“Estamos a ser convocados todos os dias para pensarmos que esta crise nasce dos nossos direitos. Esta não é uma crise de direitos, mas sim uma crise de acumulação de capitais”. O alerta foi deixado por Miguel Tiago, deputado do PCP na Assembleia da República, na Festa de Verão que a estrutura caldense do partido promove todos os anos junto à Lagoa de Óbidos.
Na tarde do primeiro de Julho, perante uma plateia composta por largas dezenas de pessoas, o deputado comunista exortou a que militantes e simpatizantes do PCP se unam contra o que diz ser “um ataque cerrado aos nossos direitos”. Uma batalha na qual gostava de ver até quem não se identifica com o partido, porque “a luta é mesmo o único caminho e não há outra saída para a solução em que estamos”.
Miguel Tiago defende que “a intensidade com que o ataque vem sendo desferido ao povo português é cada vez maior”, a pretexto da crise. É o que se passa com a “ofensiva dirigida contras os serviços públicos, construções colectivas do povo português e que são agoira alvo de cobiça dos grupos económicos”, como acontece nos sectores da Educação, Saúde ou Transportes.
O deputado comunista apontou ainda o dedo à reforma da administração local e à pretensão do actual governo em alterar a lei eleitoral autárquica. “Esta política está claramente orientada para destruir um dos pilares fundamentais da democracia portuguesa”, afirmou.
Em dia de festa e contestação às políticas do governo PSD/CDS-PP, o deputado não esqueceu os altos números do desemprego, que diz não ser uma fatalidade do sistema, mas sim “um instrumento” ao serviço de mais medidas gravosas e da submissão da classe trabalhadora. “Baixar o subsídio de desemprego é uma maneira velada de baixar os salários”, afiançou.
Para Miguel Tiago, os portugueses têm que se unir contra a “ocupação de que o país está a ser alvo”, e que se traduz em medidas que não têm outro objectivo senão “garantir o poder às potências europeias”. Por isso, diz que “cada diz que passar com este pacto de agressão sobre os portugueses é um dia de retrocesso que vai agravar ainda mais a situação”.
Para Miguel Tiago, “a ideia de que se suportarmos agora isto melhora é a mais falsa ideia. Isto só vai parar quando o povo decidir que já chega”, defendeu o comunista.
EXTINÇÃO DAS FREGUESIAS É “LEI ABSURDA”
A presença do deputado à Assembleia da República não desviou as atenções dos problemas locais. Coube a Vítor Fernandes, membro da Assembleia Municipal das Caldas da Rainha e um dos responsáveis da estrutura local do PCP, salientar o aumento do desemprego e do trabalho precário no concelho, o encerramento de muitas lojas de comércio tradicional e de indústrias.
Vítor Fernandes apontou ainda a ofensiva contra o Serviço Nacional de Saúde com a reorganização dos cuidados hospitalares em curso, na qual “a luta das populações tem tido um papel importantíssimo”. As alterações previstas para o poder local também não deixam o comunista descansado.
A extinção de freguesias é “uma lei absurda que revela uma falta de conhecimento do país”, disse. Já quanto à alteração da lei autárquica, a existência de “executivos homogéneos e a bel-prazer do presidente da Câmara pode propiciar o aumento da corrupção e do compadrio”.
A manutenção da Linha do Oeste e das estações de correios de Santa Catarina e de Valado dos Frades, bem como a salvaguarda da Lagoa de Óbidos, também figuraram nas reivindicações de Vítor Fernandes.
Joana Fialho
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