Uma análise às últimas eleições legislativas

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João Frade
jurista

No passado dia 18, os portugueses foram chamados às urnas pela terceira vez em eleições legislativas num intervalo de apenas três anos, o que reflete um mal-estar político que se tem vindo a evidenciar nos resultados eleitorais.

Temos assistido um pouco por todo o país a uma mudança nos padrões eleitorais, com o partido CHEGA a registar um crescimento significativo, fruto de uma desilusão crescente do eleitorado que tem castigado os partidos tradicionais, especialmente os integrados no chamado arco de governação.

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Esta tendência é evidente a nível nacional, no distrito de Leiria e Caldas da Rainha não é exceção. O CHEGA consolidou-se como força política em ascensão no país, com um crescimento de 7,18 % em 2022 para 22,56 % em 2025 a nível nacional e de 8,06 % para 23,03 % em Caldas da Rainha no mesmo período. Em contrapartida, o PS sofreu uma queda significativa de 41,37 % para 23 % a nível nacional e de 36,56 % para 20,15 % em Caldas da Rainha. O CHEGA foi mesmo o partido mais votado em três concelhos do distrito (Peniche, Nazaré e Marinha Grande), curiosamente, concelhos onde o PCP tinha grande influência. As sondagens de 2025 evidenciam ainda uma polarização geracional nas intenções de voto em Portugal, onde o CHEGA emerge como força dominante entre os jovens adultos, enquanto PS e AD mantêm apoio sobretudo entre os eleitores mais velhos.
Sucessivos escândalos de corrupção e questões de conflito de interesses têm contribuído para a perda de confiança nos partidos tradicionais e o CHEGA, com a sua retórica anti-estabelecimento, tem sabido aproveitar o descontentamento do eleitorado.

A emergência do CHEGA introduziu uma nova variável no equilíbrio político nacional, com uma postura fortemente crítica do sistema político e judicial, um discurso disruptivo e apelo a setores da sociedade que se sentem desiludidos ou excluídos pelo mainstream político, através de uma retórica centrada na insegurança e na crítica à corrupção e política de imigração. Estes temas encontram particular ressonância junto de eleitores das classes médias-baixas, residentes em zonas do interior ou suburbanas, onde se sente maior abandono do Estado e erosão dos serviços públicos, reforçando a perceção de que as diferenças programáticas entre PS e PSD se esbateram e de que ambos representam um bloco central alheio às necessidades quotidianas dos cidadãos.
Este crescimento não é um mero reflexo de protesto conjuntural, mas expressão de uma transformação profunda do espectro político português, tradicionalmente marcado pela alternância entre PS e PSD.

Conseguirá o CHEGA ganhar umas eleições legislativas? Tal poderá acontecer se mantiver a tendência de captação de eleitorado, se o país for, em termos económicos, afetado por uma grave crise e se PSD e PS não se souberem renovar nem oferecer alternativas credíveis para os problemas reais das pessoas.

E os últimos indicadores económicos conhecidos parecem indicar que uma crise já estará a bater à porta do país…”

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