A-dos-Negros, a terra de água que homenageia um capitão lusitano

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Com origens que se perdem no alvor do Cristianismo, esta é, atualmente, uma freguesia, sobretudo, agrícola

Com uma área próxima dos 17 quilómetros quadrados, a freguesia de A-dos-Negros é uma das sete que compõem o concelho de Óbidos.
“A aldeia encontra-se alcandorada em cima de um cabeço, onde foi erguida uma pequena ermida, dedicada a Santa Maria Madalena. Mais tarde foi construída a igreja, à sombra de um frondoso sobreiro, a que está associada a lenda de um humilde pastor que, no interior do seu tronco, teria encontrado uma imagem da dedicada Santa”, descreve Luís Garcia na obra Óbidos – 20 anos de intervenção autárquica (1980-2000).
Mas a história de A-dos-Negros perde-se no tempo. A freguesia foi criada durante a segunda metade do séc. XVIII, provavelmente alguns anos após o terramoto de 1755, mas o seu nome derivará de Cecílio Negro, um capitão lusitano, que viveu no século I a.C., segundo o investigador Pinho Leal. Já o historiador Joaquim Veríssimo Serrão refere que antes da conquista dos territórios da região pelos exércitos de D. Afonso Henriques, existiam várias povoações entre Lisboa e Leiria onde residiam importantes núcleos judaicos. Iáhia Aben-Yasich era um importante rabi-mor a quem o primeiro rei de Portugal terá nomeado mordomo e cavaleiro-mor, em recompensa de serviços prestados na luta contra os mouros, e ter-lhe-á concedido a Aldeia dos Negros. Veríssimo Serrão refere ainda “que esta doação se refere à tomada de Óbidos em 1148, tem que se aceitar a identificação com a actual povoação de A dos Negros, situada a 4 km”.
Outras das explicações dadas para o nome prendem-se com a fixação de uma comunidade do Sul, que teria construído casas com chaminés de tipo mediterrânico, ou a exploração de madeiras para queima, das Matas Reais.
No cadastro da população do reino, efectuado por D. João III em 1527, a Aldeia dos Negros era um pequeno aglomerado com 20 fogos (cerca de 90 habitantes). Em 1757, o número de fogos era já de 122, tendo o povoamento da aldeia sido feito pelos campos adjacentes. Os censos de 2011 registam 1489 residentes na freguesia.
A freguesia de A-dos-Negros estende-se por uma área onde numerosos e pequenos cursos de água, afluentes do Rio Arnóia, deslizam pelos seus vales. É neste rio que foi construída a barragem do Rio Arnóia, que deu origem a uma albufeira cuja maior extensão de água se situa nesta freguesia. Conhecida pelos terrenos férteis, a agricultura assume um papel essencial na economia da freguesia, com especial destaque para os pomares e horticultura.

A freguesia de A-dos-Negros estende-se por uma área onde numerosos e pequenos cursos de água, afluentes do Rio Arnóia, deslizam pelos seus vales.

O investigador e docente João Evangelista refere no seu livro “A-dos-Negros, uma aldeia da Estremadura”, de 1962, que “só a actividade agrícola ocupa os habitantes de A-dos-Negros. Nada de artesanato ou pequena indústria; mesmo o fabrico do carvão está completamente extinto”. Com o passar do tempo, outra actividade económica foi ganhando expressão, a construção civil, mas com a crise no sector imobiliário nos últimos anos esta tem vindo a esbater-se.
Na heráldica consta, ao centro, uma jarra vermelha que simboliza a cerâmica, artesanato e tradicionalidade da freguesia. No entanto, esta arte de trabalhar o barro já não tem expressão nos tempos atuais.


Segredos escondidos

A pequena biblioteca da Sancheira

Na Praceta da Oliveira, na aldeia da Sancheira Grande, existe uma pequena biblioteca. Inaugurada em janeiro de 2019, a Sancha, como é apelidada, é a sexta biblioteca do género em Portugal e a número 77.395 da rede internacional Little Free Library, assentando no princípio “leve um livro, partilhe um livro”. Este projeto de leitura pública foi desenvolvido pelos alunos do 2º ciclo do Complexo Escolar do Alvito, coordenados pela professora Ângela Oliveira e em parceria com a Biblioteca Municipal de Óbidos.
Um barril de 100 litros foi recuperado e transformado para receber a mais pequena biblioteca da Sancheira Grande. Dentro do recipiente de madeira é possível encontrar perto de uma centena de livros, entre policiais, romances, ensaios e infantis, dos mais de mil que já foram doados para o projeto e que se encontram na biblioteca do Complexo Escolar do Alvito.
Está aberta 24 horas por dia durante todo o ano e funciona como um veículo de comunicação e transmissão de conhecimento entre a comunidade.
A rede internacional Little Free Library contempla já perto de 90 países e em Portugal a Sancha é a oitava.