
Fernando Rosas é o cabeça de lista do BE por Leiria. Aposta em medidas para fazer face aos problemas na habitação, saúde e trabalho. A oposição à corrida ao armamento é outra das suas propostas
Carlos S. Almeida
Por que razão avança a sua candidatura em Leiria?
Voltamos como cabeças de lista por causa de um novo contexto internacional com reflexos nacionais incontornáveis: o trumpismo e a ascensão da extrema-direita na Europa, que ameaçam a democracia. Além disso, assiste-se a um esgotamento do centro político, que administrou o neoliberalismo e se afastou das pessoas, como se viu no fracasso da maioria absoluta do PS. E mesmo esta governação breve do governo da AD, no fundo foi a preparação de uma campanha eleitoral, convocada por um primeiro-ministro que, sendo avançado por uma empresa de casinos, em vez de esclarecer esta situação, provoca as eleições. Este centro político revelou-se incapaz de resolver problemas concretos como habitação, saúde, salários e trabalho. É inadmissível que se espere meses por cirurgias ou que se tenha de madrugar por uma consulta. A crise da habitação é um escândalo: o salário médio não chega para pagar rendas nas cidades. Há muita gente que está a viver em barracas que estão a ressurgir nos subúrbios urbanos das grandes cidades. Defendemos um teto nas rendas ajustado à realidade e a construção pública de habitação. Só respondendo a estas necessidades se pode travar a extrema-direita.
Tivemos legislativas há cerca de um ano e o Governo caiu por uma questão particular do Primeiro-Ministro: o que é que mudou no distrito de Leiria do seu ponto de vista, que permite que desta feita o resultado seja diferente?
O que mudou foi o trumpismo dos Estados Unidos, foi a corrida aos armamentos, foi a guerra na Ucrânia, foi o genocídio em Gaza, tudo isso mudou e com grandes repercussões nacionais. Em termos nacionais, temos o afundamento das soluções ao centro. Só se pode responder a esta crise com uma alternativa de esquerda. E vamos procurá-la, reforçando a nossa posição, nomeadamente nos distritos onde já elegemos e queremos voltar a eleger.
É especialista na Primeira República, época pouco marcada pela estabilidade. Esta será também, porventura, uma questão na mente do eleitor num distrito que vota sobretudo ao centro. O que diria a quem procura a melhor forma de garantir um governo estável para decidir o voto no BE?
Um progresso eleitoral do Bloco de Esquerda e da sua representação parlamentar significa criar condições para existir uma alternativa de esquerda em termos parlamentares, porque entendemos que repetir a solução centrista é uma espécie de suicídio do sistema político em Portugal. Temos um primeiro-ministro que, se for reempossado, tem uma crise de credibilidade insuperável. O PS, se ficar à frente na votação, também está numa situação problemática. Ou há, de facto, um reforço da esquerda como alternativa, ou, a curto prazo, vai haver um entendimento entre a direita clássica e a extrema-direita. Há correntes fortes dentro do PSD que o defendem e isso é sinistro para a democracia social e política. Por isso, é preciso uma alternativa à esquerda.
Se for eleito deputado, naturalmente será deputado nacional, mas também pelo Círculo Eleitoral de Leiria. Quais são as grandes questões que Leiria pode levar para o debate nacional para procurar soluções também locais?
Habitação e saúde são prioridades, mas no distrito há ainda dois temas centrais: os transportes e o ambiente. Grande parte do território não tem transporte público. É urgente renovar a linha do Oeste e discutir com seriedade a alta velocidade, um tema local que exige resposta nacional. No ambiente, persistem problemas sem solução: o impasse no Pinhal do Rei, a poluição das águas pelas suiniculturas, os caulinos em Pombal e a drenagem da lagoa de Óbidos. No distrito, há problemas que se arrastam, fala-se, fala-se, fala-se, mas ninguém resolve. Os nossos deputados já levaram estas questões à Comissão do Ambiente e queremos retomá-las com força. Outro problema marcante no distrito de Leiria é o trabalho por turnos, frequente na indústria do vidro e dos moldes. Metade desses trabalhadores são precários e não têm vida, porque à hora que a família ou os amigos se encontram, eles estão a trabalhar.
O que é que propõe como resolução para esta questão?
É preciso estabelecer regras para descanso semanal. Deve haver um subsídio de turno que compense o esforço, deve haver reforma antecipada. Temos um trabalho muito violento e crescentemente precário e mal pago, sem vantagem nenhuma em termos de antecipação da reforma.
Há oposição do BE à corrente armamentista. Como encarar a questão dos conflitos e da necessidade de defesa sem ser nessa perspetiva?
A Europa já gasta três vezes mais que a Rússia em armamento e tem meios de defesa que precisam ser coordenados entre si, mas fora do quadro da NATO, que se tornou num instrumento dos americanos que, neste momento, não são aliados da Europa. Não defendo que não haja defesa na Europa, como é evidente. É necessário coordenar as forças e não fazer um investimento que vai ter efeitos terríveis no rendimento das pessoas, ou seja, nas pensões, nos salários, no investimento público em geral. Aumentar para 3% [do PIB], como se pretende, o orçamento de defesa é uma loucura total, não tem sentido nenhum. Queremos trazer esse debate sobre a guerra e da paz, também ao distrito de Leiria, muito em particular aos setores da sua juventude e vamos tentar fazê-lo na campanha.
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