Os centros urbanos oferecem muitas vantagens aos seus cidadãos, proporcionando mais possibilidades de emprego, de redução da pobreza, de educação, de acesso à cultura, a cuidados de saúde e apoios sociais. Em contrapartida o crescimento dos centros urbanos é muitas vezes caótico provocando problemas de desigualdades e conflitos sociais, stress, poluição e consequente impacto na saúde.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 80% das áreas urbanas tem níveis de poluição do ar que excedem os limites estabelecidos por este organismo e, em 2012, morreram cerca de 3.7 milhões de pessoas, cerca de 6.7% do total de óbitos, devido à poluição do ar.
As cidades são importantes fontes de emissões de CO2 calculando-se que serão responsáveis por cerca de 70% das emissões de CO2 do sector energético e entre 60 a 80% das emissões de todos os gases com efeito estufa. São também mais vulneráveis às consequências das alterações climáticas dado que muitas se situam nas margens de grandes rios ou em zonas costeiras.
O consumo urbano assenta num modelo linear, que gera inúmeras ineficiências e um crescente aumento do desperdício.
Só a transição para um modelo circular poderá tornar sustentáveis as cidades. No entanto, esta transição não será fácil tendo em conta os avultados investimentos necessários e a mudança de paradigma que implica para os órgãos autárquicos, para as empresas e para os cidadãos.
Uma cidade para se tornar mais sustentável e circular precisa de conhecer o seu metabolismo.
O metabolismo urbano é assim uma “fotografia” dos fluxos de inputs, que uma cidade consome (matérias primas, água, nutrientes, energia) e de como estes se transformam em stock (edificado, infraestruturas) ou em outputs (produtos acabados, águas residuais, resíduos, poluição do ar).
O metabolismo de uma cidade é condicionado por fatores naturais como, por exemplo, a localização geográfica, o clima, o acesso a recursos naturais como a água e fatores humanos como sejam a densidade, a organização espacial, a quantidade de espaços verdes, a política de transportes, a proximidade (a outros centros urbanos e principais eixos de transporte), ao tipo de atividade económica predominante, o edificado (forma de construção, idade e respetiva eficiência energética) e o nível económico dos seus habitantes.
Com estes dados na mão compete aos políticos avaliar que estratégias adotar para tornar mais sustentável o metabolismo da cidade ou mesmo como transformar este mecanismo de linear em circular. Sem conhecer o seu metabolismo urbano uma cidade não se pode tornar sustentável.
O objetivo das políticas a adotar será reduzir a necessidade de inputs tornando a cidade mais autossuficiente ou mesmo excedentária quer em termos de produção de energia ou de produção alimentar, quer em termos de consumo de matérias-primas e água.
Se uma cidade promover hortas urbanas ou combater o desperdício alimentar estará a reduzir a sua dependência alimentos vindos do exterior, se produzir energia renovável e promover a eficiência energética precisará de importar menos energia. Se reutilizar, partilhar ou reciclar os diferentes produtos significa que produzirá menos resíduos e necessitará de comprar menos matérias primas ou produtos acabados. Se apostar na eficiência do consumo de água ou na sua reutilização reduzirá a importação de água.
Todas estas iniciativas contribuem para tornar mais circulares e sustentáveis as cidades, mas também para a respetiva redução das emissões de CO2 dando um importante contributo para o cumprimento do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.
Paulo Lemos
pagulit@gmail.com
































