Líderes concelhios interpretam resultados eleitorais

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1-VotacaoNas Caldas o PS aumentou em cerca de 500 o número de votos em relação a 2009, obtendo 25,6% das intenções de voto, mas ainda assim abaixo da Aliança Portugal, que obteve 36,1%.

Luís Patacho:
“subida do PS acima da média distrital”

Para o presidente da concelhia caldense do PS, Luís Patacho, esta foi uma “subida significativa, acima da média distrital”, e que se enquadra dentro do figurino nacional. O dirigente socialista destaca, por outro lado, a descida da coligação de direita, cujo resultado foi inferior ao do PSD nas eleições de 2009, que teve 36,3%.
“Dá uma margem de alento para o PS”, disse, reconhecendo que é difícil os socialistas vencerem no concelho das Caldas.
A nível nacional “houve um vencedor, que foi o PS, pois foi quem teve mais votos e mandatos”, disse, destacando ser uma “vitória clara e inequívoca”, até porque o seu principal adversário (PSD) concorreu coligado. Destes resultados Luís Patacho tira como ilações a “rejeição do eleitorado à coligação e às políticas neoliberais do governo, que têm resultado num aumento do desemprego, emigração e falência da economia”.
Por outro lado, considera que estes resultados são também um cartão vermelho às politicas europeias.
O presidente da concelhia caldense lembra que estas eleições eram também importantes para definir a composição do Parlamento Europeu, pelo que, com a vitória da direita, deverá ser o PPE (Partido Popular Europeu)  – que integra os partidos europeus de centro-direita – a designar o próximo presidente da Comissão Europeia. “Tínhamos uma expectativa de viragem à esquerda para sair da crise”, disse Luís Patacho, acrescentando que foi uma oportunidade perdida.
O responsável reconheceu ainda que as pessoas continuam dissociadas da política e classifica de “muito grave” a elevada taxa de abstenção que se verificou em todos os países da União Europeia. “Começa a ser difícil sustentar a legitimidade destas eleições”, reconheceu à Gazeta das Caldas.

José Carlos Faria:
“alguns pontos do concelho com os melhores resultados de sempre”


Há um reforço expressivo da CDU nestas eleições”, considera José Carlos Faria, da comissão concelhia das Caldas. Neste concelho os comunistas tiveram 8,6% dos votos, tendo em alguns locais, como é o caso da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro, quadruplicado o número de votos. “Em alguns pontos do concelho tivemos os melhores resultados de sempre”, disse.
José Carlos Faria já estava à espera deste resultado pois a CDU “tem tido uma posição constante de crítica fundamentada e sugerindo alternativas”, como é o caso da necessidade de renegociação da dívida.
Bastante críticos das politicas europeias, os comunistas consideram que a população deu um voto de confiança à sua firmeza e coerência de opiniões. Desde a adesão à UE que vêm denunciando o desmantelamento do tecido produtivo em Portugal, o aniquilamento da frota pesqueira ou as medidas da PAC, em que “deixámos de ser produtores para ser consumidores”, lembrou José Carlos Faria, acrescentando que também alertaram, “em devida altura, para os efeitos calamitosos da moeda única”.
Por outro lado, realça que têm feito um “trabalho muito efectivo de aproximação e contacto com as pessoas”.
O dirigente comunista destacou ainda a descida “significativa” da Aliança Portugal, que junta o PSD e o CDS-PP, e, ao contrário, a subida da abstenção.

Hugo Oliveira:
“o PS ganha mas não convence”

A coligação Aliança Portugal, que juntou o PSD e CDS-PP, foi o partido que nas Caldas obteve uma maior votação, com 36,11%. Ainda assim, o presidente da concelhia do PSD, Hugo Oliveira, está ciente que o facto da coligação estar a governar levou a que as pessoas expressassem “algum descontentamento” na hora de votar.
Por outro lado, o também vereador na Câmara das Caldas, considera que houve uma grande dispersão de votos. “Surgiram dois partidos, o Livre, que veio penalizar o BE, e o MPT, que veio em busca dos descontentes com a classe política”, referiu.
Em 10º lugar nas listas da coligação ia o antigo presidente da Câmara, Fernando Costa, que não foi eleito. “Sabíamos que o 10º lugar seria dificilmente elegível e era melhor que fosse mais acima na lista, mas destaco que pela primeira vez tivemos um candidato ao Parlamento Europeu do distrito de Leiria”, disse Hugo Oliveira à Gazeta das Caldas.
A nível nacional, a coligação “perdeu as eleições” e o PS “ganha, mas não convence”, disse, acrescentando que o povo “não esqueceu” o que o governo PS e José Sócrates fizeram ao país.
“Por muita austeridade que tenha, o povo prefere expressar o voto noutro partido qualquer que não o PS”, acrescenta.
Hugo Oliveira mostrou ainda a sua preocupação com a elevada abstenção, o que o leva a considerar que terá que ser repensado este sistema politico. “Ao longo das últimas décadas a abstenção tem subido significativamente, o que significa que as pessoas estão alheadas do acto de votar”, disse, acrescentando que os partidos têm que se “regenerar”.

Teresa Serrenho:
 “o mais preocupante é a falta de reflexão perante os resultados”

Para Teresa Serrenho, do Movimento Viver o Concelho (MVC), a nível local “não houve grandes novidades”. Na sua opinião, “embora a coligação PSD/CDS tivesse em conjunto menos 0,25% do que teve o PSD sozinho em 2009, o PS apenas mais 4,64% do que em 2009 e a abstenção mais acentuada 67,58%”. A líder do MVC notou ainda que “houve mais votos nulos, mas menos em branco no distrito de Leiria”.
A responsável acha que nestas eleições “pouco se falou da Europa e em que os partidos do chamado arco do poder se fecharam ainda mais, num efeito entrópico que não os deixa ver para além do seu círculo de militância fiel e bajuladora, era espectável que houvesse a resposta das clientelas”, disse. Acrescentou que para as restantes pessoas que foram votar, “era natural que houvesse dispersão, indecisão ou mesmo confusão, com tanta escolha, com um boletim de voto tão sobrecarregado”. Por fim, sublinhou que houve também “o alheamento da maioria”.
Na sua opinião, o mais preocupante “é a falta de reflexão perante os resultados, primeiro sobre a enorme abstenção, depois sobre a pulverização de votos dos eleitores na procura de uma voz, de um grito de revolta, que dê corpo às suas angústias, frustrações e desespero a que as políticas economicistas dos “donos” do poder levaram Portugal e a Europa”.
Para a responsável do MVC, “os partidos teimam em não querer ver a necessidade de se reformarem por dentro, de deixarem emergir novas vozes, novas tendências”. Na sua opinião, “resta-nos esperar por mais cidadãos “Livres”, sem medo, talvez por mais “Marinhos Pinto…”, rematou.
Teresa Serrenho acrescentou também que muitos cidadãos não foram votar, “uns porque consideram que penalizam os políticos, com os quais não se identificam nem acreditam, outros por simples inércia, conformismo ou por comodismo apenas”.

Margarida Varela: “vitoriazinha do PS e derrotazinha da Aliança Portugal”

“Realçamos os excelentes resultados com a claríssima vitória (esta sim) da Aliança Portugal, tanto no concelho das Caldas da Rainha como no distrito de Leiria, onde se registou a maior vitória da “Aliança” em todo o país. Isto é motivo de grande satisfação”. Palavras da presidente da concelhia caldense do CDS-PP, Margarida Varela. Quanto aos resultados nacionais, a responsável considera que “tudo fica como estava”.
A vitória do PS é para a líder caldense “uma “vitoriazinha” sem margem para a criação de enredos mesmo para os mais demagógicos”. Na sua opinião, “as afirmações que o líder do PS tentou ensaiar de imediato, esfumaram-se perante a confirmação dos fracos resultados do PS, face às expectativas criadas”.
Do mesmo modo, a derrota da Aliança Portugal tem a mesma proporção. Tratou-se “de uma derrotazinha sem efeitos colaterais” dado que considera que “só os demagogos poderão retirar ilações de dimensão governamental””, acrescentou.
O aumento de votação da CDU “era expectável e como tal natural, face ao esvaziamento do BE, que nestas eleições parece ter ficado resumido à sua real expressão”. Já o “fenómeno” Marinho Pinto, em representação do MPT, “não nos parece capaz de no futuro garantir qualquer tipo de alternativa sustentável”. Foi antes “fruto do natural descontentamento dos cidadãos, aliado à forma populista, demagógica e oportunista de fazer política”.
Margarida Varela considera que a elevada taxa de abstenção é o principal dado a reter e faz com que surja “um campo livre para avanço de partidos extremistas, que pela sua génese poderão num futuro não muito longínquo colocar em causa a própria democracia”. Tal facto é um motivo que deverá fazer reflectir os dirigentes políticos e governantes “não apenas em Portugal mas em toda a Europa”, rematou.

Francisco Matos:
“no cavaquistão que é o distrito de Leiria, os resultados do BE foram normais”

Para Francisco Matos, responsável político e de propaganda da concelhia do BE das Caldas, a grande surpresa destas eleições foi Marinho Pinto (MPT) que “veio tirar votos transversalmente a toda a gente”. Para alem disso, o BE foi também prejudicado com o aparecimento do Livre, criado pelo dissidente deste partido, Rui Tavares, que “foi buscar votos à malta que está descontente com o Bloco”, disse à Gazeta das Caldas.
A nível nacional, a vitória do PS à coligação não surpreendeu o dirigente bloquista, destacando que o elemento novo é mesmo Marinho Pinto, “com a conversa que as pessoas gostam de ouvir, do descontentamento em relação aos políticos”, disse.
Também a nível local o resultado (4,5%) foi recebido com naturalidade, até porque, como reconhece Francisco Matos, este é um território difícil para o BE. “O Bloco é um partido em que o eleitorado se concentra essencialmente nas grandes cidades”, disse, acrescentando que no distrito de Leiria não têm grande expressão e as Caldas até é dos sítios melhores. “Dentro do cavaquistão que é o distrito e o concelho, os resultados foram normais”, resume.
Francisco Matos diz mesmo que o trabalho deste partido é difícil porque “o fanatismo pelo PSD é inacreditável”, destacando ainda que não compreende como as pessoas continuam a ver o PSD como alternativa perante o cenário económico e politico nacional actual.
Já a subida da abstenção mostra que as pessoas estão cada vez mais “desacreditadas relativamente a tudo o que tem a ver com política” e “não se revêem nas cúpulas que lideram os partidos políticos em Portugal”, conclui.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Óbidos
CDU aumenta em 20% o número de votos

Também em Óbidos a CDU reforçou a sua expressão eleitoral ao passar de 7, 59%, nas europeias de 2009, para 9,51% nas eleições realizadas no domingo. Este aumento do número de votos em quase 20% simboliza, para a concelhia comunista, uma “demonstração da confiança que cada vez mais a população deste concelho vem depositando na acção e propostas por nós apresentadas”.
Os comunistas dizem ainda que este resultado representa um “castigo” imposto ao PSD e CDS-PP pela política governativa desenvolvida, “de constante ataque aos direitos dos trabalhadores e do povo português”.
Já a elevada abstenção, que consideram “muito preocupante”, reflecte o desinteresse de grande parte dos eleitores portugueses quanto ao projecto da União Europeia, nele “não revendo nada de favorável para uma melhoria das suas condições de vida”. A concelhia comunista lembra que as “dramáticas medidas impostas” no acordo PS, PSD e CDS-PP com a troika também têm a assinatura da UE que dela faz parte, com o BCE e o FMI. Por outro, este nível de abstenção, é o “reflexo da intensa campanha desenvolvida pelos media contra os políticos e a democracia”. Isto porque, dizem, metem “no mesmo saco e não fazendo distinções entre os que no governo ou não, fazem a política para se servirem dela ou os interesses de grupos e aqueles que, como o PCP e outros democratas honestos, fazem a política para servir o povo português”.

 

PS vence com quase 31% dos votos

Em Óbidos registou-se nestas eleições uma vitória do PS, com 30,96%, “muito semelhante à votação nacional”, diz Bernardo Rodrigues, da concelhia socialista. De acordo com o também vereador da oposição na autarquia, estes resultados revelam uma “grande indiferença do eleitorado para com a política europeia”.
O dirigente socialista considera que o resultado da CDU, de quase 13%, demonstra a tradicional fidelidade e capacidade de mobilização dos comunistas, enquanto que o BE “continua a definhar”. Já o MPT, “à boleia” de Marinho e Pinto, “obtém um resultado extraordinário”, diz. Esta votação revela ainda um “enorme descontentamento com o governo português, em que PSD e CDS juntos não chegam aos 28%, dos votos expressos”, registando a diferença entre estes resultados e os obtidos nas legislativas.
Bernardo Rodrigues esperava que  PS e a Aliança Portugal  tivessem mais votos, e que o PS vencesse por uma maior margem.
A elevada abstenção mostra, em seu entender, que a União Europeia é vista como “algo muito distante” e que esta é cada vez  menos união social, o que agudiza o afastamento do eleitorado.
“Caso não haja uma aproximação muito marcada das políticas europeias ao dia-a-dia das comunidades, a abstenção continuará a aumentar, o que favorece os extremismos, naturalmente mais fiéis ao voto”, refere, alertando que é “muito grave” que os destinos  políticos sejam decididos por um terço dos eleitores pois isso revela um défice democrático “brutal”.
Gazeta das Caldas pediu também um comentário das concelhias de Óbidos do PSD e CDS-PP, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.
F.F.