O colar da Ordem honorífica de Torre e Espada com que a vila das Caldas foi condecorada desapareceu e foi necessário pedir uma 2ª via à República
Algures entre o pós-25 de Abril e o novo milénio, é impossível precisar, o colar da Ordem honorífica de Torre e Espada com que a cidade das Caldas foi condecorada, e que representa a maior condecoração da República, desapareceu. Ninguém sabe o que lhe aconteceu. Em 2010 o desaparecimento era denunciado pelos vereadores socialistas na Câmara, Delfim Azevedo e Rui Correia que questionaram sobre “o paradeiro da comenda” atribuída às Caldas.
A então vila das Caldas foi distinguida em 1919 com o Grau Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e com o Colar de Prata e Esmalte. Na base da condecoração esteve um grupo de voluntários que, em 1915, defendeu a República contra o movimento militar de Pimenta de Castro, que pretendia instaurar uma ditadura militar e que ficou conhecido como a Revolta de Santarém. Caldas recebeu esta distinção, no mesmo decreto lei que distingue as cidades do Porto, Coimbra, Santarém, Évora e Bragança e também a vila de Alcobaça. Diz o decreto nº5664 que estas “se tornaram dignas de ser galardoadas pelo heroísmo, civismo e amor que manifestaram em sustentar a integridade das instituições republicanas quando estas correram o perigo de ser subvertidas pela ação proeminente que os monárquicos tinham”.
A investidura solene decorreu no dia 15 de maio de 1921. Conta-nos a manchete do jornal Círculo das Caldas de 21 de maio desse ano que “As insígnias da Torre e Espada são impostas pelo Sr. Ministro da Guerra à bandeira da Câmara Municipal das Caldas da Rainha”, num artigo que explica que o ministro da guerra teria visitado o quartel de Infantaria 5, onde tomou “nota de alguns defeitos que o quartel apresenta e que vai procurar remediar”. Seguiu depois para os Paços do Concelho, onde foi recebido pelo presidente da Câmara, Saul Sério. Conta o jornal que “a bandeira da Câmara é conduzida pelo Sr. Maldonado Freitas até à Praçada República, desfilando diante dela o Regimento de Infantaria 5 e muito povo”.
Quem ainda se recorda de ver esta importante distinção na Câmara das Caldas é o historiador Mário Tavares, que fez parte da comissão instaladora da Câmara no pós-25 de abril e que um dia, numa ida ao sotão do edifício da Câmara, que se localizava então no local onde hoje está instalada a União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, encontrou “uma caixa comprida, cinzenta azulada, muito mal-tratada”. Lá dentro, a importante distinção, que sendo referente à República, pouco valor tinha para o poder autoritário instituído até à Revolução dos Cravos. Mário Tavares entregou então essa distinção aos responsáveis da Câmara. O desaparecimento dá-se depois.
Quase um século depois da atribuição, em 2016, a condecoração foi exposta, mas tratava-se de uma segunda via, igual e com o mesmo valor da original. Mário Lino, na posse dos documentos originais, e a autorização da autarquia, conseguiu junto das ordens honoríficas, que fosse feita esta segunda via. ■