A emblemática Pastelaria Machado foi o local escolhido pelo Bloco de Esquerda (BE), a 8 de Julho, para apresentar os seus candidatos à Câmara e Assembleia Municipal. Assumindo-se contra os poderes instalados, o imobilismo e o conformismo, esta candidatura apela a uma maior mobilização das pessoas e das solidariedades, como resposta à crise. “Só a solidariedade pode vencer a austeridade”, defendeu o candidato à Câmara, Carlos Carujo.
“Candidatamo-nos porque não nos resignamos com a bactéria liberal nem com o vírus conservador do imobilismo. Para dar cabo deles propomos uma política criativa”. Foi desta forma que o professor, actualmente desempregado, Carlos Carujo, apresentou no passado dia 8 de Julho, a candidatura do BE às Caldas da Rainha.
O candidato referiu-se à bactéria que frequentemente tem afectado o Hospital Termal para, de forma metafórica, falar na cidade e na falta de investimento de que esta é vítima. “À nossa bactéria poder-se-ia chamar incompetência e liberalismo”, disse, acrescentando que estes são a única coisa que parece ser irrevogável na política dominante.
Carlos Carujo começou por dizer que não quer fazer carreirismo na política e que se candidata no plural, ou seja, quer a participação de todos para intervir nas causas fundamentais para o concelho e pela urgência de um projecto colectivo mobilizador para as Caldas da Rainha.
Entre as prioridades apresentadas estão a criação de um programa de emergência social que apoie as vítimas da crise, a aposta num projecto de reabilitação urbana, “que não fique por uma intervenção cosmética, casuística e limitada”, e o aprofundamento do plano de desenvolvimento local participado com vista à criação de emprego de qualidade.
Carlos Carujo quer também bater-se pela defesa dos serviços públicos, nomeadamente da água como bem público, da dragagem permanente da Lagoa de Óbidos, do termalismo, da escola pública, do Sistema Nacional de Saúde e dos serviços públicos de proximidade, como é o caso dos Correios.
Os bloquistas defendem uma democracia mais participativa, que deve inverter as escolhas particulares em nome do bem comum. Também a solidariedade é uma das suas bandeiras, como forma de diminuir as desigualdades e também porque só ela “pode vencer a austeridade”.
Fernando Poeiras, mandatário político do BE nas Caldas e professor na ESAD, disse que as candidaturas do BE são por uma “maior dignidade e justiça”. Considera que “o nosso sentido de liberdade e justiça deveria impulsionar-nos a reunirmos e a discutir mais e a agir em comum”, mas o que está a acontecer é uma maior tendência ao conformismo.
Na raiz desse conformismo está, na opinião do responsável, uma certa indiferença e medo crescente, tal como um isolamento da vida em comum.
Bloco preparado para integrar governo
Lino Romão candidata-se à Assembleia Municipal e apelou a uma grande adesão da população nas eleições, que considera “histórica”, pois é a primeira vez em mais de 20 anos em que não se “candidata o dinossauro habitual”, disse, referindo-se a Fernando Costa.
O candidato considera que nestas eleições poderá haver alguma mudança e apelou à mobilização, lembrando que a maioria social-democrata foi eleita com 11 mil votos, num concelho com mais de 45 mil eleitores.
Lino Romão recordou que nas Caldas o BE teve pela primeira vez eleitos nos órgãos autárquicos no ultimo mandato e estes mostraram capacidade de iniciativa e foram exigindo um conjunto de medidas e acções que a Câmara “por uma certa inércia”, foi empurrando para a frente.
O candidato disse mesmo que a maioria PSD é, “do ponto de vista democrático, gente de pouca confiança”, pois foi feita uma reorganização administrativa e os presidentes de Junta que estavam no seu último mandato, vão agora ser reconduzidos, pois a sua freguesia altera a nomenclatura. Além disso, “esses senhores traziam todos mandatos das suas assembleias de freguesia para votarem contra a reorganização administrativa e, sem qualquer pudor, em obediência do chefe local, votaram a favor dessa reorganização”, denunciou.
O BE quer contribuir para a elevação do debate, com a discussão de ideias para a cidade, ao invés de discutir pessoas e monopolizar as questões.
Vinda directamente do Palácio de Belém onde esteve reunida com Presidente da República, Catarina Martins, coordenadora do BE, também falou da necessidade de mobilizar as pessoas para votar nas próximas eleições de 29 de Setembro.
De acordo com a responsável, esta apresentação é feita numa altura em que o país atravessa uma situação “instável, insana e a que não vemos como responder”.
Na reunião com Cavaco Silva, a dirigente bloquista defendeu que a situação política no pais é “insuportável” e que não há neste momento um governo com legitimidade e que a única forma de acabar com isso é marcando eleições.
O BE defende ainda que as eleições legislativas tenham lugar quanto antes, até porque se forem ao mesmo tempo levará a que as questões autárquicas sejam preteridas em relação às nacionais.
Catarina Martins disse ainda que o Bloco está preparado para integrar um governo que tenha como objectivo renegociar a dívida, “rejeitando as condições de política económica impostas pela troika”. O BE está, assim, preparado para uma solução de governo que torne a “dívida sustentável”. A deputado acrescentou ainda que não querer renegociar a dívida é usá-la permanentemente “como chantagem para continuar a atacar salários, pensões e serviços públicos”.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt