
Documento, que estará em vigor até 2029, fez uma avaliação do plano instituído pelos ministérios da Cultura e da Educação para facilitar o acesso às artes. Artistas residentes nas escolas partilharam projetos
O Plano Nacional das Artes foi implementado em 2019. Cinco anos depois, a subcomissária Sara Brighenti esteve na ESAD.CR, a 19 de fevereiro, a falar sobre o que foi feito mas também para apresentar o Plano Estratégico em vigência até 2029 e que, entre as novidades, pressupõe uma abrangência ao ensino superior e medir a “pegada cultural” de entidades e empresas públicas e privadas.
Este novo documento foi desenvolvido após a avaliação do plano anterior, depois de ouvir as sugestões e preocupações dos vários intervenientes e parceiros dos setores da educação, cultura e administração local. A estratégia, organizada por três eixos (política cultural e territorização; pensamento e mediação; e participação, educação e acesso) inclui 21 medidas.
O documento é introduzido por um manifesto que reivindica uma maior proximidade entre as artes, os patrimónios e a vida das pessoas e comunidades. No final inclui ainda um glossário para clarificar os conceitos relacionados com a ação deste plano nacional, explicou Sara Brighenti.
Na ESAD.CR, a responsável lembrou o conselho consultivo de jovens que decorreu no CCC e cujos contributos constam da adenda à Carta do Porto Santo, um “documento estruturante da política cultural europeia que orienta decisões dos Estados para as áreas da cultura e educação”.
Sara Brighenti também destacou o programa Artista Residente, que permitiu, nos últimos cinco anos, ter 719 artistas em estabelecimentos escolares pelo país. “É um programa altamente revolucionário e transformador das escolas”, pois permitiu que muitos artistas das áreas multimédia, teatro ou artes visuais, pudessem estar em contexto escolar, num período nunca inferior a um mês, salientou.
O testemunho dos artistas
Amabile Bezinelli foi um desses casos. Formada em Teatro, a jovem esteve como artista residente no Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro onde criou a Sala de Processos. “Olhámos para o contexto escolar e verificámos que faltava um espaço de criação e autonomia na escola”, começou por explicar a artista, acrescentando que o espaço “também nasceu da denúncia da falta de um pensamento crítico”. Na ESAD.CR, e perante um auditório repleto, partilhou algumas histórias e destacou a colaboração de todos no trabalho realizado. “Acho que temos muito caminho pela frente e não sei se cinco anos bastam, mas tenho muito orgulho em tudo o que já foi construído pelo PNA”, concretizou.
Ex-aluno da ESAD.CR, Kevin Claro tem desenvolvido projetos artísticos em diversas escolas da região. No ano letivo 2021-22, altura em que era tutor de Atividades Extra-Curriculares (AEC) perguntou aos alunos o que gostariam de ter na escola e, tendo como resposta um parque de diversões, começaram a tentar desenvolvê-lo no espaço do recreio… mas, entre os poucos materiais existentes, tinham sobretudo pneus. Pegaram então nos pneus e começaram a conceber protótipos e pequenas esculturas, para o parque de diversões, mas Kevin Claro apercebeu-se que os alunos estavam, sobretudo, a inventar brincadeiras com os pneus. Nasceu assim o livro “Manual do Pneu”, que explica o que é o projeto e as brincadeiras que inventaram, mas também tem páginas em branco para que, ao ser utilizado noutras escolas, possa ser preenchido, criando um grande manual, a nível nacional, com todas as brincadeiras que possam ser inventadas com pneus. No ano letivo seguinte, juntamente com Laura Figueiras, pensou em ensinar os alunos a fazerem os seus próprios livros e cadernos, com desperdícios, como papel, tecido, cartão e linhas. Com seis escolas do Agrupamento Rafael Bordalo Pinheiro desenvolveram atividades sobre a diferença entre reciclagem e reutilização e encadernação dos próprios cadernos escolares. Também convidaram artistas residentes nas Caldas a apresentarem a sua prática aos alunos e inspirá-los a desenvolver desenhos e pinturas.
Agora estão a dinamizar um novo projeto: kits de encadernação escolar, em que dentro de cada dossier estão um furador, agulha, linha, colas e uma pequena prensa, que vão facultar às escolas. O objetivo passa por vender a formação ao professor que, no final, recebe o kit e pode desenvolvê-lo com os alunos.
Também os museus têm sido uma peça fundamental na concretização do PNA. A diretora dos museus da Cerâmica e de José Malhoa, Nicole Henriques, elencou os vários projetos que já foram dinamizados naqueles espaços culturais. “Necessitamos de continuar a fortalecer as equipas dos museus, com formações contínuas e incremento das equipas, precisamos de ampliar e variar a oferta educativa dos nossos museus, trazer mais conexões com as questões contemporâneas e consolidar ainda mais o nosso papel como extensão parte da sala de aula”, defendeu a responsável.
Por sua vez, Ana João Romana, coordenadora do PNA na ESAD.CR, destacou o “ecossistema fantástico” que existe nas Caldas, entre as instituições culturais, artistas residentes, professores e estudantes, que foi potenciado por este plano nacional e deu exemplo de alguns dos trabalhos já realizados pelos alunos da escola de artes.
“Criar condições para que a criação artística seja possível é um dever do Estado e o que o Plano faz é facilitar os direitos dos cidadãos. Nesse sentido, o PNA pretende reduzir “as assimetrias regionais” no acesso à cultura, às artes e ao património, explicou Sara Brighenti sobre o plano nacional que foi instituído pelos ministérios da Cultura e da Educação. ■
