. A situação actual é insustentável e, por isso, é necessário lutar contra ela, exigindo responsabilidades aos actuais operadores e organismos de tutela.