Jerónimo Sousa nas Caldas da Rainha apelou à luta contra o “programa de agressão” da troika e do governo

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O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, falou nas Caldas da Rainha contra as políticas do governo de direita que têm penalizado os trabalhadores e destruído as empresas e a produção no país. Em contraponto, defende uma política virada para o crescimento económico, com uma aposta na produção nacional, valorização dos salários e as reformas.
“Rejeitar o pacto de agressão. Lutar por um Portugal com futuro”, deu mote ao comício que juntou no pequeno auditório do CCC, na noite de 27 de Abril, perto de 200 militantes e simpatizantes comunistas.

As canções de intervenção, interpretadas pelo grupo “Rubro” preparam a plateia para a intervenção de Jerónimo de Sousa, aguardado por perto de 200 camaradas que o receberam de bandeiras em punho e palavras de ordem como a “luta continua” ou “Assim se vê a força do PC”. E o líder comunista não desiludiu, deixando uma mensagem de confiança que o “melhor do caminho histórico de Abril ainda está por vir”.
Contudo, Jerónimo de Sousa disse não ignorar a situação grave em que se encontra o país, resultado da aplicação do Pacto de Agressão e do seu programa de “ingerência, empobrecimento, declínio e amputação da soberania”. O PCP, que foi sempre contra o pacto, defendia antes a proposta de renegociação da dívida e outra política para o país.
Nas Caldas, o líder dos comunistas falou da recessão económica, do aumento do desemprego e destruição das empresas e da produção nacional. Disse que este não é o rumo certo para o país e que os sacrifícios feitos pela maioria servem para satisfazer os interesses dos que se bateram pela concretização do Pacto de Agressão.

Perto de 200 pessoas participaram no comício que se realizou no CCC

Não faltaram as críticas às políticas que penalizam os trabalhadores, nomeadamente a proposta recente de alteração ao Código do Trabalho, ainda em debate na Assembleia da República, com o objectivo de “reduzir a nada o valor das indemnizações por despedimento”.
Para Jerónimo de Sousa estas propostas são um “esbulho inqualificável” dos direitos dos trabalhadores, concebidas para os “forçar a trabalhar mais por menos dinheiro, aumentar o horário de trabalho, facilitar os despedimentos e destruir a contratação colectiva”.
O secretário-geral do PCP fez também referência ao que considera ser uma ofensiva ao poder local e saudou os eleitos que lutam contra a extinção das freguesias.
Falando da agricultura, Jerónimo de Sousa criticou as políticas que beneficiam os grandes interesses e proprietários, mas que despreza os pequenos e médios agricultores. “Quem não vê os lucros milionários das grandes cadeias de distribuição à custa do esmagamento dos preços pagos à produção?” questionou, acrescentando que os produtores hortícolas ou de carne, desta região, sabem bem que o preço que lhes é pago “mal dá para os combustíveis, para os fertilizantes e para as sementes”.
Jerónimo de Sousa saudou também a luta que está a ser levada pela população do distrito, em defesa dos serviços públicos de saúde. Considera que a reestruturação, “apresentada como tecnicamente perfeita”, não é mais do que do que uma “decisão orçamental de redução de financiamento do SNS e do papel do estado na saúde”. Com o encerramento de serviços os doentes serão obrigados a fazer deslocações de “dezenas de quilómetros, numa região onde a mobilidade está fortemente condicionada por uma rede de transportes públicos insuficiente e com custos muito elevados”, alertou.
Como forma para sair da crise, Jerónimo de Sousa defendeu uma política virada para o crescimento económico, com uma aposta na produção nacional, valorização dos salários e reformas. Também o investimento público necessita de incremento, a par de uma aposta nas exportações de forte valor acrescentado e na diversificação dos mercados externos, salientou.
Jerónimo de Sousa quer ainda que se avance para uma tributação efectiva dos lucros do grande capital, do património de luxo, da especulação financeira, com o objectivo de ir “buscar recursos tão necessários ao desenvolvimento do país, onde eles efectivamente se encontram”.

RETRATO DO DISTRITO

Vítor Fernandes, dirigente do PCP caldense, contextualizou a “gravíssima situação económica e social” que atravessa o distrito de Leiria, resultado das políticas de direita das últimas décadas e agora expressas no pacto de agressão. O responsável denuncia que a política dos governos PS, PSD e CDS/PP têm liquidado uma grande parte do sector produtivo do distrito, levando ao encerramento e definhamento de muitas empresas nos sectores da cerâmica, metalúrgica, mobiliário, cristalaria, panificação, indústria alimentar e têxtil, atirando para o desemprego muitos milhares de trabalhadores.
O também deputado da Assembleia Municipal salientou ainda que nos últimos quatro anos encerraram 875 empresas, sobretudo ligadas aos sectores do comércio tradicional, construção civil, imobiliário e restauração.
“O desemprego não pára de aumentar, atingindo números preocupantes”, disse, referindo-se aos mais de 40 mil trabalhadores desempregados. Os concelhos com os números mais elevados ao nível do desemprego são Figueiró dos Vinhos, Nazaré, Castanheira de Pêra, Alcobaça e Leiria, mas nas Caldas a situação atinge já mais de 4 mil trabalhadores.
A fraca qualidade do emprego, a precariedade, os baixos salários, os bancos de horas e o aumento do horário de trabalho, a contratação a prazo ilegal e os salários em atraso, foram algumas das ofensivas aos trabalhadores também denunciadas.
Vítor Fernandes fez ainda menção a uma situação que considera “escandalosa”, que foi o facto da administração das Faianças Bordalo Pinheiro “ter levado os trabalhadores a abdicar do feriado do 25 de Abril, trocando-o pela sexta-feira seguinte, o que demonstra claramente a força que os patrões sentem das políticas de direita do Governo PSD/CDS e da Troika”.
Ao nível da saúde, o dirigente caldense criticou a reorganização dos Serviços Hospitalares na região Oeste, que considera uma ofensiva contra o Serviço Nacional de Saúde e que pode colocar em causa várias valências nos hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Alcobaça. Relativamente aos cuidados primários, a proposta de junção do ACES Oeste Norte e Sul aumentará “dramaticamente” o número de utentes sem médico de família.
O Hospital Termal também mereceu nota dos comunistas, que defendem a sua permanência no Serviço Nacional de Saúde. Vítor Fernandes considera que este é objecto de “gula dos grandes grupos financeiros ligados à saúde” e que pretendem concessioná-lo a uma unidade de gestão hoteleira que rentabilize o equipamento e edifício, “desprezando a vocação terapêutica da água e o compromisso da Rainha D. Leonor”.
Mereceu também especial reparo do dirigente comunista a perda do médico no antigo CAT da Marinha Grande que deixa 400 toxicodependentes sem acompanhamento clínico e o encerramento de escolas e integração das crianças nos mega-agrupamentos, levando ao seu desenraizamento social.
O encerramento e perda de competências de serviços públicos, tribunais, repartições de finanças e Estações dos CTT, assim como da Linha do Oeste a passageiros, foram outros dos problemas apresentados e que, a concretizarem-se, trarão um “sério revés ao desenvolvimento da região”.
Vitor Fernandes pronunciou-se ainda contra a extinção de dezenas de freguesias no distrito, considerando um “enorme” empobrecimento democrático e ataque ao poder local.
O dirigente apelou ao apoio e reforço no PCP, garantindo que este partido tem propostas para tirar o país da crise.

Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt