A Associação Movimento Viver o Concelho convidou a deputada do Parlamento Europeu, Ana Gomes, para mais um encontro mensal “21 às 21”, contando com máxima assistência na sede da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, no domingo, dia 21 de Junho. Desafiada a abordar o tema “A Crise – Portugal e a Europa”, a socialista centrou-se na “questão do dia” dos chefes de estado europeus: a possibilidade de saída da Grécia da União Europeia, realidade à qual a deputada se opõe claramente. Outros assuntos, como a necessidade de fiscalização aos paraísos fiscais e o programa eleitoral do líder do PS, António Costa, não ficaram excluídos da discussão da noite.
Ana Gomes, que tem ligação às Caldas da Rainha pela sua veia materna, começou o seu discurso fazendo referência à recente encíclica do Papa Francisco, divulgada no passado dia 18 de Junho pelo Vaticano. “Laudato Si’” é uma chamada de atenção para a urgência de protecção do planeta e do meio ambiente. Na opinião da também ex-diplomata, “a crise económica em que nos encontramos tem muito a ver com a crise mundial ambiental de que fala o Papa pois entrámos numa fase de consumo e produção desenfreada que não respeita a natureza finita dos recursos”. Infelizmente, na óptica de Ana Gomes, os dirigentes políticos pouco aprenderam desde a crise de 2008, pelo que se torna “fundamental” que um dirigente religioso venha alertar sobre a necessidade de “respeitar o planeta na organização política e social dos países”.
Assumindo uma posição claramente europeísta, Ana Gomes acredita que uma saída da Grécia da UE representará o “princípio do fim da União Europeia” e um custo imensurável para os europeus, não só ao nível económico, mas principalmente político. “Significaria o desmoronar da Europa e, mais tarde ou mais cedo, o início de um ciclo de guerras entre vários países”, acrescentou.
Apesar de não concordar com muitas das decisões políticas tomadas pelos governantes gregos, a deputada discorda ainda mais dos Chefes de Estado europeus que têm vindo a fazer “braço de ferro” com a Grécia. Isto porque o Syriza (partido grego que se encontra no governo) está a dar-se conta de algo importante: “o facto de as medidas de austeridade impostas pelo FMI terem sido erradas”. Aliás, para Ana Gomes, a crise da Grécia é a “prova” de como a receita do Plano de Assistência Financeira saiu “furada”.
Por outro lado, a socialista acredita que será Angela Merkel quem irá “salvar a situação”. Caso contrário, isso significaria associar a Chefe de Estado alemã à “destruição da Europa e, consequentemente atribuir as culpas à própria Alemanha”. Algo que seria inevitavelmente comparado com o passado histórico deste país.
CRÍTICAS A PASSOS COELHO
Ana Gomes chamou a atenção para a relação entre Portugal e a Grécia e, embora admita que as situações económico-políticas são distintas, “os portugueses não podem acreditar que não serão afectados com uma possível saída da Grécia da UE e do euro”. Neste âmbito, a socialista criticou duramente o actual governo português, afirmando que Passos Coelho tem sido um dos incitadores às medidas mais agressivas aplicadas à Grécia, apenas porque durante os seus quatro anos de mandato “sempre argumentou a favor da austeridade, assegurando que os sacríficos dos portugueses eram necessários para se chegar ao bom caminho”. E, efectivamente, os colegas alemães de Ana Gomes concordam com o primeiro ministro português, revela a deputada, que assegurou não ficar indiferente a estas declarações. “Pergunto-lhes como é que um país com uma taxa de desemprego jovem nos 26%, com uma dívida pública cada vez maior e um crescimento económico mínimo pode estar no bom caminho”, disse Ana Gomes ao público presente.
A propósito de algumas questões levantadas pela audiência, Ana Gomes abordou a necessidade de fiscalização às isenções e paraísos fiscais, até porque actualmente integra um comité de taxação no Parlamento Europeu. Neste sentido, a deputada elogiou a posição de António José Seguro, ex-líder do PS, face à corrupção nacional. Ao mesmo tempo, Ana Gomes confessa ter comunicado a António Costa que o programa do PS é insuficiente no tema das fiscalidade.
Na sua opinião, é preciso “simplificar o sistema de fiscalização, para que seja entendível a qualquer cidadão”.