Admirador de Bordalo Pinheiro e das suas criações, o primeiro-ministro, António Costa, inaugurou no passado dia 10 de Abril a expansão da fábrica de faianças caldense, situada na Zona Industrial. O governante elogiou o trabalho da Visabeira, grupo que adquiriu a fábrica há 10 anos, destacando a sua capacidade de inovação e de investimento num “valor seguro” como é a marca Bordallo.
Com uma área de 12 mil metros quadrados a nova unidade industrial, cujo investimento ultrapassou os nove milhões de euros, permitiu aumentar a capacidade de produção em 60% e criar mais 100 postos de trabalho, tendo hoje a empresa 270 trabalhadores.
O primeiro-ministro, António Costa, o ministro-adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e o secretário de Estado da Economia, João Neves, marcaram presença na inauguração do projecto de expansão da Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro que passará a ter capacidade para produzir, em média 10 mil peças por dia.
A comitiva, que integrou também vários autarcas locais e representantes de diversos organismos públicos e privados, visitou a moderna unidade industrial, de cerca de 12 mil metros quadrados, com novos fornos, estufas e outros equipamentos, como os amplos ateliers de pintura e ornamentação.
António Costa destacou que esta fábrica centenária “está para lá dos ciclos económicos” e que ao longo da sua vida “já viveu momentos de glória e outros de grandes dificuldades”. O governante prestou homenagem ao grupo Visabeira (que em 2009 adquiriu a fábrica que estava em risco de fechar), que “teve coragem de investir e de a transformar” numa unidade distinta mas mantendo a qualidade e identidade da marca.
“Quando se investe num valor seguro, como é a marca Bordallo e os seus produtos, podemos ter confiança que esse investimento vence seguramente qualquer ciclo económico”, disse. António Costa realçou a capacidade da empresa em “manter viva a produção original”, ao mesmo tempo que tem vindo a “reinventar e dar continuidade” às peças criadas por Bordallo Pinheiro através de criações de designers contemporâneos.
O ministro-adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, destacou a “história inspiradora e exemplar” do ponto de vista empresarial do grupo Visabeira, que pegou numa marca nacional e conseguiu potenciar o seu valor, graças ao investimento, inovação e internacionalização. “Todos os equipamentos são portugueses, até o Vasquinho, o robot que faz o spray para vidrar as peças foi concebido em Portugal”, exemplificou.
Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, afirmou que as Caldas da Rainha e Bordalo Pinheiro são indissociáveis e que essa é uma parceria que valoriza ambas as partes. O autarca lembrou que já foram feitas várias acções em conjunto com o grupo Visabeira e entende que há interesse, da parte deles, em reforçar essa parceria, dando como exemplos a ampliação da fábrica e a construção do hotel de cinco estrelas nos Pavilhões do Parque.
Remodelação “profunda” na loja e museu
A Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro Lda., pertence ao grupo Vista Alegre, do universo Visabeira. Com um volume de negócios que em 2018 ultrapassou os 6,4 milhões de euros (dos quais 50% relativos às exportações), a empresa “está a viver um dos seus melhores momentos”, disse Nuno Marques, presidente da administração do grupo Vista Alegre. Prova disso é o aumento do volume de negócios de 6% em 2018 relativamente a 2017.
A ampliação agora inaugurada permite à Bordallo Pinheiro aumentar a sua capacidade produtiva em mais de 60% e desenvolver novos produtos e colecções, continuando as parcerias com artistas nacionais e internacionais. Haverá capacidade para a fábrica aumentar também a quota no mercado internacional, incrementando a exportação. De acordo com Nuno Marques, o objectivo será atingir 75% da facturação no estrangeiro. Actualmente os principais mercados internacionais são a França, Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda, Suécia, Estados Unidos e Japão.
O investimento não se limitou às instalações fabris, alargando-se a uma “profunda” remodelação da loja Bordallo e do museu, criando um complexo a que se juntará a abertura de uma nova loja. “Estamos certos que será um contributo decisivo para uma nova centralidade artística e comercial nas Caldas”, disse Nuno Marques, lembrando que inauguraram recentemente duas lojas em Paris e uma em Madrid, depois de há cerca de um ano terem inaugurado a sua primeira loja em Lisboa.
O responsável falou também sobre o hotel de cinco estrelas que a Visabeira vai construir nos Pavilhões do Parque e que assenta numa conceito de hotelaria ligada à cerâmica, à semelhança do que acontece com o Monte Belo Vista Alegre Ílhavo Hotel, do mesmo grupo.
O hotel, cuja maqueta estava em exposição e foi apresentada ao primeiro-ministro, terá uma área total de intervenção de 19 mil metros quadrados e uma capacidade para 124 unidades de alojamento. António Costa lembrou que a Visabeira foi um parceiro importante do programa REVIVE (de concessão de património do Estado devoluto para fins turísticos) e destacou que, desta forma, “os pavilhões não vão desaparecer mas antes renascer com a actividade hoteleira, que ajudará a reforçar a atractividade das Caldas”.

Será que António Costa veio às Caldas em campanha eleitoral?
A importância da Fábrica de Faianças Rafael Bordallo Pinheiro é motivo suficiente para trazer o primeiro-ministro às Caldas, consideram os líderes das concelhias políticas (com exceção do BE), que admitem, no entanto, que a proximidade das eleições também “deu uma ajuda”.
Vítor Fernandes, da concelhia caldense do PCP, diz que António Costa “juntou o útil ao agradável”, embora considere que a ocasião justifica a presença do governante nas Caldas. Mas acha que, se a inauguração fosse noutra altura, provavelmente contaria apenas com um ministro.
“Quem está no governo tenta-se sempre servir, mas acho que este governo até não tem exagerado muito, houve outros piores”, disse Vítor Fernandes.
Também Hugo Oliveira, presidente da concelhia caldense do PSD, é da opinião que a ampliação da fábrica é “um momento importante para as Caldas e faz todo o sentido a presença do primeiro-ministro”. O também vereador prefere não entender esta visita como um acto de campanha eleitoral, mas reconhece que este governo tem “usado e abusado nessa matéria”, nomeadamente o antigo ministro das Obras Públicas, e actual cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu, Pedro Marques, “que andou a fazer inaugurações pelo país fora”.
Para José Ribeiro, presidente da concelhia caldense do PS, nesta altura, a pouco mais de um mês das europeias, “qualquer acção do governo será facilmente catalogada de eleitoralista”. Mas se o primeiro-ministro ou qualquer outro membro do governo não fizessem nada e não comparecessem em lado nenhum, “seriam catalogados de outra coisa qualquer”. Independentemente das “etiquetas de ocasião”, José Ribeiro considera que a presença de António Costa sublinha a importância da fábrica de faianças para o concelho e, inclusive, para o país. “
Já o BE ficaria “muito mais satisfeito” se o primeiro-ministro “viesse às Caldas da Rainha para inauguração de um novo hospital público ou de novos serviços do CHO, em vez de um negócio privado em período de pré-campanha eleitoral”. Esta a opinião da dirigente bloquista caldense, Carla Jorge, que considera que a participação do governante na inauguração das ampliações da Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro pode ser entendida como um acto de campanha eleitoral.
Gazeta das Caldas tentou também obter um comentário do presidente da concelhia caldense do CDS-PP, João Forsado Gonçalves, mas tal não foi possível até ao fecho da edição.
O apoio da Câmara de Lisboa em 2008
A ligação de António Costa à Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro já vem de finais de 2008, altura em que era presidente da Câmara de Lisboa e foi contactado pela empresária Catarina Portas a pedir para a receber, juntamente com a historiadora Raquel Henriques, a artista plástica Joana Vasconcelos e a directora artística da fábrica, Elsa Rebelo. Queriam salvar a fábrica que estava em risco de falir e achavam que a autarquia lisboeta poderia ajudar.
“Reunimos e a Elsa Rebelo fez-me apaixonar pelos moldes e a criação de Rafael Bordalo Pinheiro e ver o potencial que aqui estava”, disse António Costa, acrescentando que pouco tempo depois fizeram uma exposição no Parque Eduardo VII com as peças em reserva na fábrica. A artista Joana Vasconcelos fez uma produção com as peças gigantes que a autarquia adquiriu à fábrica e criou o jardim bordaliano, que ainda está patente nos Jardins da Cidade, no Campo Grande.
Também presente na inauguração das novas instalações, Catarina Portas disse à Gazeta das Caldas que nunca deixou de ter esperança no futuro da fábrica porque Bordallo Pinheiro foi “o maior artista português do século XIX, de um génio incrível”. Recordou que sempre foi difícil conciliar o lado artístico com o lado comercial, e que a fábrica esteve várias vezes à beira da falência ao longo da sua história. Contudo, não podia deixar que acontecesse em 2008, sobretudo porque pouco antes a Secla tinha fechado. “Movimentámos muita gente, fizemos um abaixo-assinado, pagámos um anúncio no jornal, tudo para alertar que a fábrica não podia fechar”, disse, mostrando também a sua satisfação com a compra, na altura, por parte do grupo Visabeira e o investimento que tem feito durante a última década na obra de Bordalo, que “também é património de todos nós”.