
Embora as próximas eleições em 2013 sejam as autárquicas, e estejam a ser tomadas medidas ao nível da reorganização administrativa, o Partido Socialista ainda não tem um interlocutor nacional para esta matéria, o que não agrada aos responsáveis locais.
A questão foi colocada por Jorge Martins, vereador do PS na Câmara do Bombarral, durante o plenário distrital de militantes do partido, que teve lugar a 9 de Dezembro no Centro Cultural das Caldas da Rainha.
O convidado especial deste plenário foi o líder da bancada do PS na Assembleia da República, Carlos Zorrinho, que lembrou que o secretariado nacional tem cinco presidentes de câmara, mas que ainda não existe ninguém claramente com o pelouro das autarquias locais.
Carlos Zorrinho nasceu em Óbidos e estudou nas Caldas da Rainha, na escola Secundária que funcionava nos pavilhões do Parque. Segundo o próprio, foi nesta região que “cresci como político”. O socialista realçou ainda o facto de ser nas Caldas da Rainha “que vive o nosso líder e por isso é uma cidade com um simbolismo especial” para o PS.

Embora saliente que o partido está a viver “um novo ciclo”, Carlos Zorrinho afirmou que tem “um grande orgulho do ‘velho ciclo’”. Segundo o dirigente, neste novo ciclo “há um apelo muito forte a uma maior participação dos militantes na vida política do partido”, admitindo que isso é mais fácil quando se está na oposição. “Quando estamos no governo há uma tendência clara para a centralização da actividade política no pólo desse governo”, disse.
Na sua opinião, “vai haver cada mais gente que olhará para nós como alternativa de esperança, perante um governo que baixou os braços e não tem alma”.
Carlos Zorrinho lembrou que o PS é “um partido de poder” que em qualquer momento pode voltar a estar no governo e por isso deve actuar de uma forma responsável. No entanto, acusou o actual governo de não ouvir as propostas dos socialistas.
O líder parlamentar explicou também a abstenção do PS ao Orçamento de Estado de 2012. “Não conseguimos todos os resultados que gostaríamos, mas quisémos contribuir para melhorar o orçamento”, referiu.
Socialistas querem um partido com mais preocupações sociais
Embora normalmente a parte do debate entre militantes nos plenários não esteja aberta à presença de jornalista, neste encontro os participantes não se opuseram que a Gazeta das Caldas acompanhasse os trabalhos até ao final.
Uma das questões mais pareceu preocupar os militantes que estiveram presentes é a do caminho ideológico do partido e do país.
O deputado municipal caldense Jorge Sobral começou por mostrar-se preocupado com as privatizações de empresas de bens essenciais e depois criticou o facto da direcção do PS ter anunciado previamente que o partido se iria abster do orçamento de Estado.
“O que está a ser feito pelo governo é dramático”, afirmou, lamentando que o PS esteja apenas a tentar resolver os problemas no debate parlamentar. Ao contrário do que Carlos Zorrinho disse na sua intervenção inicial, Jorge Sobral acha que o PS também deve ser um partido de protesto e mostrar a sua solidariedade para quem está a sofrer.
“Estamos numa altura fundamental para discutir o papel do Partido Socialista, do ponto de vista ideológico, na nossa sociedade”, afirmou Jorge Sobral.
Para o vereador das Caldas Delfim Azevedo “é preciso que este PS sinta as dores do povo”, sugerindo que apareçam novos protagonistas “que não possam ser nunca confundidos com o passado recente, sempre no interesse no PS e do país”.
Delfim Azevedo acredita que “o futuro vai estar na rua e é importante que o PS saiba defender a rua, defendendo os interesses do país e da democracia”.
Lacerda Fonseca referiu que o actual governo não tem qualquer ideologia e segue a regra “da lei do mais forte, que é o capital” e também disse ser essencial o PS ter atenção às privatizações que estão anunciadas. O socialista adiantou ainda que “o ‘offshore’ é o buraco negro do Estado social” e por isso não pode haver hesitações em acabar com os offshores.
“Nós não vamos construir uma sociedade socialista com os mercados a baterem palmas. Vamos ter que assustá-los mais cedo ou mais tarde”, referiu Lacerda Fonsenca, defendendo a reestruturação da dívida pública.
Segundo o presidente da Federação Distrital de Leiria, João Paulo Pedrosa, em 2012 o PS vai arrancar com um laboratório de ideias no qual serão discutidas também as questões ideológicas. O próprio Carlos Zorrinho ficou entusasmiado com a discussão gerada e mostrou-se disponível para voltar às Caldas da Rainha para um encontro sobre o tema.