Ouvir a população falar sobre os problemas que lhe dizem directamente respeito trouxe o deputado comunista na Assembleia da República, Bruno Dias, às Caldas da Rainha, no passado dia 28 de Maio. O deputado falou com utilizadores e Comissão para a Defesa da Linha do Oeste sobre a falta de comboios e a supressão de horários e com mariscadores e pescadores sobre as intervenções na Lagoa de Óbidos e como estas afectam o seu trabalho.
O ponto de encontro estava marcado para as 11h30 de segunda-feira junto à estação da CP das Caldas para falar com utilizadores da ferrovia. A conversa acabou por acontecer apenas com elementos da Comissão para a Defesa da Linha do Oeste e dirigentes comunistas pois o comboio que ali deveria passar estava atrasado mais de uma hora.
Entre os principais problemas desta linha, Manuel Rodrigues, da comissão, destacou a falta de investimento em material circulante e a falta de assistência ao existente. “O ano passado a situação chegou ao extremo: o material deu o berro e a CP não respondeu com a sua substituição”, denunciou.
À mesma hora em que decorria este encontro, outros elementos da comissão de utentes entregavam na Assembleia da República a petição, com mais de seis mil assinaturas, pela modernização da Linha do Oeste. Os signatários requerem que a Assembleia da República delibere no sentido de obrigar o governo a dotar a Infraestruturas de Portugal dos meios necessários à modernização da linha e a CP das disponibilidades financeiras adequadas para a aquisição urgente do material circulante indispensável a um bom serviço de transporte de passageiros. “Desde o início de 2017 que os passageiros passam por um verdadeiro martírio, já que estão sistematicamente sujeitos à incerteza de haver ou não haver comboio e sem qualquer informação ou pedido de desculpas por parte da CP. A grande maioria das estações e apeadeiros estão encerrados ou não têm pessoal e é inexistente qualquer serviço electrónico de indicação dos horários ou alterações”, refere o documento entregue em audiência ao vice-presidente, Jorge Lacão.
Para o dia 30 de Maio, a comissão de utentes tinha previsto fazer mais uma acção pública junto da estação para dar conhecimento do que se está a passar.
O deputado Bruno Dias destacou que o material circulante é insuficiente e que é necessário repôr mais, assim como haver um critério, por parte da CP, de “serviço público para determinar para onde o material é colocado”. O deputado comunista referia-se à opção da empresa em retirar comboios desta linha para colocar na linha do Douro para servir “encomendas” de turismo.
Pescadores querem ser ouvidos
Da parte da tarde, a comitiva comunista juntou cerca de 30 pescadores e mariscadores da Lagoa de Óbidos junto ao Penedo Furado para falar sobre os problemas que enfrentam no seu trabalho. Uma das preocupações apresentadas foi o impacto que as dragagens previstas irão ter para a sua actividade. Lembraram a intervenção feita em 2015 na parte inferior da Lagoa e junto à aberta, em que o ecossistema ainda não regenerou e não conseguem ali apanhar marisco.
Estes profissionais temem que as dragagens a fazer nos braços da Barrosa e Bom Sucesso possam levar ao movimento dos sedimentos (poluídos) para o corpo da Lagoa e a serem absorvidos pelo marisco. “Na parte da Barrosa, onde há maior concentração de resíduos não era difícil tapar o acesso do canal de modo a que não se contaminasse a lagoa durante a intervenção”, defendeu Diogo Franco, da Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos (APMALO). Este mariscador sugeriu ainda que as dragagens pudessem deslocar-se alguns metros para o lado de modo a que fossem retirados sedimentos em cotas mais elevadas (e que ficam rasas quando a maré baixa), permitindo que a Lagoa ficasse com mais água.
Os pescadores manifestaram ainda o seu descontentamento por as entidades responsáveis pelas intervenções não terem em conta a sua opinião.
O deputado Bruno Dias comprometeu-se a procurar saber junto do Ministério do Mar e do Ambiente quais as medidas que existem de apoio aos pescadores e mariscadores, bem como indagar sobre a possibilidade de criação de um pontão flutuante para apoio à actividade piscatória.
Além disso, o deputado comunista defende que as dragagens sejam “muito bem preparadas e com uma fundamentação técnica sólida, mas principalmente ouvindo as comunidades locais, nomeadamente os pescadores e mariscadores”.
Peça descontinuada atrasa reparação da estação elevatória
Os pescadores e mariscadores denunciaram a avaria na bomba da estação elevatória, que leva a que as águas residuais domésticas de parte do Nadadouro estejam a correr directamente para a Lagoa de Óbidos. De acordo com José Duarte, pescador na Lagoa há mais de 30 anos, a situação já se verifica há mais de um mês, facto que motivou os pescadores a apresentar queixa à GNR na passada quinta-feira.
Contactados pela Gazeta das Caldas, os Serviços Municipalizados da autarquia confirmaram a avaria na estação elevatória. No entanto, e de acordo com a técnica responsável da área do ambiente, Rute Henriques, a estação não esteve o mês inteiro parada. Houve uma primeira avaria e foi substituída a bomba, que depois também avariou e depois foi colocada uma terceira, que também não resistiu ao desgaste provocado pelas areias.
O facto daquela bomba, que faz uma elevação de 80 metros, estar descontinuada também não ajuda à sua rápida substituição. Os serviços tiveram que pedir a peça directamente a Itália e estão a aguardar a sua chegada para que seja colocada.
Os efluentes domésticos não estão a ser tratados e vão, em parte, para a Lagoa. “Tentámos desviar parte do caudal, antes da estação de modo a minimizar a água que está a ser rejeitada”, explicou Rute Henriques, acrescentando que também as lamas têm sido aspiradas de modo a não irem tantos sólidos para a Lagoa.
Para o futuro estão a tentar fazer uma estação intermédia para que possam ser utilizadas bombas idênticas às das outras estações.
Tendo em conta que aquele caudal de efluente carrega algumas areias que provocam frequentemente desgaste no equipamento, os serviços municipalizados pretendem ali instalar um desarnador, que é uma caixa mais funda que permite que as areias fiquem ali depositadas, evitando que entrem no sistema de bombagem.