A apresentação da revista “Associação Regional Caldense – 40 anos”, foi também um elogio à coragem de quem partiu para melhorar a vida, mas tem mantido viva a cultura e tradições da terra natal. O desafio coloca-se agora na atratividade dos jovens, descendentes de emigrantes e que permitirão a continuidade do associativismo
Na primeira vez que João Carlos Costa foi aos Estados Unidos pediram-lhe para levar pevides, cavacas e beijinhos, um pedido que se tem repetido ao longo destes 30 anos que tem regressado a terras do Tio Sam e que permite a quem está emigrado matar saudades dos produtos típicos da sua terra natal. A partilha foi feita pelo comunicador, na tarde de 30 de agosto, na cerimónia de apresentação da revista “Associação Regional Caldense – 40 anos”, no auditório da Câmara das Caldas, perante autarcas, dirigentes da Associação Regional Caldense (ARC) e emigrantes. João Carlos Costa, que é também delegado da ARC em Portugal e autor do livro “A 17ª freguesia”, revelou que quase todos os caldenses conseguiram destacar-se junto da comunidade americana e da emigração em geral. “Fui-me apercebendo que estes homens que têm estado na direção da associação conseguiram notabilizar as Caldas da Rainha e Portugal”, disse, lembrando que algumas das personalidades mais importantes do governo americano têm participado nas suas festas.
Referindo-se à revista, feita pela Gazeta das Caldas, e na qual também colaborou, lembrou “como foi difícil” resumir o percurso da associação. Ao longo de 40 páginas é contada a história da associação criada em 1983 por 13 cidadãos caldenses decididos a realizar ações conjuntas, mas também os projetos que possui atualmente, contando ainda com testemunhos dos dirigentes, dos delegados em Portugal e também dos autarcas caldenses e americanos.
Jorge Ventura é o atual presidente da ARC, mas foi também um dos seus fundadores, bem como o autor dos estatutos da associação e do seu emblema, que consiste na junção da águia americana com a bandeira das Caldas da Rainha. Na presença de quatro ex-presidentes da ARC e de vários sócios, Jorge Ventura reconheceu as dificuldades com que a associação se debate para arranjar elementos para os seus órgãos sociais. “Pertenço à segunda geração e ainda podemos contar com a terceira, mas, possivelmente, já não o poderemos fazer com a quarta geração, porque já estão integrados noutras associações e atividades”, disse.
Jorge Ventura deixou ainda um apelo ao executivo caldense para que possa “dignificar” o monumento ao emigrante, existente à entrada da cidade, com identificação sobre o mesmo. “É muito importante que se mantenha o elo de ligação entre a ARC e a autarquia local”, defendeu, lembrando que o município oferece duas bolsas de estudo para lusodescendentes. O intercâmbio poderá passar também pelo apoio na obtenção de estágios para jovens descendentes de emigrantes caldenses.
Também o ex-presidente da Câmara, Fernando Costa, lembrou o monumento, da autoria do escultor Antonino Mendes, de homenagem aos emigrantes, mas também o almoço que anualmente decorre nas tasquinhas. Este surge em inícios da década de 90, organizado pelos presidentes de junta, como forma de retribuição pelo acolhimento na visita aos Estados Unidos, tendo depois passado a câmara a assumir a sua realização. “Sempre que fui à América fui recebido com uma dignidade extraordinária e, na sequência dessa manifestação, a associação e os emigrantes merecem uma retribuição ao mesmo nível”, manifestou, pedindo ao executivo para que, no próximo ano, volte a haver um almoço com os emigrantes e “não um mero lanche, como este ano”.
Num encontro de partilha de história e estórias, João Carlos Costa destacou o papel que os meios de comunicação social têm tido para os emigrantes. Lembrou que nos primeiros anos que foi à América, o relato dos jogos do Caldas chegavam por telefone. “Alguém punha o auscultador do telefone junto do rádio a transmitir o jogo, imaginem o custo da chamada”, disse, para de seguida partilhar um episódio mais recente: “este ano estive na casa de um casal para quem é quase um ritual abrir a caixa do correio e ter lá a Gazeta das Caldas. É como que um presente, disseram eles”, concretizou o comunicador.
Portugalidade no coração
O desafio de emigração e o impacto que tem nas pessoas foi destacado pelo diretor da Gazeta das Caldas, José Luís Almeida Silva, que emigrado em França durante um ano, também vivenciou essa realidade. Recordou o colega de escola – Jorge Ventura-, que em jovem emigrou e como era “na altura surpreendente, para nós, as pessoas abandonarem o seu país para ir para outro”. Hoje, José Luís Almeida Silva considera que a “maioria das pessoas devia de ter uma experiência de emigração, confrontar-se com outras sociedades, com uma lingua diferente e com os problemas da burocracia”, pois considera que, por vezes, são subvalorizadas as dificuldades e as necessidades dos portugueses que vivem no estrangeiro. “A Gazeta das Caldas quando fez esta revista tentou transmitir essa força, querer e vontade que os portugueses que estão lá fora têm com o país”, disse, exemplificando com apoios e visitas que a ARC tem proporcionado ao longo dos anos a diversos caldenses e instituições locais.
Também António Marques destacou a “generosidade” da ARC, partilhando várias histórias que foi presenciando ao longo dos anos. “Quando se está fora do país sente-se mais a portugalidade no coração”, disse, ao passo que João Lourenço, presidente da União de Freguesias de Tornada e Salir do Porto, destacou o empenho com que foram recebidos e mostrada a realidade dos portugueses na América.
Também presente na cerimónia, o vereador Joaquim Beato que participou este ano no aniversário da ARC, nos Estados Unidos, onde esteve com a comunidade caldense e apercebeu-se do “sentir do grande orgulho em ser português e do gosto em receber-nos”.
A integração dos mais jovens
Preocupado com o futuro da associação, pela distância e a dificuldade dos mais jovens em relacionar-se com a sua tradição e história, o vereador do PSD, Daniel Rebelo, deixou um apelo à Câmara e sociedade caldense para “irem em busca destas novas gerações, não permitindo que esta linha e relação se percam no tempo”. A vereadora Conceição Henriques olha para o afastamento gradual dos jovens lusodescendentes de uma forma diferente. Considera que “não é um mau sinal”, mas antes indício do sucesso que a comunidade portuguesa teve nos Estados Unidos, “que não se limitou a ser um sucesso financeiro, foi também um sucesso de plena integração nas primeiras gerações e de total inclusão destas gerações que agora temos”. Também partilha da opinião que deve ser feito um esforço para continuar a cativar estas gerações e, ao mesmo tempo, “dar os parabéns a esta comunidade que conseguiu fazer com que os seus filhos, netos e bisnetos sejam hoje cidadãos americanos de pleno direito e o facto de serem ou não lusodescendentes não tem um efeito direto no seu sucesso”.
Conceição Henriques lembrou ainda as “remessas” de dinheiro que os emigrantes continuam a mandar para Portugal e que é significativo para a sua economia.
Também o presidente da Câmara, Vítor Marques, acredita no futuro do associativismo, ainda que a realidade seja diferente da do passado. “Devemos continuar a fomentar as ligações com as nossas comunidades, para que possam vir a Portugal fazer as suas férias, investimentos e terem o país sempre no coração”, disse, deixando também a disponibilidade, por parte do município, em ajudar a potenciar as oportunidades para jovens lusodescendentes fazerem estágios em Portugal. ■