Intervenção de conservação e restauro no templo datado do século XV, que decorre há mais de um ano, deverá estar concluída dentro de dois meses
Construída nos finais do século XV, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo está associada à génese da cidade e é o único exemplar no concelho classificado como património nacional. Desde o início de 2021 está a sofrer obras de intervenção, que deverão estar concluídas em julho. “A obra está ligeiramente atrasada, mas do que temos acompanhado está a ter uma recuperação feliz”, salientou o presidente da Câmara, Vítor Marques.
As obras já estão na fase final, o órgão está a ser montado e na fase exterior será feita uma iluminação cénica, especificou o autarca.
Neste momento o exterior do templo encontra-se coberto por uma estrutura de proteção enquanto decorrem os trabalhos. A intervenção no interior abarcou o azulejar, as cantarias, o retábulo em talha dourada, bem como alvenarias e sistemas de drenagem e sistema elétrico. As peças escultóricas foram retiradas e encontram-se no Museu do Hospital e das Caldas e os azulejos que estavam em risco de queda foram removidos, tratados em atelier e depois recolocados na parede.
Joia preciosa do património
No livro Ontem & Hoje, o historiador Nicolau Borges classifica a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo como a “joia mais preciosa do património cultural do concelho”. Monumento nacional desde 1911 e um “belíssimo exemplar da arquitetura tardo-gótica portuguesa”, leva o investigador a afirmar, sem modéstia, que “somos guardiães de um dos mais belos e paradigmáticos exemplares da arte manuelina portuguesa”.
Considerada uma das obras maiores da ação mecenática da rainha D. Leonor, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo foi edificada a partir de 1485, como parte integrante do conjunto da obra assistencial fundada pela monarca nas Caldas. Nicolau Borges destaca a “singularidade arquitetónica” da igreja salão, com abóbodas, nervuras, mísulas e a torre, juntamente com soluções decorativas, como é o caso da simbólica manuelina, tríptico da Paixão de Cristo, os retábulos, revestimento azulejar seiscentista, a pia baptismal e a decoração naturalista, que a transformam num”verdadeiro tesouro nacional”.
O templo nem sempre teve a forma que apresenta atualmente. Junto à escadaria já existiu a casa paroquial, a casa do tesouro e uma fachada que possibilitava ao acesso direto ao púlpito, mas também ao coro alto, sem que fosse preciso entrar no interior da nave da igreja. A casa do tesouro, juntamente com a dupla parede que possibilitava o acesso ao coro alto e ao púlpito perdurariam, de acordo com o historiador, até ao final da década de 60 do século XX, altura em que a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais os mandou demolir. Esta “limpeza” aproximou o templo da sua versão original e conferiu-lhe a “visão e o despojamento que hoje podemos desfrutar, possibilitando que os elementos decorativos que esconjuram os maus espíritos, nomeadamente as suas fantásticas gárgulas, que pontuam todo o corpo exterior do templo, possam desempenhar as suas funções esconjóricas sem qualquer obstáculo visual”, realça Nicolau Borges.
O acesso ao coro alto, onde se encontra o órgão seiscentista (atualmente alvo também de intervenção) pode agora ser feito apenas por uma estreita escada de ferro, em forma de caracol, muito próxima da porta de ferro que une a nave da igreja ao Hospital Termal.
O adro da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo foi palco, em 1504, da apresentação de uma das mais emblemáticas obras do primeiro grande dramaturgo português, o Auto de São Martinho de Gil Vicente, de quem a Rainha D Leonor era mecenas.
Também no exterior existe uma escultura/fontanário, em meio-relevo figurando jorros de água escalonados, da autoria do escultor José Aurélio. Aquela peça, em forma de coração, foi criada para comemorar o quinto centenário do Hospital Termal. ■