“Temos que agir em modo europeu em relação à solidariedade e no combate ao terrorismo”

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eurodeputadaA deputada europeia Ana Gomes esteve no sábado, 5 de Março, numa palestra organizada pelo Conselho da Cidade na Biblioteca Municipal. O auditório esteve a meio para escutar a ex-diplomata que teceu críticas à falta de união entre os países europeus em relação à ameaça terrorista e à falta de apoio àqueles que fogem da guerra e que acham que é na Europa que há solidariedade para recomeçar as suas vidas.

“É nossa obrigação inspirarmo-nos em Aristides Sousa Mendes e ser solidários com aqueles que nos batem à porta”. Palavras de Ana Gomes durante a conferência onde também afirmou que a “Europa tem que criar vias seguras e legais de passagem  para os refugiados e assim não continuar a dar o negócio às redes de traficantes”. Na sua opinião, são precisas pontes aéreas e corredores seguros e “até poderiam ser usados os consulados e embaixadas dos países limítrofes, para fazer uma primeira triagem das pessoas que estão em deslocação para cá”, disse. Esta acção deveria ser levada a cabo pelos próprios Estados, que se deveriam organizar para ir buscar os refugiados aos campos improvisados que estão, por exemplo, entre a Grécia e a Macedónia. Em seguida “é preciso mobilizar os fundos europeus para garantir que essas pessoas são bem integradas nos países de recepção”, afirmou. Na verdade, há já algumas vias seguras constituídas de forma pontual mas tal “deveria ser feito de forma sistemática, transformando-se numa política europeia de actuação”.
Ana Gomes salientou a disponibilidade de António Costa em receber em Portugal mais refugiados do que o inicialmente previsto. Em vez 5000, o país poderá receber o dobro.
A convidada acusou países como a Áustria que, em conjunto com outros, “se constituíram numa espécie de gang, tentando ostracizar a Grécia e fazer uma barreira, pensando que assim impedem os refugiados de prosseguir viagem”.
Classificou tal acto de “criminoso” e “pouco eficaz” pois se não entram por um lado, as pessoas vão encontrar outros caminhos. Ana Gomes referiu que actualmente já há refugiados “a vir pelos gelos da Rússia para entrar na Europa”.
A eurodeputada recordou que nos anos 60 mais de um milhão de portugueses passaram várias fronteiras a salto e que, na sua maioria, eram emigrantes económicos que fugiam “à pobreza do seu país em busca de melhores condições de vida”. E entende que essa situação é idêntica à que se passa em relação aos refugiados que acorrem hoje à Europa e sobre os quais “é preciso um entendimento solidário, iluminado e humano”, tal como o teve Aristides Sousa Mendes “que se esteve “marimbando” para as ordens de Salazar”.
Ana Gomes recordou que hoje a Europa vive ameaças que são internas pois os terroristas que actuaram nos últimos ataques eram europeus, “filhos de segunda geração de emigrantes”. Na sua opinião, é preciso perceber por que têm estes uma perspectiva tão negativa da vida, que os tornam vulneráveis ao recrutamento do Estado Islâmico, que é feito, na maioria das vezes, on-line e duplicando esquemas similares aos dos filmes de Holywood. “Eles  vão atrás do “sex, guns and videogames (sexo, armas e videojogos)”, afirmou a eurodeputada, referindo que a maioria dos  jovens já nasceu neste milénio (os designados Millenniums) e que têm estes conceitos enraizados na sua cultura.
Em relação à ameaça terrorista que paira pelo Ocidente, Ana Gomes considera que “não se vai resolver sem o apoio das comunidades muçulmanas que fazem parte da Europa e que são elementos chave na prevenção de ameaças”.
A eurodeputada socialista revelou que tem alguma dificuldade em perceber a reacção de pânico da Europa  ao receber no ano passado um milhão de refugiados, “quando os vizinhos dos países em conflito têm vindo a acolher muitos mais”, disse. E exemplificou com o Líbano que tem quatro milhões de habitantes – e cujo território é comparável ao do Alentejo – e já recebeu mais dois milhões de refugiados sírios. A Jordânia acolheu  um milhão e meio e a Turquia recebeu, pelo menos, três milhões de refugiados.
Riscos de segurança elevados na Europa

Para a convidada, nos últimos anos, a Europa tem-se esquecido de agir em conjunto e “nenhum país vai conseguir sozinho garantir a protecção dos seus cidadãos, fronteiras e interesses”. Referiu ainda que hoje se vivem dias em que que os riscos de segurança “nunca foram tão altos”. Referiu por exemplo as novas armas que existem e que são “cada vez mais complexas” e de “como é fácil usar e espalhar produtos químicos através de drones numa barragem ou em grandes eventos como concertos ou jogos de futebol”.
Em relação aos atentados de Paris, a eurodeputada apontou o dedo às policias secretas europeias, que não partilham informação. “Os terroristas estavam indiciados por pequena criminalidade na polícia…”, disse Ana Gomes acrescentando que naqueles atentado, os responsáveis facilmente passaram a fronteira e foram adquirir armas à Gare do Midi, em Bruxelas.
“Temos todos que trabalhar em modo europeu”, referiu a convidada pois “nenhum estado membro voltado para o seu próprio umbigo vai conseguir salvar-se”.
Para Marina Ximenes, membro do Conselho da Cidade, esta iniciativa dedicada a Aristides Sousa Mendes, não podia ter corrido melhor pois teve convidados de várias áreas que “reforçaram a ideia do mérito e da importância da acção daquele diplomata durante a II Guerra Mundial”. Para a organizadora, todos os convidados “trouxeram algumas ideias do que podemos e devemos fazer como cidadãos em relação à crise dos refugiados”.

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